25 massas solares | Perda de massa | População III |
Acreditava-se que as estrelas formadas atualmente tivessem um limite superior de massa de 150 MSol (Donald F. Figer, 2005, An upper limit to the masses of stars, Nature, 434, 192) mas a re-análise de Paul A. Crowther, Olivier Schnurr, Raphael Hirschi, Norhasliza Yusof, Richard J. Parker, Simon P. Goodwin, & Kassim, Hasan Abu Kassim, em 2010, no artigo The R136 star cluster hosts several stars whose individual masses greatly exceed the accepted 150 Msolar stellar mass limit, no Monthly Notices of the Royal Astronomical Society, 408, 731, das estrelas mais brilhantes no aglomerado R136a na região de 30 Dourados, na Grande Nuvem de Magalhães, onde a metalicidade é z=0,006, comparados com modelos evolucionários atuais, com rotação e sem rotação, indica massas iniciais < 265 MSol e < 320 MSol para estas estrelas.
As estrelas Wolf-Rayet, oriundas da evolução de estrelas
de alta massa (acima de 25MSol), Tef~30 000 a 60 000K,
são variáveis e têm um envoltório
de poeira e gás ejetado da estrela pela forte pressão de
radiação (dM/dt ~2 a 10 ×10-5
MSol/ano).
As estrelas Wolf-Rayet foram descobertas
em 1867 pelos franceses Charles J.F. Wolf (1827-1918)
e Georges A.P. Rayet (1839-1906)
por apresentarem linhas de emissão no
espectro.
Karel A. van der Hucht publicou em 2001 o
The Seventh Catalogue of Galactic Wolf-Rayet stars,
no New Astronomy Reviews, 45, 135, contendo 227 estrelas. Cerca de
350 WR já foram detectadas em outras galáxias.
As estrelas O2V apresentam no espectro linhas de N IV, com
potencial de ionização de 77 eV e, portanto, requerem
Tef>60 000 K. Estas estrelas vivem
menos de 2 milhões de anos na sequência principal e,
porisso, somente 45 estrelas O2V e O3V são conhecidas,
10 na nossa Galáxia, 1 na Pequena Nuvem de Magalhães
e 34 na Grande Nuvem de Magalhães, sendo que 22 estão
na nebulosa de 30 Dourados.
As estrelas de alta massa, por serem muito luminosas, embora de curta duração, dominam a luminosidade nas galáxias com formação estelar recente, além de terem um efeito importante através de sua radiação ultravioleta, ventos estelares e como suas supernovas comprimem o gás e provocam novas gerações de formação de estrelas. Os elementos químicos formados por queima nuclear nas estrelas de alta massa, além de na nucleosíntese explosiva das supernovas, geram a maioria dos elementos químicos que poluem o meio interestelar e produzem a evolução química do Universo.
Para modelos de alta massa , o modelo se desloca para o vermelho enquanto queima hidrogênio central em um núcleo convectivo e após a exaustão do hidrogênio central, para o azul. O deslocamento para o vermelho recomeça quando o hidrogênio queima em uma camada e o núcleo se contrai e esquenta. A queima do hélio central se inicia antes do modelo atingir o ramo das gigantes, e o modelo continua a evoluir monotonicamente para o vermelho enquanto o hélio queima em um núcleo convectivo central, mas novamente a queima do hidrogênio fora do núcleo fornece a maior parte da luminosidade.
Logo depois da exaustão do hélio no núcleo a temperatura e densidade são suficientes para iniciar a queima do carbono enquanto os elétrons ainda não são degenerados. Nesta fase toda a energia gerada no núcleo é perdida pela emissão de neutrinos e antineutrinos, e a energia luminosa é totalmente produzida pelas camadas extra-nucleares queimando hélio e hidrogênio. O núcleo exaurido em hélio se transforma em um caroço com a massa de Chandrasekhar com todos os componentes próximos do grupo do ferro, que subsequentemente colapsa formando uma estrela de nêutrons ou um buraco negro. O colapso ejeta o manto acima do núcleo por depósito de energia na forma de neutrinos neste manto. O resultado é uma explosão de supernova tipo II que forma um remanescente extenso e um núcleo compacto.
Para uma estrela de 25
Elemento | Massa (MSol) |
H | 12,10 |
He | 9,148 |
C | 0,543 |
O | 1,040 |
Ne | 0,357 |
Mg | 0,177 |
Si Ca | 0,175 |
Ni | 0,034 |
Fe | 1,504 |
Os modelos de nucleosíntese explosiva predizem quantidades aproximadamente iguais de 68Zn e 70Zn, mas no sistema solar a razão destes isótopos é de 0,033, portanto inconsistente, apesar da razão dos núcleos leves ser predita corretamente. Nas estrelas massivas a queima de carbono, oxigênio, neônio e silício se dá quando o esfriamento por neutrinos, pela emissão de pares de neutrinos e antineutrinos, é dominante. As mudanças estruturais causadas pela emissão de neutrinos permite que a maior parte das estrelas ejete massa e forme uma estrela de nêutrons e não um buraco negro.
Entretanto é importante distinguir modelos quase-estacionários com massa constante de estrelas reais, já que as estrelas massivas reais perdem massa a taxas consideráveis mesmo quando estão na sequência principal, por ventos acelerados pela radiação. As linhas dos elementos pesados e grãos de poeira são os principais responsáveis pela perda de massa. Isto faz com que as estrelas de população III, por definição as estrelas com zero metais, tenham pouquíssima ou nenhuma perda de massa.
Para que os modelos concordem com a relação massa inicial - massa final observada, Blöcker propõe para o AGB:
A determinação de massa média de anãs brancas de 0,43 para o cúmulo aberto NGC 6791, com cerca de 7 bilhões de anos e metalicidade Fe/H duas vezes a solar, por Jasonjot Kalirai, Pierre Bergeron, Brad M.S. Hansen, Daniel D. Kelson, David B. Reitzel, R. Michael Rich e Harvey R. Richer, 2007, Astrophysical Journal, 671, 748, indica que a perda de massa é fortemente dependente da metalicidade. Eles propõem que mesmo estrelas com massa inicial de 1 massa solar podem gerar anãs brancas com núcleo de He, mas Enrique García-Berro, Santiago Torres, Leandro G. Althaus, Isabel Renedo, Pablo Lorén-Aguilar, Alejandro H. Córsico, René D. Rohrmann, Maurizio Salaris e Jordi Isern, no artigo de 2010 na Nature, 465, 194 afirmam que a discrepância é devido à deposição gravitacional do 22Ne e da separação de fases do C e O na cristalização do núcleo.
Para estrelas com massa acima de 40 a 50 massas solares, a perda de massa pode ser tão expressiva que as camadas que passaram por queima de hidrogênio podem ser expostas. Esta é o forma pela qual as estrelas Wolf-Rayet tipo N (espectro dominado por nitrogênio) são formadas. Durante a fase de Wolf-Rayet a taxa de perda de massa é ainda maior do que na fase de sequência principal, e acredita-se que as estrelas Wolf-Rayet tipo N evoluem para Wolf-Rayet tipo C (espectro dominado por carbono) uma vez que todas as camadas contendo hidrogênio sejam removidas.
O caso das Wolf-Rayets é complicado mesmo na determinação de sua temperatura efetiva. Paul A. Crowther (2002, Proceedings of IAU Symposium 212, ed. Karel van der Hucht, Artemio Herrero e César Esteban, p. 47) compara as determinações para a estrela WC5 HD 165763, que indica Tef=35000K e log =-4.6, para modelos que não levam em conta a opacidade das linhas (line blanketing), e Tef=85000K e log =-4.9 para modelos com opacidade de linhas e aglomerações (clumping).
Raphael Hirschi, no seu capítulo de setembro/2014 Evolution and Nucleosynthesis of Very Massive Stars, do livro "Very Massive Stars in the Local Universe", Springer, editado por Jorick S. Vink, disponível no arXiv:1409.7053, relata os resultados atuais para as estrelas acima de 100 massas solares, incluindo os efeitos de metalicidade, perda de massa e rotação. Como estas estrelas têm um núcleo convectivo muito extenso (75% da massa para metalicidade solar em um modelo de 150 MSol), sua evolução ocorre próxima daquela de um modelo homogêneo. Para metalicidade solar, elas terminam suas vidas como Wolf-Rayet tipo WC ou WO.
População III - Metalicidade Zero
A ausência de poeira na primeira geração de estrelas dificulta a fragmentação da nuvem, gerando estrelas massivas
(Volker Bromm, Paolo S. Coppi, & Richard B. Larson, 1999,
Forming the First Stars in the Universe: The Fragmentation of Primordial Gas,
Astrophysical Journal, 527, L5),
embora simulações mais recentes indiquem a formação de grupos de estrelas de mais baixa massa
(Athena Stacy, Thomas H. Greif & Volker Bromm,
2010,
The first stars: formation of binaries and small multiple systems,
Monthly Notices of the Royal Astronomical Society, 403, 45).
Vittorio Castellani (1937-2006), (1999, em "The First Stars", ed. Achim Weiss, Tom G. Abel & Vanessa Hill, Springer, p.85) estima que o enriquecimento da Galáxia indica que espera-se somente uma estrela com metalicidade Z < 10-7 para cerca de 100 000 estrelas com maior metalicidade.
Como as estrelas de Pop. III não têm carbono para o ciclo CNO, todas queimam o H pelo ciclo pp. Para estrelas de mesma massa, as estrelas queimando o H pelo ciclo pp têm temperaturas centrais muito maiores para obter a mesma energia. As estrelas com zero metal acima de 10 massas solares elevam suas temperaturas internas até 108 K, convertendo o He cosmológico em C, que então permite a queima de H pelo ciclo CNO. Outra importante alteração é que o limite superior para a degenerescência de elétrons no ramo das gigantes decai de 1,5 para Z = 10-4 a 1,1 para Z = 10-10.
Paola Marigo, Cesare Chiosi (1941-), Léo Girardi e Tiziana Sarrubi, na pg. 119 do First Stars, apresentam modelos evolucionários calculados com Z=0. Os loops observados no diagrama HR teórico são causadas pela ignição do triplo- durante a queima de H no núcleo, iniciando a queima pelo ciclo CNO.
Richard B. Larson, p. 343, propõe que a formação das estrelas de baixa metalicidade ocorre porque as moléculas H2 e HD produzem o esfriamento necessário à fragmentação e colapso das primeiras estruturas no Universo. O gás colapsa em filamentos, mas nas nuvens sem metais, o limite inferior do colapso é maior que 1, de modo que todas as estrelas de Pop. III já tiveram tempo suficiente para evoluir e tornarem-se pouco luminosas. Mas a estrela de menor metalicidade conhecida tem somente 0,8. Com baixa metalicidade a massa máxima pode ser da ordem de 1000, que colapsam em buracos negros sem perder massa significativamente, se a rotação não for importante. Esses buracos negros podem passar por mergers sucessivos, formando os buracos negros supermassivos nos centros das galáxias ativas.
A descoberta de buracos negros com 4000 no aglomerado globular M15 e de 20 000 em G1, um aglomerado mais massivo, através de observações com o Telescópio Espacial Hubble em 2002, é coerente com esta hipótese.
Alexander Heger e Stan E. Woosley também calcularam modelos de evolução para metalicidade zero e criaram um site para os modelos das primeiras estrelas. Seus resultados foram publicados em 2002 no Astrophysical Journal, 567, 532. As estrelas de população III não devem perder massa antes do estágio final, exceto as de massa acima de 100 massas solares, onde instabilidades pulsacionais ejetam as camadas externas.