Em 1932, o americano Karl Guthe Jansky (1905-1950), dos Laboratórios Bell, realizou as primeiras observações de emissão de rádio do cosmos, quando estudava as perturbações causadas pelas tempestades nas ondas de rádio utilizadas nas transmissões telefônicas transoceânias. Ele estava observando à freqüência de 20,5 MHz (λ = 14,6 m) e descobriu uma emissão de origem desconhecida que variava com um período de 24 horas. Somente mais tarde demonstrou-se que a fonte desta radiação estava no centro da Via Láctea.
No fim dos anos 1930, o engenheiro e rádio operador amador Grote Reber (1911-2002) iniciou observações sistemáticas com uma antena parabolóide de 9,5 m que ele havia construído (imagem à esquerda). No infravermelho as partículas de poeira têm seu máximo de emissão, e no rádio tanto a poeira quanto as moléculas são brilhantes, complementando informações obtidas no ótico.
Embora a atmosfera seja praticamente transparente na faixa visível (3500 Å a 6500 Å), ela absorve fortemente no ultravioleta (1000 Å a 3500 Å) e em várias bandas do infra-vermelho (1 μm a 1 mm), de modo que não podemos medir ultravioleta do solo, e infra-vermelho somente acima de 2000 m de altura.
A janela rádio se estende entre aproximadamente 8 mm e 15 m, embora haja redução por vapor de água e moléculas de oxigênio (O2) para comprimentos de onda acima de 300 μm. O corte em comprimentos de ondas maiores se dá por reflexão crítica na ionosfera, uma camada da atmosfera acima de 100 km, onde há alta densidade de elétrons livres e íons. As ondas de rádio não podem penetrar neste plasma por que suas baixas freqüências estão abaixo da freqüência de plasma natural da ionosfera. Esta reflexão é entretanto usada para comunicação, refletindo as ondas de rádio na ionosfera. A atividade solar altera o nível de ionização da alta atmosfera, modificando as freqüências de reflexão.
No rádio, a cintilação causada pelo meio interestelar e interplanetário afeta as observações de alta resolução temporal, e observações planejadas por Antony Hewish (1924-2021) em 1968 para estudar as propriedades do meio interestelar levaram à descoberta acidental dos pulsares.
Os pulsares
foram descobertos em rádio antes de serem descobertos no ótico
[Observation of a Rapidly Pulsating Radio Source,
Antony Hewish (1924-2021), Susan Jocelyn Bell (1943-), John D. H. Pilkington, Paul F. Scott, & R. A. Collins,
Nature, 217, 709 (1968)]. John D. H. Pilkington, Paul F. Scott, & R. A. Collins observaram o objeto detectado por Jocelyn Bell com um outro
rádio telescópio para eliminar a possibilidade de ser causado
por um problema instrumental. Em poucos meses ela detectou outros
dois pulsares. Para determinar a distância, ela usou
o atraso introduzido pelos elétrons do meio interestelar
no pulso recebido em diferentes freqüências,
que é proporcional a densidade de coluna de elétrons.
O interferômetro ocupava uma área de 2 hectares e foi instalado pessoalmente
por Jocelyn Bell. O custo do interferômetro foi de 10 mil libras.
Os dados eram registrados em um gráfico em papel e,
após detectar o primeiro sinal, ela mudou a velocidade do papel,
para poder estudar o pulso, mas com esta velocidade o papel
durava somente 20 minutos. O equipamento tinha uma constante de
tempo menor do que qualquer outro usado anteriormente e por isto
pode observar os pulsos curtos. Se o equipamento fosse computadorizado,
provavelmente os pulsares não teriam sido descobertos naquela época.
As primeiras moléculas interestelares foram descobertas
em 1937 [Pol Swings (1906-1983) & Léon Rosenfeld, 1937, Astrophysical Journal, 86, 483],
na forma de metilidina CH, CH+,
e cianogênio CN. Hidrogênio molecular H2
foi descoberto no início dos anos 1970, junto com monóxido
de carbono CO (2,6 mm, ou 115 gigahertz).
Como o H2 não emite ondas de rádio,
o CO é usado para mapeá-lo. Muitos outros tipos de moléculas
têm sido encontradas desde então, desde amônia
NH3, até as mais
complexas como benzeno C6H6, acetona
(CH3)2CO, etil cianido CH3CH2CN e mesmo
com 13 átomos
HC11N cianodecapentano e C70 70-fulereno (Jan Cami, Jeronimo Bernard-Salas, Els Peeters, Sarah Elizabeth Malek, 2010,
Detection of C60 and C70 in a Young Planetary Nebula, Science, 329, 1180).
Mais de cento e setenta moléculas distintas já foram identificadas no
meio interestelar
utilizando-se radiotelescópios e espectrômetros sensíveis, incluindo
vapor de água, formaldeído, amônia, metanol, etanol e dióxido de
carbono, além de hidrogênio neutro em 21 cm (1421,405 MHz)
e do CO em 6 cm.
Por exemplo, Serena Viti e colaboradores detectam
Glicolaldeído, o mais simples açucar monosacarido, que
pode reagir com propenal para formar ribose,
um constituinte central do ácido ribonucleico (RNA),
em um nuvem que está formando estrelas.
Para objetos extremamente distantes (z»1), o desvio Doppler (avermelhamento) pode levar as emissões óticas para a região infravermelha e rádio. O limite do Universo observável, quando o Universo tornou-se transparente (z=1000, T=3000 K) pela primeira combinação de prótons e elétrons em átomos neutros (época da recombinação), é observável através da radiação de fundo do Universo, ou Cosmic Microwave Background.
No artigo na Nature (555, 67) de 1 de março de 2018, An absorption profile centred at 78 megahertz in the sky-averaged spectrum Judd D. Bowman, Alan E. E. Rogers, Raul A. Monsalve, Thomas J. Mozdzen & Nivedita Mahesh, detectaram absorções de HI (21 cm) que indicam que as primeiras estrelas reionizaram o Universo, através da emissão de radiação ultravioleta, 180 milhões de anos depois do Big-Bang. As observações da polarização da radiação de fundo do Universo detectada pelo satélite Planck indicam que isto ocorreu só em zreionização=8,8±1,2 → idade 547±87 milhões de anos, compatível com a formação das primeiras galáxias. A reionização e recombinação induz o alinhamento do elétron do hidrogênio a se alinhar paralelamente ou antiparalelamente ao spin do próton, fazendo o hidrogênio emitir ou absorver radiação de 21 cm (1420 MHz), desacoplando da radiação de fundo. As medidas foram feitas com uma antena de rádio do tamanho de uma mesa, localizada na Austrália, do experimento EDGES (Experiment to Detect Global Epoch of Reionization Signature), sintonizada de 50 a 100 MHz. Devido à expansão do Universo, a radiação foi detectada em (78±1) MHz. As primeiras observações, iniciadas em 2015, infrutíferas, foram de 100 a 200 MHz, região predita pelo Planck. Como as fontes de ruído chegam a milhares de vezes o sinal (5000 K em 50 MHz, 1000 K em 100 MHz), a detecção é um avanço tecnológico impressionante (r.m.s.=0,087 K). A absorção detectada é mais forte por uma fator de dois do que as previsões, com uma amplitude de 0,5+0,5-0,2 K, indicando que o gás está mais frio do que o modelo, o que poderia ser explicado se houve interação entre a matéria escura e o gás, esfriando o gás.
O Sol e os planetas também são estudados com ondas de rádio.
De fato as manchas solares e os flares são fortes
emissores de rádio, como se pode ver nesta imagem do Sol em rádio.
O Very Large Array (VLA), no Novo México (EUA), é um conjunto de 27 antenas de 25 m de diâmetro, que podem se distribuir por uma extensão de até 36 km, com receptores de 7 mm a 4 m. Pode alcançar resolução de 0,05 segundos de arco.
Os rádios telescópios podem também estar localizados em continentes distintos (VLBI = Very Long Baseline Interferometry), conseguindo resolução melhores que mili-segundos de arco e, observando quasares distantes, formam o sistema de referência mais preciso conhecido (Sistema de Referência Internacional Celestial (ICRF), com uma precisão média de 0,02 mili-segundos de arco. Os sinais são registrados com relação a uma base de tempo muito precisa e podem ser analisados mais tarde, quando se calculam as franjas de interferência.
Em março de 2013 Joaquin Vieira, do CALTECH, e colaboradores, publicaram na Nature a medida de linhas de CO, comprovando formação estelar no Universo com cerca de 2 bilhões de anos, em um conjunto de galáxias distantes intensificadas por lentes gravitacionais. A inauguração ocorreu em 13 de março de 2013, com mais de 50 antenas em operação e todas as 66 montadas. As observações com o ALMA da Grande Nuvem de Magalhães publicadas por Marta Sewilo e colaboradores em jan/2018 encontraram metanol, dimetil éter (C2H6O), e formiato de metila (HCOOCH3), mesmo nesta galáxia de baixíssima metalicidade. As observações com o ALMA identificaram duas galáxias gigantes quando o Universo tinha 780 milhões de anos, dentro de uma nuvem de matéria escura com muitos trilhões de massas solares.
A detecção de ondas de rádio é fundamentalmente diferente da detecção de fótons óticos porque explora o caráter ondulatório da luz. A radiação excita um campo alternado no detector, que é detectado eletronicamente como uma voltagem de corrente alternada. Esta voltagem é descrita por uma onda, com amplitude e fase:
A antena do rádio telescópio seleciona a direção a ser observada, coleta a radiação e transforma em um sinal de corrente alternada. O receptor seleciona a freqüência e a largura da banda, processa o sinal e grava os dados. O receptor pode ter muitos canais, um para cada freqüência.
As medidas de fluxo de rádio são geralmente descritas em
Como o ruído é sempre importante, normalmente se expressa a potência do sinal astronômico também em termos de temperatura, usando a temperatura da antena, definida como
Além da importantíssima linha de 21 cm da transição hiperfina do hidrogênio neutro, a linha rotacional de 2,6 mm do CO pode ser detectada na Via Láctea e em outras galáxias. Acredita-se que a colisão do CO com moléculas de H, que não tem linhas de emissão fortes, é que excita o CO para o nível superior de 2,6 mm, já que nenhuma outra espécie tem abundância suficiente para prover colisões suficientes. Deste modo, a emissão do CO é considerada um traçador da distribuição de H2. As medidas em microondas mais importantes são naturalmente da Radiação de Fundo do Universo, cujas flutuações mostram as sementes para a formação das galáxias.
A antena de um rádio telescópio é sensível à polarização. Se a antena for um dipolo, uma barra de metal com meio comprimento de onda, com um cabo conectado ao meio da barra, ela define uma direção no espaço, e responde somente àquela polarização.