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Para tratar corretamente o transporte de energia por radiação,
precisamos dispor de valores da opacidade para todas as condições
de temperatura e densidade no interior estelar e mesmo na sua
atmosfera.
A maior parte da massa de uma estrela
na sequência principal está a temperaturas da
ordem de 1 a 30 × 106 K. A essas temperaturas, o pico da
distribuição de Planck varia entre 29 Å e 0,9 Å,
de acordo com a Lei de Wien
Esses comprimentos de onda correspondem a raio-X, mole e duro.
A essas temperaturas todos os elementos estão ionizados a tal
ponto que no máximo alguns elétrons permanecem nas
camadas mais internas. O hidrogênio e o hélio estão
essencialmente ionizados e, portanto, estão na forma
de elétrons, prótons e partículas , livres.
Na nossa definição de opacidade, a absorção da
radiação quando atravessa uma unidade de massa em uma
coluna de área perpendicular unitária e altura é
dada por:
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(28) |
logo
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isto é, a opacidade é a fração absorvida da radiação
atravessando uma coluna de altura .
A profundidade ótica, definida como
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representa a distância para a qual a intensidade decai de um fator ,
e
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(31) |
pode ser interpretado como o livre caminho médio dos fótons.
No núcleo das estrelas, três mecanismos geram a opacidade:
- absorção verdadeira
- transições ligado-ligado (absorção em linhas, excitação)
- transições ligado-livre (ionização)
- transições livre-livre (bremstrahlung:
um elétron livre no campo
de um íon pode absorver uma quantidade arbitrária de energia,
e aumentar sua energia cinética).
- espalhamento Thomson
[Sir Joseph John Thomson (1856-1940)] de fótons por elétrons livres
-- se o elétron não adquirir
velocidade relativística, chama-se
efeito Compton coerente [Arthur Holly Compton (1892-1962)].
O termo coerente implica que a reemissão é na mesma freqüência
da radiação incidente. Se os elétrons forem relativísticos,
a reemissão é incoerente.
Esse processo, embora não seja uma
absorção real, atenua o feixe de radiação, porque
o elétron re-irradia, ou espalha, a luz em outra direção.
- atenuação com absorção insignificante,
devido à dispersão. Por exemplo, reflexão. Essa atenuação
é normalmente desprezível, e assumimos o índice
de refração . Essa aproximação não é
válida se o plasma for não-transmissivo ou na presença de
campo magnético. No caso geral
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(1) |
Na região de baixas temperaturas ( K), outros
processos físicos são importantes:
- absorção por íons negativos;
- absorção molecular;
Diagrama dos níveis de energia da molécula H2.
As energias estão medidas a partir do estado fundamental.
- espalhamento Rayleigh [Lord Rayleigh, John William Strutt (1842-1919)]
(absorção da radiação por uma molécula, indo
para um estado excitado e subseqüente reemissão
em qualquer direção);
- espalhamento Raman [Chandrasekhara Venkata Raman (1888-1970)]
(absorção da radiação por uma molécula, indo
para um estado excitado e subseqüente emissão
de radiação em outra freqüência, pois a molécula
passa para um outro estado vibracional ou rotacional).
A energia de uma molécula, além do valor quântico principal
E0,
tem números quânticos rotacionais k
e vibracionais v:
onde I é o momento de inércia e w a freqüência
angular fundamental de vibração.
- foto-excitação para estados auto-ionizantes [se
dois elétrons,
após absorverem radiação, estão excitados a níveis
e com energia de excitação
maior do que a energia de ionização, eles podem
fazer uma transição sem emissão de radiação,
para um estado de mesma energia total, mas com um elétron
removido (ionizado)];
- absorção por grãos de poeira.
Para altíssimas temperaturas ( K), importantes nos núcleos de
estrelas evoluídas:
- produção de pares;
- espalhamento Compton incoerente (emissão em freqüência diferente da incidente)
por elétrons relativísticos;
- absorção nuclear;
- espalhamento fóton-fóton;
- processos fóton-neutrinos.
Como os processos de absorção dependem da freqüência,
e a estrutura da estrela não, normalmente se substitui
a opacidade na equação do equilíbrio
radiativo (1.51) pela sua média ponderada
definida como a opacidade média de Rosseland,
pelo norueguês Svein Rosseland (1894-1985) em 1924,
de modo que a equação do equilíbrio radiativo
seja válida para quantidade integradas sobre a freqüência:
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(1.62) |
Frequentemente se aproxima a opacidade por uma fórmula do tipo:
que embora não precisas, servem para estimativas. O caso
n=1 e s=3,5, válido para absorção livre-livre em
um gás não degenerado em que a maioria dos elementos
está completamente ionizado, é chamada de opacidade
de Kramers, pois foi derivada classicamente para as opacidades
livre-livre e ligado-livre pelo
físico holandês Hendrik Anthony Kramers (1894-1952) em 1923
(Philosophical Magazine, 46, 836).
Para regiões completamente ionizadas, espalhamento Thomson
de elétrons livres é dominante, e a opacidade é
dada por n=s=0, como veremos a seguir.
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Astronomia e Astrofísica
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Modificada em 13 abril 2006