Em um sistema clássico, as partículas se movem em trajetórias definidas, de modo que podemos, em princípio, distingüir entre as partículas, mesmo idênticas, isto é, podemos colocar rótulos de partícula 1, partícula 2, ... Em uma descrição quântica isto não pode ser feito porque o Princípio da Incerteza de Heisenberg, que rendeu o prêmio Nobel em física de 1932 ao físico alemão Werner Karl Heisenberg (1901-1976), não permite a contínua observação do movimento das partículas, sem mudar o comportamento do sistema. Isto é equivalente a dizer que, em mecânica quântica, que descreve as partículas como ondas tridimensionais, onde a função de onda associada a cada partícula não é pontual e dá a probabilidade de se encontrar a partícula em uma posição, a super-posição da função de onda torna impossível a distinção entre as partículas. Portanto, em uma descrição quântica, as partículas idênticas são indistingüíveis.
Partículas descritas por auto-funções assimétricas têm spin semi-inteiro, e são chamadas de férmions, em honra ao físico ítalo-americano Enrico Fermi (1901-1954), e estão sujeitas ao Princípio da Exclusão, elaborado pelo físico austríaco Wolfgang Pauli (1900-1958), e que lhe rendeu o prêmio Nobel em 1945: duas partículas de mesmo spin não podem ocupar o mesmo estado quântico.
As partículas de Bose, ou bósons, em honra ao físico indiano Satyendra Nath Bose (1894-1974), têm spin inteiro, e embora indistingüíveis, não estão sujeitas ao Princípio da Exclusão, porque têm auto-funções simétricas, que não se anula se todos os números quânticos de duas ou mais partículas forem idênticos.
Para um gás em equilíbrio, a configuração mais provável depende da natureza das
partículas do gás, que para partículas
elementares caem em três classes:
1) partículas idênticas mas distingüíveis,
que são as partículas clássicas;
2) partículas idênticas mais indistingüíveis de spin semi-inteiro,
por exemplo, elétrons, pósitrons, neutrinos, prótons,
nêutrons e mésons ; e
3) partículas idênticas mais indistingüíveis de spin inteiro,
por exemplo fótons, mésons
e partículas
().
Se o número de partículas com momentum é definido como , e o número de estados possíveis de momentum por , a configuração mais provável, a função partição, correspondendo a estes três casos pode ser derivada pela mecânica estatística, maximizando-se o número de maneiras de distribuir as partículas nos níveis de energia disponíveis:
estatística de Maxwell-Boltzmann | (1.1) | ||
estatística de Fermi-Dirac | (1.2) | ||
estatística de Bose-Einstein | (1.3) |
A energia E nas equações acima é a energia de cada partícula. O parâmetro , o potencial químico, definido como [seção (1.4.1)]
Na estatística de Fermi-Dirac, derivada por Enrico Fermi e pelo inglês Paul Adrien Maurice Dirac (1902-1984),
Para um gás de fótons, que são bósons de massa zero, , porque o número de fótons não é conservado, isto é, quanto maior é a temperatura (energia), maior é o número de fótons.
A densidade de estados livres, ou fator de degenerescência, g(p) pode ser derivada usando-se o princípio da incerteza de Heisenberg
Para temperatura zero,
onde é a constante de Planck, com valor ergs s, e é a massa da partícula; todos os estados com estão ocupados, e todos os estados com estão desocupados. Esta relação pode ser derivada da equação (1.2), já que, para T=0,A densidade de energia do gás, isto é, energia por unidade de volume, será então dada por:
onde E(p) é a energia de cada partícula, como função do momentum.