O Sol, nossa fonte de luz e de vida, é a estrela mais próxima de nós
e a que melhor conhecemos. Basicamente, é uma enorme esfera
de gás incandescente, em cujo núcleo acontece a geração de energia
através de reações termo-nucleares. O estudo do Sol serve de base para
o conhecimento das outras estrelas, que de tão distantes aparecem para nós
como meros pontos de luz.
Foto do Sol na linha Halfa do hidrogênio, obtida pelo
National Solar Observatory, EUA. Os filamentos escuros são
proeminências.
Apesar de parecer tão grande e brilhante (seu brilho aparente é
200 bilhões de vezes maior do que o de Sírius, a estrela mais
brilhante do céu noturno), na verdade o Sol é uma
estrela bastante comum. Suas
principais características são:
Massa |
M = 1,989 x 1030 kg |
Raio |
R = 696 000 km |
Densidade média |
= 1409 kg/m3
|
Densidade central |
= 160 000 kg/m3 |
Distância |
1 UA =
1,496 x 108 km |
Luminosidade |
L=3,9×1026 watts=3,9×1033 ergs/s |
Temperatura efetiva |
Tef = 5785 K |
Temperatura central |
Tc = 10 000 000 K
|
Composição química principal (No) |
Hidrogênio = 91,2 % |
|
Hélio = 8,7% |
|
Oxigênio = 0,078 % |
|
Carbono = 0,043 % |
Período rotacional no equador |
25,67 d |
na latitude 75° |
33,40 d |
O modelo representado na figura mostra as principais regiões
do Sol.
A fotosfera, com cerca de 330 km de espessura e temperatura de
5785 K, é a camada visível do Sol.
Logo abaixo da fotosfera se localiza a zona convectiva, se estendendo
por cerca de 15% do raio solar.
Abaixo dessa camada está a zona radiativa,
onde a energia flui por radiação. O núcleo,
com temperatura de cerca de 10 milhões de graus Kelvin, é a região onde
a energia é produzida, por reações termo-nucleares.
A cromosfera é a camada da atmosfera solar logo acima da fotosfera.
Ela tem cor avermelhada e é visível durante os eclipses solares,
logo antes e após a totalidade. Estende-se por 10 mil km acima da fotosfera
e a temperatura cresce da base para o topo, tendo um valor médio de
15 mil K.
Ainda acima da cromosfera se encontra a coroa, também visível
durante os eclipses totais. A coroa se estende por cerca de dois raios
solares.
A fotosfera
Foto do Sol na linha de 584 Å do hélio (HeI), obtida pelo
satélite SOHO (The Solar and Heliospheric Observatory), da ESA/NASA
A fotosfera do Sol tem a aparência da superfície de um líquido
em ebulição, cheia de bolhas, ou grânulos. Este fenômeno
é chamado de
granulação fotosférica. Os grânulos têm em torno de 5000 km
de diâmetro e duram cerca de 10 min cada. Eles marcam os topos das colunas
convectivas de gás quente, que se forma na zona convectiva, logo abaixo
da fotosfera.
As regiões escuras entre os grânulos são regiões onde o gás mais
frio e mais denso escorre para baixo.
As células de conveção têm cerca de 5000 km e se movimentam em escalas de 10 minutos
Foto do Sol em luz branca, mostrando algumas manchas solares
O fenômeno fotosférico mais notável é o das manchas solares,
regiões irregulares que aparecem mais escuras
do que a fotosfera circundante e que muitas vezes podem ser observadas
mesmo a olho nu, embora
olhar diretamente para o Sol
só não
é perigoso quando ele está no horizonte.
As manchas foram registradas na China já no ano 28 a.C.
As manchas solares seguem um ciclo de 11 anos em que o número de manchas
varia entre máximos e mínimos.
No gráfico abaixo, está
registrado o número médio mensal de manchas.
Irradiação solar (constante solar) medida nos
últimos anos através de satélites.
Da coroa emana o vento solar, um fluxo contínuo de partículas
emitidas da coroa que acarretam uma perda de massa por parte do sol
em torno de
por ano. O vento solar que atinge a
Terra
(aproximadamente 7 prótons/cm3 viajando
a cerca de 400 km/s)
é capturado pelo campo magnético da Terra, formando o
cinturão de Van Allen, na magnetosfera terrestre.
Este cinturão, descoberto pelo físico americano
James Alfred Van Allen (1914-2006)
em 1958, só permite que
as partículas carregadas entrem na atmosfera da Terra pelos pólos,
causando as
auroras,
fenômenos luminosos de excitação e des-excitação
dos átomos de oxigênio.
Além das partículas do vento solar, existem grandes
ejeções
de massa associadas às proeminências, que quando atingem a Terra
causam danos às redes elétricas e aos satélites. O penúltimo
máximo do ciclo de 11 anos ocorreu em 1989 e logo após uma grande
proeminência solar, a rede elétrica na província de Quebec,
no Canadá, sofreu uma grande sobrecarga elétrica que causou vários
danos aos equipamentos. Algumas regiões da província ficaram até
duas semanas sem luz elétrica. Em 1994, o satélite de comunicações
E2 teve alguns circuitos queimados por uma sobrecarga estática, também
associada com a ejecção de uma nuvem de plasma solar.
O máximo deste ciclo solar ocorreu em 15 de fevereiro de 2001,
quando o campo magético solar reverteu de polaridade.
Diagrama borboleta mostrando a variação do
campo magnético do Sol com o tempo e a reversão do campo com
o período de 11 anos.
Imagem do Sol em 1710 Å, mostrando o Sol no ano de 1996, Sol mínimo, e perto do máximo.
Ejeção Coronal de Massa em 14 de setembro de 1999, fotografada
pelo SOHO em 3040 Å.
Normalmente as partículas carregadas são desviadas pelo
campo magnético da Terra para o Cinturão de Van Allen,
e somente chegam à Terra próximas aos pólos.
Entretanto o campo magnético terrestre não é
um simples dipolo e existe uma depressão no campo,
no Atlântico Sul, que faz com que partículas carregadas
também cheguem ao solo na região conhecida como
Anomalia Geomagnética do Atlântico Sul.
Anomalia geomagnética do Atlântico Sul: a região vermelha
representa alto fluxo de elétrons
com energia acima de 30 KeV próximo ao solo.
Anomalia geomagnética do Atlântico Sul: cada ponto branco ou amarelo marca a posição de um
satélite onde ocorreu defeito na memória do computador.
A Anomalia Geomagnética do Atlântico Sul é uma mancha de fluxo invertido,
isto é, uma mancha com fluxo magnético direcionado para dentro
no hemisfério de fluxo direcionado para fora. Existem outras manchas
menores, tanto no hemisfério norte quanto no hemisfério sul, de
acordo com as medições de campo magnético pelos satélites
Magsat
em 1980 e Ørsted em 2000.
Estas reversões de fluxo são
similares às que causam as manchas solares: o fluxo de material
líquido e ionizado no núcleo da Terra é convectivo, turbulento e
distorcido também por rotação diferencial do núcleo externo,
líquido (2900 km a 5100 km de profundidade),
sobre o núcleo sólido interno, cristalizado e que
libera calor latente na cristalização das camadas externas
e de separação de elementos menos
densos, como sultefo de ferro e óxido de ferro.
Estas manchas mudam de tamanho com o tempo e, quando aumentam até
dominar o hemisfério, causam a reversão do campo magnético da Terra.
A última reversão ocorreu há 780 mil anos.
Quando manchas solares de polaridades magnéticas opostas colidem, há
cancelamento do campo magnético que pode provocar um flare,
um aumento significativo da emissão de radiação eletromagnética no local,
principalmente no ultravioleta e raio-X. Se esta radiação atingir
a Terra, há um aumento na fotoioniozação da atmosfera, com um aumento
súbito no número de elétrons livres, que perturbam as ondas de rádio,
inclusive as usadas pelo GPS.
Aumento do fluxo de raios-X detectado pelo satélite Goes 8 após
um grande flare solar.
As ejeções coronais de massas
são bolhas de gás quente
(plasma), de cerca de 1 a 10 bilhões de toneladas, aquecidas pelos campos
magnéticos do Sol. Os campos magnéticos do Sol se enrolam
devido ao movimento turbulento de convecção mas também
devido à rotação diferencial, que faz com que o equador
solar complete uma volta em 25 dias, enquanto que as regiões
próximas aos pólos completam uma volta em 36 dias.
A desconexão do campo magnético solar pode ocorrer em
alguns minutos e tem uma energia equivalente a milhares
de bombas atômicas.
As ejeções coronais de massa viajam a aproximadamente 1
milhão km/hr e levam de um a quatro dias para alcançar a Terra.
Quando atingem a Terra, têm milhões de quilômetros de
extensão e podem causar:
- danos a satélites, também causados pelo aumento da fricção
causada pela expansão da atmosfera,
- erro no posicionamento
de navios e aviões de vários quilômetros, tanto pelo
sistema GPS (Global Positioning System) quanto pelos sistemas
Loran e Omega (8 antenas transmisoras distribuídas pela Terra),
por instabilidades no plasma da ionosfera terrestre,
causando cintilação na amplitude e fase do sinal e reduzindo o
número de satélites disponíveis de 8 a 10 para até 4. Em geral estas
instabilidades duram menos de 10 minutos, mas já ocorreram casos
em que o sistema ficou fora do ar por até 13 horas,
- danos às redes de energia elétrica,
induzindo voltagens de milhares de volts e queimando
transformadores.
- danos nas tubulações metálicas de gaseodutos, já que as correntes
induzidas aumentam drasticamente a corrosão,
- Aumentam também
a incidência de radiação ionizante nas pessoas,
principalmente em vôos de alta altitude, como vôos supersônicos
e astronáuticos.
Para exemplificar, em 1994 os satélites de comunicação canadenses
Anik E1 e E2, assim como o satélite da AT&T Telstar 1, de TV e
dados e o satélite Galaxy 4, que em 1998 emudeceu 45 milhões
de pagers em todo o mundo, foram todos danificados por
partículas aceleradas decorrentes de tempestades solares.
Cada satélite tem custo acima de 100 milhões de dólares.
Em agosto de 1972 houve uma flutuação na rede elétrica
de Winsconsin, nos Estados Unidos, de 2500 volts e a queima
de um transformador de 230 000 volts na Columbia Britânica,
no valor de 100 milhões de dólares.
Uma ejeção coronal de massa
também causou a queima de transformadores no Quebec em 13 de março
de 1989, deixando 6 milhões de pessoas sem energia elétrica
por nove horas e em algumas regiões daquela província do
Canadá por até duas semanas, com um prejuízo
superior a 100 milhões de dólares.
Transformador da Public Service Electric and Gas (PSE&G) na
Salem Nuclear Generating Station em
New Jersey, nos
Estados Unidos, queimado pelas correntes elétricas geomagneticamente
induzidas, causadas pela tempestade geomagnética de 13-14 de março de
1989.
O custo total do dano foi US$ 20 milhões..
Tão logo foi conhecida a distância do Sol, em 1673,
foi possível
determinar a sua luminosidade, que é a potência que ele produz.
As medidas mostram que cada metro quadrado na Terra recebe do Sol uma
potência (energia/segundo) de 1400 watts [James Watt (1736-1819)],
ou seja, a potência de
14 lâmpadas de 100 watts/m2.
O valor mais preciso da constante solar é 1367,5 W/m2,
e varia 0,3% durante o ciclo solar de 11 anos.
Multiplicando-se essa potência recebida na Terra
pela área da esfera compreendida pela órbita da Terra em torno do Sol,
determina-se a luminosidade do Sol em 3,9×1026
watts = 3,9×1033 ergs/s.
A constante solar
varia, dependendo da época no ciclo de 11 anos,
de 1364,55 a 1367,86 Watts/m2
Essa quantidade de energia é equivalente à queima de
2×1020
galões de gasolina por minuto.
Em 1937 Hans Albrecht
Bethe (1906-) propôs a fonte hoje aceita para a energia do Sol:
as reações termo-nucleares,
na qual quatro prótons são fundidos em um núcleo de hélio, com
liberação de energia.
O Sol tem hidrogênio suficiente para alimentar essas reações por
bilhões de anos.
Gradualmente, à medida que diminui a quantidade
de hidrogênio, aumenta a quantidade de hélio no núcleo.
O Sol transforma aproximadamente 600 milhões de toneladas de
hidrogênio em hélio por segundo.
Veja mais sobre este assunto no capítulo sobre estrelas.
Segundo os modelos de evolução estelar, daqui a cerca de 1,1 bilhão de anos
o brilho do Sol aumentará em cerca de 10%, que causará a elevação
da temperatura aqui na Terra, aumentando o vapor de água na atmosfera.
O problema é que o vapor de água causa o efeito estufa. Daqui a
3,5 bilhões de anos, o brilho do Sol já será cerca de 40% maior
do que o atual, e o calor será tão forte que os oceanos secarão
completamente, exacerbando o efeito estufa.
Embora o Sol se torne uma gigante vermelha após terminar o hidrogênio
no núcleo, ocorrerá perda de massa gradual do Sol, afastando a Terra
do Sol até aproximadamente a órbita de Marte, mas exposta
a uma temperatura de cerca de 1600 K (1327 C). Com a perda de massa
que levará a transformação do Sol em uma anã branca, a Terra deverá ficar a
aproximadamente 1,85 UA.
Em 30 de outubro de 2003 ocorreu uma tempestade geomagnética
de categoria máxima,
que durou 24 horas, vinda de um flare que ocorreu em 28 de outubro de
2003. A ejeção coronal de massa
que atingiu a Terra viajou com velocidades da ordem de 7 milhões km/h.
Em 4 de novembro de 2003 ocorreu o maior flare solar já registrado.
Estrelas
Astronomia e Astrofísica
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Modificada em 17 maio 2007