Estrelas Completamente Convectivas

Consideremos uma estrela fria cuja opacidade superficial seja dominada por $H^-$; o coeficiente de absorção pode ser estimado por

$K_{H^-} \approx 2,5 \times 10^{-31}(\frac{Z}{0,02})\rho^\frac{1}{2} T^9~{cm^2/g}$ (46)

A relação entre temperatura e pressão dada pela eq. (45)
$P^{n+1} = \frac{n+1}{n+s+4}\frac{16\pi acGM}{3K_gL}T^{n+s+4} [\frac{1-(T_0/T)^{n+s+4}}{1-(P_0/P)^{n+1}}]$
pode ser transformada em uma equação para $\nabla \equiv \frac{d\ln T}{d\ln P}$ em função da temperatura

$\nabla = \frac{1}{1+n_{ef}}+(\frac{T_{ef}}{T})^{n+s+4} [\nabla_f - \frac{1}{1+n_{ef}}]$ (47)

onde

$n_{ef} = \frac{s+3}{n+1}$ (48)

e o subscrito $ f$ significa fotosférico, isto é, $ \nabla_f$ é $ \nabla$ calculado na fotosfera. De acordo com eq. (40):
$\nabla_f$ $=$ $\frac{3K_0L}{16\pi acGM}(\frac{\mu}{N_Ak})^n \frac{P_f^{n+1}}{T_{ef}^{n+s+4}}$ (49)
  $\displaystyle =$ $\displaystyle \frac{3L}{16\pi acGM}\frac{P_fK_f}{T_{ef}^4}$ (50)

Na fotosfera, $ P_f=2g_s/3K_f$, $ g_s = GM/R^2$ e $ L=4\pi R^2 \sigma T_{ef}^4$, de modo que $ \nabla_f=1/8$. Abaixo da fotosfera, a eq. (47), com $ n_{ef}=-4$ para a opacidade do $ H^-$ se reduz a

$\nabla(r) = - \frac{1}{3}+\frac{11}{24} [\frac{T_{ef}}{T(r)}]^{-\frac{9}{2}}$ (51)

Como a temperatura cresce com a profundidade, $ \nabla(r)$ também cresce. Em algum ponto $ \nabla(r)$ tornar-se-a maior do que $ \nabla_{ad}$ e a camada interior será convectiva. Por exemplo, se assumirmos que $ \nabla_{ad}$ é dado pelo seu valor de gás ideal, sem ionização, $ \nabla_{ad}=0,4$, podemos estimar a temperatura para a qual $ \nabla(r)=\nabla_{ad}$. Para a região interior teremos um polítropo de índice 3/2 e

$P=K'T^{5/2}$ (52)

como demonstramos na seção de polítropos. Desta maneira, teremos uma fotosfera, de onde escapa a radiação, sobre uma camada radiativa, e sob esta, uma zona de convecção, como no caso do Sol.

No caso extremo em que a convecção continua até o centro da estrela, a constante $ K'$ precisa satisfazer as condições de contorno centrais, e portanto a constante $ K'$ precisa ser a do polítropo. Vamos escrever a temperatura e a pressão em termos de variáveis adimensionais

$p = \frac{4\pi}{G}\frac{R^4}{M^2}P$ (53)

$t = \frac{N_Ak}{G}\frac{R}{\mu M}T$ (54)

de modo que a equação (52) se torna

$p=E_0t^\frac{5}{2}$ (55)

com

$E_0 = K'4\pi (\frac{\mu}{N_Ak})^\frac{5}{2}G^\frac{3}{2} M^\frac{1}{2}R^\frac{3}{2}$ (56)

Como para um polítropo representando um gás ideal o índice é n=3/2 e $ K'$ é dado pela equação 14 dos polítropos

$K'_{n=3/2} = (\frac{N_Ak}{\mu})^\frac{5}{2}K_{n=3/2}^{-3/2}$ (57)

e substituindo a constante $ K$ do polítropo (equação 31 dos polítropos)

$K'_{n=3/2} = \frac{2,5^{3/2}}{4\pi}[\xi_{3/2}^{5/2} (-\...N_Ak}{\mu})^\frac{5}{2} \frac{1}{G^\frac{3}{2}M^\frac{1}{2}R^\frac{3}{2}}$ (58)

e concluímos que $ E_0$ não depende de nenhum parâmetro físico do modelo, mas somente dos valores superficiais das variáveis politrópicas, sendo uma constante:

$E_0 = (\frac{-125}{8}\xi_{3/2}^5\theta'_{3/2})^\frac{1}{2}_{\xi_1} = 45,48$ (59)

utilizando os valores da tabela dos polítropos.

Podemos agora calcular o valor da temperatura e densidade no ponto interior à fotosfera onde $ \nabla=\nabla_{ad}=0,4$. Utilizando os valores $ \nabla_f=1/8$, e os expoentes $ n=1/2$ e $ s=-9$ da opacidade de $ {H}^-$ na equação (47), obtemos

$\displaystyle T_c = (8/5)^\frac{2}{9}T_{ef} \approx 1,11~T_{ef}$ (60)

isto é, a temperatura no topo da zona de conveção é somente 11% maior do que a temperatura efetiva, comprovando que a convecção inicia logo abaixo da fotosfera.

A pressão $ P_c$ no topo da camada convectiva é obtida reescrevendo a equação (45) na forma

$(\frac{P}{P_f})^{n+1} = 1+ \frac{1}{1+n_{ef}} \frac{1}{\nabla_f}[(\frac{T}{T_{ef}})^{n+s+4}-1]$ (61)

que resulta em $ P_c = 2^\frac{2}{3}P_f$. Podemos agora substituir $ P_c=K'T_c^{5/2}$ na equação (58) obtendo

$K' = \frac{3,564 \times 10^{-4}E_0}{\mu^{2,5}} (\frac{M}{M_\odot})^{-\frac{1}{2}} (\frac{R}{R_\odot})^{-\frac{3}{2}}$ (62)

Como a pressão fotosférica é dada por $ 2g_s/3K_f$, $ K_f = K_0\rho_f^nT_{ef}^{-s}$ e a densidade pode ser eliminada usando-se a equação de estado de um gás ideal,

$P_f = (\frac{2}{3}\frac{GM}{K_0R^2})^\frac{1}{n+1} (\frac{\mu}{N_Ak})^{-\frac{n}{n+1}} T_{ef}^\frac{n+s}{n+1}$ (63)

Podemos utilizar $ L=4\pi R^2 \sigma T_{ef}^4$ para eliminar as dependências em $ R$, e escrever, para n=1/2 e $ s=-9$ da opacidade $ {H}^-$

${T_{ef}\simeq 2600 \mu^{13/51}(\frac{M}{M_\odot...)^\frac{7}{51} (\frac{L}{L_\odot})^\frac{1}{102}~{Kelvin}}$ (64)

A constante obtida, de 2600 K, na realidade é próxima de 4000 K, mas esta relação representa uma série de linhas quase verticais no diagrama H-R, uma para cada valor de $ M$ e com $ T_{ef}$ praticamente independente de $ L$ para cada valor de $ M$.

Variação da luminosidade com a temperatura para uma estrela completamente convectiva de massa $ M=1~M_\odot$. Para $ 10~M_\odot$, a temperatura será somente 37% maior.

$ T_{ef}$ $ L/L_\odot$
2600 1
2569 10
2720 $ 10^2$
2782 $ 10^3$
2846 $ 10^4$
2911 $ 10^5$
2977 $ 10^6$

tconv1
Note que embora a zona convectiva superficial do modelo com uma massa solar abranja somente 0,35% da massa isto corresponde a 17% do raio.


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Modificada em 7 maio 2006