O destino final das estrelas, depois de consumir todo o seu combustível nuclear, depende de duas coisas: primeiro, se a estrela é simples ou faz parte de um sistema binário ou múltiplo, e 60% das estrelas faz; e segundo, de sua massa inicial. Se a estrela faz parte de um sistema binário ou múltiplo, sua evolução depende tanto da massa quanto da separação entre as estrelas, que determinará quando na evolução as estrelas interagirão.
Quando as estrelas transformam o hélio nuclear em carbono, elas saem do ramo das gigantes e passam para o ramo horizontal. Quando o hélio nuclear foi todo transformado em carbono, e parte em oxigênio, as estrelas entram no ramo das supergigantes, chamado também de Ramo Assintótico das Gigantes (AGB).
Para as estrelas ainda mais massivas, a fase de gigante e supergigante são contíguas, sem nenhum evento que marque o início da queima de hélio, do carbono, do oxigênio, do neônio, do magnésio, do silício, e assim sucessivamente, até transformar o núcleo em ferro. Quando o núcleo chega a ferro, não há mais como extrair energia através de reações de fusão nuclear, e a estrela colapsa, ejetando a maior parte de sua massa como supernova. Mas este tipo de supernova, chamado de Supernova tipo II, ejeta menos de 0,1 MSol em Fe, já que o Fe nuclear se fotodesintegra. Se não houver disrupção total, o que resta será uma estrela de nêutrons ou um buraco negro.
Se a estrela iniciar sua vida com massa entre 25 e 100 MSol, após a fase de supernova restará um buraco negro, com massa da ordem de 6 MSol, e raio do horizonte de 18 km. O raio do horizonte, ou raio de Schwarzschild [Karl Schwarzschild (1873-1916)], é a distância ao buraco negro dentro da qual nem a luz escapa: = . Para algumas estrelas massivas, os modelos de deflagração da explosão de supernova prevêem dispersão total da matéria.
A supernova
super-brilhante 2006gy
foi causada pelo colapso de uma estrela massiva.
Se a supernova fosse devido ao colapso de uma anã-branca, ela deveria ter sido 1000× mais
brilhante em raio-X do que detectado pelo Chandra.
Na imagem no ótico à esquerda, a fonte mais fraca é o núcleo
da
galáxia S0/Sa NGC 1260,
a 238 milhões de anos-luz de nós.
No raio-X, as duas fontes são parecidas.
Cada imagem tem 2,5 segundos de arco.
A energia emitida, 1×1051 ergs, corresponde a 22 MSol de 56Ni.
Massa Inicial | Objeto Compacto | Massa Final |
---|---|---|
até 10 MSol | Anã Branca | Menor que 1,4 MSol |
10 a 25 MSol | Estrela de Nêutrons | 1,4 MSol |
acima de 25 MSol | Buraco Negro | 5 a 13 MSol |
A vida do Sol na seqüência principal está estimada em 10 a 11 bilhões de anos. Uma estrela de 0,1 massas solares levará 3 trilhões de anos para sair da seqüência principal. Quando as estrelas consomem o hidrogênio no núcleo, que corresponde a aproximadamente 10% da sua massa total (50 000 km no Sol), elas saem da seqüência principal.
Como a massa do Sol é 340 mil vezes a massa da Terra, quando ele chegar a fase de anã branca, com raio próximo ao raio da Terra, sua densidade será de várias toneladas por centímetro cúbico. Podemos comparar com a densidade dos elementos mais densos na Terra, como a platina, com 21 g/cm3, o ósmio e o irídio com 22,6 g/cm3. O princípio da incerteza, acoplado ao princípio da exclusão de Pauli, agirá como a força repulsiva que contrabalançará a atração da gravidade, impedindo que a anã branca colapse.
Se uma anã branca com massa superior a 0,8 MSol fizer parte de um sistema binário próximo, é possível que, quando a estrela companheira se expandir na fase de gigante ou supergigante, transfira parte de sua massa para a anã branca a tal ponto que a massa da anã branca ultrapasse a massa de Chandrasekhar. Neste caso a anã branca explodirá como supernova tipo Ia, e cerca de 0,6 MSol será ejetado ao meio interestelar na forma de Fe, produzido durante a explosão. Esta é a maior fonte de Fe conhecida.
Já estrelas com massas acima de 10 massas solares evoluem muito rapidamente: uma estrela de 30 massas solares sai da seqüência principal em 5 milhões de anos; uma estrela de 5 massas solares em 70 milhões de anos.
A ocorrência de colapsos violentos de estrelas massivas foi registrada pela primeira vez em 1054 d.C., pelos chineses, que observaram a explosão da estrela no centro da nebulosa do Caranguejo, sem saber que se tratava de um colapso. Muitos destes colapsos, que chamamos de supernovas, foram observadas em outras galáxias. A última observada a olho nu foi a SN1987A, na galáxia anã satélite de nossa galáxia, a Grande Nuvem de Magalhães.
A explosão de supernova ocorre porque, após a formação do núcleo de ferro, o núcleo colapsa violentamente em alguns segundos, sob o peso de sua própria atração gravitacional, sem ter outro combustível para liberar energia nuclear. As camadas superiores, contendo aproximadamente 90% da massa colapsam então sobre este núcleo, e após o comprimirem até o limite das leis físicas, são empurradas para fora com velocidades de milhares de quilômetros por segundo. Tanta energia é liberada em um colapso de supernova que ela brilha com a luminosidade de uma galáxia de 200 bilhões de estrelas.
Depois deste espetáculo, a supernova começa a esmaecer, deixando como resíduo, um núcleo extremamente compacto, uma estrela de nêutrons. Mesmo a pressão de degenerescência dos elétrons é muito pequena para parar o colapso no estágio de uma anã branca. Os elétrons livres são forçados para dentro do núcleons pelas imensas forças gravitacionais produzidas pelo colapso das camadas externas. Os nêutrons formam então um gás de nêutrons degenerados, que podem parar o colapso da supernova, se a massa inicial da estrela na seqüência principal for menor do que cerca de 25 massas solares. O diâmetro deste núcleo é de cerca de 10 km, e forma uma estrela de nêutrons, como a encontrada no centro da nebulosa do Caranguejo.
A primeira estrela de nêutrons foi detectada em 1967, quando a doutoranda da Universidade de Cambridge Jocelyn Bell Burnell (1943-), trabalhando em um experimento proposto por Antony Hewish (1924-), descobriu que certos sinais pulsados de rádio chegavam com enorme precisão a cada 1,33728 segundos, vindos da constelação de Vulpecula. A maioria dos astrônomos da época acreditava que estes pulsos eram devido a pulsações radiais de estrelas, mas Thomas Gold (1920-) calculou que pulsações deste tipo decairiam muito rapidamente, e sugeriu que os pulsares eram estrelas de nêutrons em rotação. Hewish recebeu o prêmio Nobel em 1974 pela descoberta dos pulsares. Mas a maioria das estrelas de nêutrons não são pulsares, pois sua emissão de rádio já terminou há muito tempo, pois sua vida média é de só 10 milhões de anos, a não ser que esteja em uma binária.
Em 1938, Julius Robert Oppenheimer (1904-1967), que em 1941 lideraria o Projeto Manhattan para a construção da bomba atômica, e George Michael Volkoff (1914-2000) demonstravam que, teoricamente, as estrelas de nêutrons também tinham um massa máxima. Estrelas acima dessa massa se condensariam a uma singularidade, um buraco negro.
Massa (MSol) | Evolução | Final |
---|---|---|
até 0,08 | não queima (reação termo-nuclear) H | anã marrom |
0,08 a 0,5 | só queima H | anã branca de He |
0,5 a 10 | queima H e He | anã branca de C/O |
10 a 11 | deflagração do C ou colapso por captura de elétrons | disrupção total ou estrela de nêutrons |
11 a 100 | queima H,He,C,Ne,O,Si | estrela de nêutrons ou buraco negro |
acima de 100 | criação de pares, SN | disrupção total ou buraco negro |
Desde 2001 estão disponíveis modelos teóricos de estrelas sem qualquer metal, que indicam que, por não terem metais, não formam grãos e portanto não têm perda de massa na seqüência principal de idade zero, e se formam com massa de até 1000 massas solares! Estas estrelas supermassivas evoluem rapidamente e, se não se tornam buracos negros mantendo toda a massa, poluem rapidamente o meio interestelar.
Os buracos negros massivos formados por estas estrelas, colidem e crescem, formando os buracos negros supermassivos detectados nos núcleos de galáxias.
Meio Interestelar
Astronomia e Astrofísica