O presente trabalho pretende ser um resumo dos dados colhidos e analisados pela turma, juntamente com a professora, da disciplina de Astronomia de Posição, do Curso de Bacharelado em Astrofísica, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, no primeiro semestre do ano de 2010. A observação ocorreu no dia 21 de junho de 2010 no Parque Moinhos de Vento, em Porto Alegre. Procura também determinar, a partir dos dados a localização, no globo terrestre, através das coordenadas latitude e longitude, o ponto de observação.
As medidas propositalmente tomadas com o gnômon foram: a Hora Legal, o comprimento horizontal da sombra, e a distância mínima da reta Norte-Sul. Os pontos eram marcados com um parafuso cravado no solo, sendo posteriormente afixado um cordão
Figura 1 – Esquema ilustrativo das medidas tomadas com o gnômon, juntamente com a medida da Hora Legal.
de lã, materializando a trajetória dos raios solares naquele momento. Assim, num dado momento, geralmente espaçado em 15 minutos, se determinava, no solo o parafuso, etiquetando-o com o horário legal. Mais tarde, com a determinação da sombra mínima, e conseqüentemente, da sombra do meridiano, se pode determinar a distância mínima em relação à sombra meridiana.
Os dados obtidos com um gnômon, de altura 1,02 metros, aproximado com a vertical do lugar, durante o período de tempo em que os raios solares incidiram diretamente sobre o gnômon, livre dos elementos urbanos (árvores, prédios) foram os seguintes:
Tabela 1: Os dados obtidos com o gnômon e os elementos deduzidos
Tempo |
Tempo |
Compr. Horiz. |
Dist. Meridiana y |
Distância x |
Compr. total da |
|
Hora |
Minutos |
(h) |
Sombra (cm) |
(cm) |
(cm) |
sombra (cm) |
9 |
30 |
9,50 |
245,0 |
-166,0 |
180,2 |
265,38 |
9 |
48 |
9,80 |
225,0 |
-142,0 |
174,5 |
247,04 |
10 |
0 |
10,00 |
209,0 |
-124,0 |
168,2 |
232,56 |
10 |
15 |
10,25 |
194,0 |
-106,0 |
162,5 |
219,18 |
10 |
31 |
10,52 |
183,0 |
-91,0 |
158,8 |
209,51 |
11 |
15 |
11,25 |
158,0 |
-62,0 |
145,3 |
188,06 |
11 |
30 |
11,50 |
153,0 |
-52,0 |
143,9 |
183,88 |
11 |
45 |
11,75 |
148,0 |
-39,0 |
142,8 |
179,74 |
12 |
1 |
12,02 |
144,5 |
-27,0 |
142,0 |
176,87 |
12 |
15 |
12,25 |
143,0 |
-15,5 |
142,2 |
175,65 |
12 |
25 |
12,42 |
144,0 |
0,0 |
144,0 |
176,47 |
12 |
45 |
12,75 |
145,0 |
15,0 |
144,2 |
177,28 |
13 |
0 |
13,00 |
147,5 |
26,0 |
145,2 |
179,33 |
13 |
15 |
13,25 |
151,0 |
37,0 |
146,4 |
182,22 |
13 |
30 |
13,50 |
156,0 |
48,0 |
148,4 |
186,39 |
13 |
45 |
13,75 |
164,0 |
62,0 |
151,8 |
193,13 |
14 |
0 |
14,00 |
171,0 |
74,0 |
154,2 |
199,11 |
14 |
30 |
14,50 |
197,0 |
105,0 |
166,7 |
221,84 |
14 |
45 |
14,75 |
209,0 |
122,0 |
169,7 |
232,56 |
15 |
0 |
15,00 |
229,0 |
146,0 |
176,4 |
250,69 |
Para uma melhor compreensão dos dados, a distância meridiana foi tomada como negativa antes da passagem meridiana e como positiva depois a tomada meridiana.
Plotando os dados da tabela acima (y em função de x), teremos uma reprodução da sombra da extremidade do gnômon no solo, o mais fielmente possível, como observad.:
Figura 2 – O gráfico mostra uma reprodução das medidas (x é a distância Norte-Sul e y é a distância Leste-Oeste)
Se fizermos um gráfico do comprimento total da sombra em função do tempo, teremos o seguinte gráfico:
Figura 3 – O gráfico mostra o comprimento total da sombra do gnômon em relação ao tempo e a equação de melhor ajuste (r^2=0,9956) aos dados.
Figura 4 – O gráfico mostra o comprimento total da sombra do gnômon em relação ao tempo para os valores entre 11h e 14h, juntamente com a curva ajustada (parábola).
Se tomarmos os dados apenas para os instantes entre as 11h e as 14h, teremos uma aproximação o vértice da hipérbole (a figura real) com a parábola. Este arredondamento foi aplicado pois a precisão de nossas medidas era da ordem de centímetros. Como a função possui um bom ajuste (R^2=0,997), podemos, para os instantes como melhor precisão, utilizá-la para determinar o instante onde a sombra é menor. Para esta função, o instante de melhor sombra é onde a derivada da função é zero:
dy/dx = 0 = 228,24/(2x9,199) -> x = 12,4143h = 12h24min52s.
Tomando como referência as informações do local dadas pelo software Google Earth para o local (latitude:-30°01’33” e longitude: 51°12’03”O, mais precisas que a do Stellarium), teríamos a culminação superior do Sol (H(sol)=0h) na Hora Legal mais 6°12’03” = 12h 24min 48s. Conseguimos, desta forma, um erro de 4s, que corresponde à distância, no globo terrestre, de 120m, com fins de localização. Certamente não podemos atribuir o valor da precisão ao método utilizado.
A determinação da latitude pode ser feita levando em conta a declinação do Sol e a sombra mínima. Segundo a figura abaixo, a latitude somada com a declinação terá como cosseno a relação h/comprimento total da sombra:
Figura 5 – Esquema demonstrando a vista lateral da projeção da sombra do gnômon, quando da passagem meridiana do Sol
Podemos, para se ter idéia da latitude do lugar, tomarmos o menor valor tabelado do comprimento total da sombra do gnômon. O ângulo-soma da latitude com a declinação do Sol é dado como o arco cosseno da altura (h) dividido pelo comprimento total da sombra: 102/175,65. Este arco é de 54,5°. Temos uma latitude de 31,04° para o local.
Para uma medida mais acurada, devemos calcular o valor da sombra pela função do último gráfico:
y (m) = 9,199x^2
- 228,24x + 1591,6.
Como x=t=12,4143, teremos y= 175,86cm
Este valor nos fornece para a latitude do lugar um valor de arccos (102/175,86) -23,455 = 31°05’38”.
O valor tomado pelo software Google Earth é 30°1’33”. O erro é de 1°4’5”, ou de aproximadamente 120km sobre a superfície terrestre em latitude.
Vale comentar que o resultado último que tomamos teve como base erros instrumentais de precisão (verticalidade do gnômon, tomadas de medidas com pouca precisão, horizontalidade e planicidade do terreno, etc.). Se estimarmos a precisão da verticalidade do gnômon em +-2cm, igual à precisão da medida, a planicidade e horizontalidade do terreno em +-1%=2,43cm, teremos uma medida da sombra máxima entre 175,86 +-6, e um valor da latitude entre:
arccos (102/169,86) - 23,455 e arccos (102/181,86) – 23,455 = 29,6397 e 32,4289.
A figura abaixo representa uma visão superior da esfera celeste, com o deslocamento do Sol e, por conseqüência, das sombras, durante três momentos: o solstício de inverno, o equinócio de outono e o solstício de verão para o Hemisfério Sul. O movimento solar está representado por uma linha cheia. O deslocamento das sombras ocorre na linha pontilhada. O gnômon, ao centro, aparece como um ponto, tendo em vista as suas dimensões muito menores que as demais dimensões.
As figuras são na verdade hipérboles, onde varia a sua excentricidade. O ângulo entre as assíntotas será 180°-(2 x d(sol)). Quando a declinação do Sol for zero, a excentricidade será infinita, caracterizando uma reta (equinócio). Quando o Sol passa para o outro Hemisfério, a hipérbole das sombras também passa o outro lado (não para o outro hemisfério) da projeção da sombra quando do equinócio.
Figura 6 – Ilustração sobre a trajetória do Sol ao longo do ano e da projeção da sombra de um gnômon.
Após a análise dos dados e das fontes de erros, fazemos a sugestão de tentarmos, para uma melhor localização dos dados, das seguintes ações:
- Melhor localização do gnômon, livre das sombras de árvores e prédios;
- Identificação da planicidade do terreno com um nível de bolha, ou escolha de um local pavimentado, nivelado, tal como, por exemplo, um piso de cimento reguado;
- Verticalidade aferida do gnômon, com prumo;
Uma grande fonte de erros tem sido a visualização da projeção da sombra do orifício do gnômon, de difícil resolução. Uma sugestão seria a de se colocar um anteparo, para melhor visualização da iluminação que passa pelo anteparo. Proporcionaria, pelo menos, um melhor contraste com o solo.