O céu contém uma grande diversidade de objetos
astronômicos que a olho nu são invisíveis, mas que
com um binóculo ou telescópio de pequeno porte se tornam
perfeitamente acessíveis. Exemplos são os aglomerados
estelares, que contêm centenas e às vezes milhares de
estrelas. Apenas com nossos olhos, somente conseguimos
identificá-los como pequenas manchas no céu noturno.
Mesmo assim isso vale apenas para os aglomerados maiores e mais
próximos do nosso Sistema Solar e quando observados em uma noite
escura, sem Lua e com pouca iluminação à
nossa volta. Mas quando observamos os aglomerados com um
binóculo, eles se desdobram em inúmeras estrelas,
formando uma bela visão; em vários casos isso é
verdade mesmo num centro urbano, como Porto Alegre.
Imagem de um aglomerado aberto obtida com um telescópio semelhante aos
que temos no Departamento de Astronomia da UFRGS
Além dos aglomerados estelares, compostos por muitas estrelas,
existem sistemas mais simples, como estrelas duplas ou múltiplas.
A olho nu vemos apenas um ponto de luz. Ao apontarmos para este objeto um
telescópio de 6 cm de abertura, ou mesmo um binóculo com
5cm, vemos que a estrela se desdobra em duas ou mais. Exemplo
interessante de sistema assim é Alfa Centauri, a 4a "estrela"
mais brilhante do céu, que fica próxima à
constelação do Cruzeiro do Sul e que é composta na
verdade por 3 estrelas, duas das quais facilmente visíveis com
um binóculo de 7x50 (o primeiro número refere-se à
amplificação e o segundo à abertura da sua objetiva,
em mm). A estrela Alfa do Cruzeiro do Sul
também é dupla, mas exige um telescópio de uns
12cm para que possamos separar as estrelas do par. Os anéis de
Saturno, os 4 maiores satélites de Júpiter, as fases de
Vênus e a superfície de Marte são outros exemplos
de observações que exigem auxílio de um
binóculo ou pequeno telescópio e que geralmente causam
grande excitação nas pessoas. Finalmente, não
dá para deixar de mencionar a Via-Láctea, que é a
faixa no céu onde se concentram as estrelas da nossa
Galáxia. A olho nu vemos apenas uma "névoa" a atravessar
o céu, mesmo assim precisamos nos afastar das luzes artificiais
para ver isso. Mas aquela "névoa" se desdobra em milhares de
estrelas ao ser "percorrida" com um binóculo (7x50, 10x50) ou um
telescópio de 6cm ou mais!
Um binóculo de 10x50 é um excelente
instrumento para observar a Via-Látea.
Mas "nem tudo são flores"
na Astronomia amadora. Há duas dificuldades básicas a
serem superadas por quem deseja desfrutar do prazer da
observação do céu noturno. A primeira é
saber para que direção olhar. Ou seja, como identificar a
posição no céu dos planetas, das estrelas duplas
ou dos aglomerados acima mencionados? A resposta está em
aprender a usar as cartas celestes, que são como mapas, que
mostram a posição desse objetos. Saber associar aquilo
que se vê nos mapas celestes ao que se vê no céu
exige prática e
paciência, mas vale à pena no final. Temos que ter em
mente que o céu visível para um observador depende da
época do ano, da hora da noite e da sua latitude na
superfície da Terra. Há várias cartas celestes
disponíveis, mas atualmente há também programas de
computador que simulam o céu de uma dada data, hora
e local. Exemplos: Cybersky (www.cybersky.com), StarCalc
(www.m31.spb.ru/StarCalc/) e Xephem
(www.clearskyinstitute.com/xephem/xephem.html).
Além da dificuldade inicial de reconhecimento do céu e de
onde estão seus tesouros, há ainda um risco de
frustração com as imagens obtidas pela
observação. Isso porque as imagens obtidas com a
observação do céu através de um
telescópio ou binóculo não têm a mesma
qualidade das imagens publicadas em revistas ou jornais, ou em
sítios internet. As fotos publicadas
são obtidas com telescópios de até 10 metros
de diâmetro,
custando centenas de milhões de dólares, ou pelo
telescópio
espacial Hubble, um telescópio de 2,5 metros de
diâmetro em órbita da Terra, que custou mais de
1,5 bilhão de dólares,
e que desde 1993, quando sua ótica foi corrigida, vem produzindo
imagens espetaculares desde planetas do sistema solar até
as galáxias mais longínquas até hoje observadas.
Em especial, objetos muito tênues, como galáxias e
nebulosas, exigem telescópios maiores do que os mais comumente
acessíveis aos amadores para poderem ser apenas detetados. Mas
tendo isso em mente e uma noite escura e sem nuvens, o uso de um
binóculo ou telescópio pequeno podem ser fonte de grande
entretenimento.