Seeing e Speckle
O limite de difração teórico de um telescópio é uma função inversa do
tamanho do espelho primário, devido ao efeito da
difração de Fraunhofer,
que espalha a luz de um objeto puntual em um
disco de Airy
(o disco no limite de difração, Sir George Biddell Airy (1801-1892)]. Dois
objetos mais próximos que este disco parecem um só objeto.
Mas este limite teórico não é alcançável devido às distorções
introduzidas pela atmosfera da Terra, que distorce um disco de
Airy em múltiplas manchas sobre uma área maior.
Esta área maior é chamada de disco de visão (seeing disk)
e define um
parâmetro da atmosfera chamado r0, o diâmetro de seeing de Fried,
que varia de cerca de 1 cm, quando se nota a turbulência a olho nu,
até cerca de 20 a 30 cm.
Cada célula da atmosfera (mancha de isofase - isophase patch)
gera um disco de Airy distinto,
de modo que a imagem real é a soma destes multiplos discos,
deslocados espacialmente.
Estes discos se movem devido aos ventos na alta atmosfera da
Terra, com velocidades da ordem de 5 m/s.
Esta deformação limitou
a resolução dos telescópios até a introdução da ótica adaptativa
e da imagem speckle, desenvolvida pelo astrônomo americano
David L. Fried (1933-2022) em 1966, que obteve imagens da
atmosfera tão rápidas
que congelavam o movimento dos objetos causados pela turbulência
atmosférica
["Limiting Resolution Looking Down Through the Atmosphere," Journal of the Optical Society of America 56, 1380 (1966), "Optical Resolution Through a Randomly Inhomogeneous Medium for Very Long and Very Short Exposures," J. Opt. Soc. Am. 56, 1372 (1966)].
No infravermelho estas exposições podem ser de 100 ms,
mas no ótico precisam ser mais rápidas que 10 ms. Cada imagem,
speckle (mancha), grava a posição da imagem instantânea. Naturalmente
se o objeto for fraco, não há um número de fótons suficientes na imagem nestes tempos
tão curtos.
a) Soma das 128 imagens ultra-rápidas
da estrela binária HR 4689, obtidas por
Swapan Kumar Saha &
D. Maitra (Indian Journal of Physics, 2001, 75B, 391) com
o telescópio de 2,34 m Vainu Bappu; b) uma das imagens
rápidas e c) reconstrução por correlação cruzada ds 128 imagens.
A estrela principal é o pico central, e a companheira um dos dois
picos secundários, separados por 170 mili segundos-de-arco.
Cada pico tem 0,067", o limite de difração do telescópio.
Lucky
imaging consiste em somar somente as melhores imagens
tiradas em
alta velocidade, speckle, após
deslocá-las
para eliminar o efeito da turbulência atmosférica
[David L. Fried (1978), "Probability of getting a lucky short-exposure image through turbulence", Optical Society of America 68 (12), 1651].
A nova geração de CCDs com ruído de leitura extremamente pequeno torna a obtenção de imagens rápidas factível.
Tese de doutorado de Robert Nigel Tubbs sobre Lucky Imaging.
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Astronomia e Astrofísica
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Modificada em 21 set 2024