A astronomia esférica, ou astronomia de posição, diz respeito fundamentalmente às direções na qual os astros são vistos, sem se preocupar com sua distância. É conveniente expressar essas direções em termos das posições sobre a superfície de uma esfera - a Esfera Celeste. Essas posições são medidas unicamente em ângulos. Dessa forma, o raio da esfera, que é totalmente arbitrário, não entra nas equações.
Se um plano passa pelo centro de uma esfera, ele a dividirá em dois hemisférios idênticos, ao longo de um grande círculo, ou círculo máximo. Qualquer plano que corta a esfera sem passar pelo seu centro a intercepta em um círculo menor ou pequeno.
Quando dois círculos máximos se interceptam em um ponto, formam entre si um ângulo esférico. A medida de um ângulo esférico é igual à medida do ângulo plano entre as tangentes dos dois arcos que o formam.
Um ângulo esférico também é medido pelo arco esférico correspondente,
que é o arco de um círculo máximo
contido entre os dois lados do ângulo esférico e distantes 90° de seu
vértice. A medida de um arco esférico, por sua vez, é igual ao ângulo
que ele subentende no centro da circunferência.
Triângulos esféricos:
Um triângulo esférico não é qualquer figura de três lados sobre a esfera; seus lados devem ser arcos de grandes círculos, ou seja, arcos esféricos.
tan c = |
sen c cos c |
sec c = | 1 cos c |
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Propriedades dos triângulos esféricos
1) A soma dos ângulos de um triângulo esférico é sempre maior que 180° e menor do que 540° e não é constante, dependendo do triângulo. De fato, o excesso a 180° é diretamente proporcional à área do triângulo.
2) Os lados de um triângulo esférico são maiores do que zero e menores do que 180°.
3) Os lados maiores estão opostos aos ângulos maiores no triângulo.
4) A soma de dois lados do triângulo é sempre maior do que o terceiro lado, e a diferença é sempre menor.
5) Cada um dos lados do triângulo é menor do que 180°, e isso se aplica também aos ângulos.
Solução de triângulos esféricos:
Ao contrário da trigonometria plana, não é suficiente conhecer dois ângulos para resolver o triângulo esférico. É sempre necessário conhecer no mínimo três elementos: ou três ângulos, ou três lados, ou dois lados e um ângulo, ou um ângulo e dois lados.
As fórmulas principais para a solução dos triângulos esféricos são:
Denomina-se triângulo de posição o triângulo situado na esfera celeste que tem por vértices: o astro, o polo elevado e o zênite.
Os lados e ângulos do triângulo de posição são:
O triângulo de posição é usado para derivar as coordenadas do astro quando conhecida a posição geográfica do lugar, ou determinar as coordenadas geográficas do lugar quando conhecidas as coordenadas do astro. Também permite fazer as transformações de um sistemas de coordenada para outro (determinar coordenadas do sistema equatorial a partir das do sistema horizontal e vice-versa).
Usando a fórmula dos cossenos no triângulo de posição podemos tirar duas relações entre os sistemas de coordenadas:
Dedução para δ e φ positivos (caso mais geral do hemisfério norte):
cos z = cos (90° - φ) cos (90° - δ) + sen (90° - φ) sen (90° - δ) cos H = sen δ sen φ + cos δ cos φ cos H
sen δ = sen φ cos z + cos φsen z cos A
Invertendo essas relações para isolar H e A temos:
cos H = cos z sec φ sec δ - tan φ tan δ
cos A = sen δ cosec z sec φ - tan φ cot z
A fórmula dos senos nos dá:
- cos δ / sen A = sen z / sen H
Dedução para δ e φ negativos (caso mais geral do hemisfério sul):
cos z = cos (90° - |φ|) cos (90° - |δ|) + sen (90° - |φ|) sen (90° - |δ|) cos H
cos (90° - |δ|)= cos z cos (90° - |φ|) + sen z sen (90° - |δ|) cos (A - 180°)
Lembrando que:
cos (90° - |φ|) = sen |φ|= - senφ
cos (90° - |δ|)= sen |δ| = -sen δ
sen (90° - |φ|) = cos |φ| = cos φ
cos (A - 180) = - cos A
As equações acima ficam: cos z = sen δ sen φ + cos δ cos φ cos H
e
sen δ = sen φ cos z + cos φ sen z cos A
cos A = (sen δ - sen φ cos z)/(cos φ sen z)
que são idênticas às deduzidas para o hemisfério norte.
Analogamente podemos mostrar que essas fórmulas são válidas para qualquer latitude e declinação.
cos H = cos 90° sec φ sec δ - tan φ tan δ
Como cos 90° = 0, no nascer e no ocaso a fórmula se reduz a
cos H = - tan φ tan δ
Com esta fórmula podemos calcular, por exemplo, quanto tempo o Sol permanece acima do horizonte em um certo lugar e em uma certa data do ano, pois para qualquer astro o tempo de permanência acima do horizonte será 2 vezes o ângulo horário desse astro no momento do nascer ou ocaso.
O azimute do astro no nascer (ou ocaso) também pode ser calculado facilmente usando a fórmula em que temos o azimute em função de δ, z e φ:
cos A = sen δ cosec z sec φ - tan φ cot z
Como cosec 90° = 1 e cot 90° = 0, no nascer e no ocaso a fórmula se reduz a
cos A = sen δ sec φ
Exemplo:
Quanto tempo permanecerá o Sol acima do horizonte em Porto Alegre, cuja latitude é 30oS, no dia do Solstício de verão no hemisfério sul, em que a declinação do Sol é de -23o 27'?
Usando a fórmula acima,
cos H = -tan (-30°) tan (-23° 27′) = -0,2504
→
H = 104,5 °
O tempo total que o Sol fica acima do horizonte será 2 H = 209° ≈ 14 h.
Especificamente, em Porto Alegre, o Sol estará acima do horizonte aproximadamente 14 h e 10 min em 21 de dezembro, e 10 h e 10 min em 21 de junho. Note que a diferença de 10 minutos é devido á definição de que o dia começa com a borda superior do Sol no horizonte, e o dia termina com a borda superior do Sol no horizonte, e não o centro do disco solar, como assumido na fórmula acima.
O azimute do Sol no nascer (ou ocaso) tambéa, nessa data, será:
Logo A = 117°(nascer) ou 243° (ocaso) o que significa que nasce entre o leste e o sul e se põe entre o oeste e o sul.
Seja ε = 23,5° a obliquidade da eclíptica, e seja Δλ a variação da longitude eclíptica de uma estrela, pela mudança de posição do ponto Áries de γ para γ1, devido à precessão do polo de P para P1.
A variação em declinação será:
A separação angular entre duas estrelas é a distância medida ao longo do círculo máximo passando pelas duas estrelas. Sejam A e B as duas estrelas, e sejam αA, δA, αB e δB as suas coordenadas, ascenção reta e declinação.
Podemos construir um triângulo esférico em que um dos lados seja a separação angular entre elas e os outros dois lados sejam as suas distâncias polares, ou seja, os arcos ao longo dos meridianos das estrelas desde o polo (P) até as estrelas.
Pela fórmula dos cossenos temos:
O eixo maior da Cruz é formado pelas estrelas Gacrux (; ) e Acrux (; )
Chamando D o tamanho do eixo maior da Cruz, e aplicando a equação acima, temos:
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