Órbitas em Espaço Tempo Altamente Curvos


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Introdução

Os gráficos acima mostram, de tres perspectivas diferentes, a órbita de uma partícula teste de baixa massa, representada por um círculo vermelho, em torno de um buraco-negro não rotante (representado por um círculo cinza no painel da direita), onde o raio do círculo representa o raio gravitacional, ou horizonte de eventos. As leis de Kepler do movimento planetário, baseadas na teoria da gravitação de Newton, afirmam que a partícula teste em torno de um objeto massivo descreve uma cônica, uma elipse se a órbita for períodica, com o objeto massivo no foco. Mas se o campo gravitacional for forte, como no caso de objetos colapsados como estrelas de nêutrons e buracos negros, a teoria de Newton não é suficiente, e os cálculos precisam ser realizados com a Teoria da Relatividade Geral de Einstein.

Na gravitação de Newton, as órbitas periódicas são sempre elipses. Quanto maior for a massa do corpo massivo, mais próxima será a órbita, e maior a velocidade da partícula, aumentando sem limites de modo que a energia cinética compense a energia gravitacional. Para um buraco negro, a teoria de Newton prediz uma velocidade orbital acima da velocidade da luz, mas na Relatividade de Einstein nenhum corpo com massa pode atingir a velocidade da luz, muito menos ultrapassá-la. A Relatividade Geral prediz órbitas dramaticamente diferentes das elipses ou cônicas das leis de Kepler. Esta página permite a exploração destas órbitas.

O gráfico da órbita

O painel da direita mostra a partícula teste orbitando um buraco negro, visto perpendicularmente ao plano da órbita. A órbita é desenhada com uma linha verde. Depois de um grande número de órbitas, o gráfico torna-se complexo; clique com o mouse em qualquer posição do painel da direita para apagar o gráfico e recomeçar. Quando a partícula teste alcançar sua distância máxima ao buraco negro, uma linha amarela será desenhada a partir do centro do buraco negro até este ponto, o apoastro da órbita. Na gravidade newtoniana, o apoastro permanece fixo no espaço. Os efeitos da Relatividade Geral causam a precessão desta linha. Você pode ver esta precessão pelo deslocamento da linha amarela. A precessão pode ser maior que 360°; a linha amarela mostra a precessão módulo uma órbita.

O Potencial Gravitational Efetivo

Os painéis à esquerda mostram a órbita em duas formas mais abstratas. O gráfico do Potencial Efetivo no topo, mostra a posição da massa teste na curva de energia gravitacional enquanto ela orbita. O pico no lado esquerdo da curva existe apenas na Relatividade Geral - na gravitação newtoniana a curva sobe sem limites enquanto o raio decresce, aproximando infinito para raio=zero. Na teoria de Einstein, a impossibilidade da partícula atingir a velocidade da luz cria o buraco no potencial, próximo ao buraco negro. Quando a partícula se aproxima deste pico, caindo de raios maiores com velocidades cada vez maiores, ela permanecerá próxima deste pico de energia por um tempo cada vez maior, enquanto a movimento angular resultará em precessão cada vez maior. Se a partícula passar desde pico de energia e continuar na direção de raios menores, para a esquerda, ela cairá no buraco negro e será capturada.

O Poço Gravitacional

O espaço-tempo em torno de um corpo gravitacional não magnético e sem rotação é descrito pela geometria de Schwarzschild, em que o espaço tempo é distorcido (curvado) pela presença da massa, criando um poço gravitacional que se estende até a superfície do corpo, ou no caso de um buraco negro, até o horizonte de eventos. O poço gravitacional tem a forma de um parabolóide quadridimensional em revolução, simétrico em relação à massa central. O gráfico inferior à esquerda mostra um secção bidimensional do poço gravitacional. Como no gráfico superior, o lado esquerdo representa o centro do buraco negro e a distância aumenta para a direita, Note que a posição da partícula teste se move em sincronia nos dois gráficos, com a mudança do raio da órbita no painel da direita.

O poço gravitacional de um buraco negro de Schwarzschild tem uma garganta em um raio determinado somente pela sua massa, o horizonte de eventos. Qualquer matéria ou energia que cruze este horizonte é capturada. A garganta é o ponto mais à esquerda do gráfico do poço gravitacional, onde a inclinação da geometria parabolóide torna-se infinita (vertical). Se a partícula tiver momentum angular suficiente, ela pode se aproximar do horizonte de eventos, assumindo que seja pequena o sufiente para que as forças de maré não a quebrem, mas nunca poderá cruzar o horizonte de eventos e retornar.

Mãos na massa

Clicando sobre as várias janelas e alterando os valores nos controles, você pode explorar diferentes cenários. Para pausar uma simulação, aperte o botão Pause à direita; pressione-o novamente para retornar à simulação. Clique em qualquer parte do gráfico orbital à direita para apagar o desenho da órbita e marca de apoastro. Você pode relançar a partícula teste a qualquer distância do buraco negro (com o mesmo momentum angular), clicando na distância desejada nos gráficos de Potencial Efetivo ou Poço Gravitacional. A linha verde no gráfico de Potencial Efetivo indica a energia mínima para a qual existe uma órbita circular, para dado momentum angular.

O momentum angular é especificado na caixa à esquerda, em termos do momentum angular por massa unitária do buraco negro, em unidades geométricas-- explicadas abaixo. É importante notar que, para as órbitas dos planetas no Sistema Solar, este número é enorme; somente nos campos gravitacionais fortes este número aproxima-se de pequenos valores. Se o momentum angular é menor que o valor crítico (2 × sqrt(3), cerca de 3,464 para um buraco negro com massa=1 nestas unidades), nenhuma óribita estável existe; a partícula não tem momentum angular suficiente para evitar a queda no buraco negro. Quando você entra com um valor menor do que este, a garganta na curva de energia e a linha marcando a órbita circular estável desaparecem. Qualquer que seja a distância de lançamento da partícula, ela cairá no buraco negro.

A caixa Mass permite que você mude a massa do buraco negro, aumentando o raio do seu horizonte de eventos. Como a forma da órbita é determinada pela razão do momentum angular pela massa, é equivalente manter a massa como 1 e mudar o momentum angular. Você pode mudar a escala de todos os painéis alterando o valor do raio máximo; este valor torna-se o ponto mais a direita nos gráficos de Potencial Efetivo e Poço Gravitacional, e a distância entre o centro do buraco negro e a borda do gráfico da órbita. quando você muda o mometum angular ou a massa, a escala muda automaticamente para mostrar a órbita estável, se ela existe.

Kepler, Newton e Depois

No início século XVII, Johannes Kepler publicou suas tres leis do movimento planetário:

As leis de Kepler foram fundamentais para Newton formular a lei da gravitação universal em 1687.

Enquanto as leis de Kepler se aplicam somente à orbita dos corpos em volta do Sol, ou dos satélites em torno dos planetas, a teoria de Newton permite o cálculo do efeito gravitacional e o movimento de qualquer corpo, em qualquer lugar, e as observações concordavam perfeitamente com a teoria, até que após extensas observações e cálculos exaustivos, o astrônomo Simon Newcomb concluíu em 1898 que a órbita de Mercúrio estava precessionando 43 segundos de arco por século. Esta pequena discrepância foi confirmada posteriormente. Por quase 20 anos, a precessão da órbita de Mercúrio, ou o "avanço do periélio", permaneceu uma das anomalias que demandavam explicação.

Em 1915, a Teoria da Relatividade Geral de Albert Einstein estendeu a teoria da gravitação de Newton, explicando o avanço do periélio de Mercúrio. Esta pequena discrepância na órbita de Mercúrio foi a primeira evidência que estava acima da teoria de Newton, o primeiro passo da estrada que levaria à compreensão dos buracos negros e ondas gravitacionais.

Unidades Geométricas

A força da gravidade é tão pequena comparada com a força eletrostática que une os objetos em escala humana, e a velocidade da luz tão grande comparada com as velocidades que estamos acostumados, que calcular os efeitos da relatividade geral, que envolve tanto a força gravitacional quanto a velocidade da luz, usando as unidades convencionais de metros, quilogramas e segundos, normalmente resultam em quantidades tão pequenas ou tão grandes que torna-se difícil entende-las.

Se estamos interessados em domínios em que os efeitos relativísticos são substanciais, é mais adequado calculá-los em unidades apropriadas ao problema. Um escolha conveniente é a de unidades geométricas, obtida colocando a constante gravitational de Newton G, a velocidade da luz c, e a constante de Boltzmann k, iguais a 1. Podemos expressar qualquer das seguintes unidades como um comprimento em centímetros, multiplicando pelos seguintes fatores de conversão.

Quantidade Unidade cm Equivalentes
Tempo segundo 2,997930×1010 cm/seg
Massa grama 0,7425×10-28 cm/g
Energia erg 0,826×10-49 cm/erg
Carga elétrica e 1,381×10-28 cm/e
Temperatura Kelvin 1,140×10-65 cm/K

Os coeficientes enormes mostram que estas unidades estão muito distantes da nossa experiência diária.

O Potencial Gravitacional Efetivo

O potencial gravitacional efetivo para uma partícula teste orbitando na geometria de Schwarzschild é:

V²(L,r)=1-2M/r)(1+L²/r²)

onde L~ é o momentum angular por unidade de massa de respouso, expresso em unidades geométricas, M é a massa do corpo gravitacional, e r é a distância entre a partícula teste e o centro do corpo.

A distância de uma partícula do centro de atração envolve o tempo próprio tau (tempo medido por um relógio movendo-se com a partícula) de acordo com:

(dr/dTAU)² + V(L,r) = E²

onde E~ é a energia potencial da partícula teste, no infinito, por unidade de massa de repouso.

O movimento angular em torno do centro de atração é dado por:

dPHI/dTAU = L/r²

enquanto o tempo medido por um observador distante é dado por:

dt/dTAU = E / (1 - 2M/r)

e diminui quando a distância gravitacional se aproxima do horizonte de eventos. A uma distância gravitacional de 2M, o tempo medido a uma grande distância para completamente, de modo que a partícula nunca parece alcançar o horizonte de eventos. O tempo próprio, na partícula, continua a avançar; um observador na partícula passa pelo horizonte de eventos e continua em direção à singularidade central (a não ser pela força de maré que o estraçalha).

Órbitas Circulares

Órbitas circulares são possíveis no máximo e no mínimo do potencial efetivo. Órbitas no mínimo são estáveis, pois um pequeno deslocamento aumenta a energia e cria uma força restauradora na direção oposta. Órbitas no máximo são instáveis; o menor deslocamente causa ou a queda ao buraco negro ou uma órbita altamente elíptica em torno dele.

Para encontrar os raios das órbitas circulates possíveis, diferenciamos o potencial gravitacional efetivo com relação à distância r:

DV²/dr = (2 (3L²M - L²r + Mr²)) / (r^4)

Os mínimos e máximos de uma função são os pontos em que a derivada é nula, de modo que um pouco de álgebra nos dá os raios das órbitas circulares:

(L(L ± sqrt(L² - 12M²)) / 2M

A solução maior é o raio da órbita circular estável, enquanto a de menor valor é o da solução instável no máximo. Para um buraco negro, o raio será fora do raio gravitacional 2M, enquanto para qualquer outro objeto, este raio será menor que o diâmetro do objeto, indicando que tal órbita não existe. Se o momentum angular L² é menor que 12M², nenhuma órbita estável existe; o objeto colidirá com a superfície ou, no caso de um buraco negro, atravessará o horizonte de eventos e será engolido pelo buraco negro.

Referências

Gallmeier, Jonathan, Mark Loewe, and Donald W. Olson. "Precession and the Pulsar." Sky & Telescope (September 1995): 86-88.
Um programa em BASIC que grafica as órbitas na geometria de Schwarzschild. Sky & Telescope .

Misner, Charles W., Kip S. Thorne, and John Archibald Wheeler. Gravitation . San Francisco: W. H. Freeman, 1973. ISBN 0-7167-0334-3.
O capítulo 25 descreve todos os aspectos da geometria de Schwarzschild.

Wheeler, John Archibald. A Journey into Gravity and Spacetime . New York: W. H. Freeman, 1990. ISBN 0-7167-5016-3.

Código fonte do applet


by John Walker