O destino final das estrelas, depois de consumir todo o seu combustível nuclear, depende de duas coisas: primeiro, se a estrela é simples ou faz parte de um sistema binário ou múltiplo, e 60% das estrelas faz; e segundo, de sua massa inicial. Se a estrela faz parte de um sistema binário ou múltiplo, sua evolução depende tanto da massa quanto da separação entre as estrelas, que determinará quando na evolução as estrelas interagirão.
Se a massa da estrela for entre 0,08 MSol e 0,8 MSol ela se tornará uma anã branca com núcleo de hélio. Se a estrela iniciar sua vida com massa menor do que 0,8 MSol, a idade do Universo ainda não é suficiente para esta estrela ter evoluído além da seqüência principal. Se a estrela iniciar com massa entre 0,8 e 10 MSol, após consumir o hidrogênio no centro, a estrela passará pela fase de gigante e depois de supergigante, ejetará uma nebulosa planetária, e terminará sua vida como uma anã branca com massa da ordem de 0,6 MSol, e raio de cerca de 10 000 km.
Se a estrela iniciar sua vida com massa entre 10 e 25 MSol, após a fase de supergigante ela ejetará a maior parte de sua massa em uma explosão de supernova, e terminará sua vida como uma estrela de nêutrons, com uma temperatura superficial acima de 1 milhão de graus K, massa de cerca de 1,4 MSol, e raio de cerca de 20 km. Se esta estrela possuir campo magnético forte, ela emitirá luz direcionada em um cone em volta dos pólos magnéticos, como um farol, e será um pulsar.
Para as estrelas ainda mais massivas, a fase de gigante e supergigante são contíguas, sem nenhum evento que marque o início da queima de hélio, do carbono, do oxigênio, do neônio, do magnésio, do silício, e assim sucessivamente, até transformar o núcleo em ferro. Quando o núcleo chega a ferro, não há mais como extrair energia através de reações de fusão nuclear, e a estrela colapsa, ejetando a maior parte de sua massa como supernova. Mas este tipo de supernova, chamado de Supernova tipo II, ejeta menos de 0,1 MSol em Fe, já que o Fe nuclear se fotodesintegra. Se não houver disrupção total, o que resta será uma estrela de nêutrons ou um buraco negro.
Se a estrela iniciar sua vida com massa entre 25 e 100 MSol,
após
a fase de supernova restará um buraco negro, com massa da ordem de
6 MSol,
e
raio do horizonte
de 18 km. O raio do horizonte,
ou raio de Schwarzschild
[Karl Schwarzschild (1873-1916)], é a distância ao buraco negro dentro da
qual nem a luz escapa:
Para algumas estrelas massivas,
os modelos de deflagração da explosão de supernova prevêem
dispersão total da matéria.
A supernova
super-brilhante 2006gy
foi causada pelo colapso de uma estrela massiva.
Se a supernova fosse devido ao colapso de uma anã-branca, ela deveria ter sido 1000× mais
brilhante em raio-X do que detectado pelo Chandra.
Na imagem no ótico à esquerda, a fonte mais fraca é o núcleo
da
galáxia S0/Sa NGC 1260,
a 238 milhões de anos-luz de nós.
No raio-X, as duas fontes são parecidas.
Cada imagem tem 2,5 segundos de arco.
A energia emitida, 1×1051 ergs, corresponde a 22 MSol de 56Ni.
Os elementos químicos gerados por reações nucleares no
interior das estrelas e ejetados nas explosões de supernovas,
e pelas perdas contínuas de massa durante a evolução das estrelas,
produzem a evolução química do Universo, e geram o carbono
e outros elementos que mais tarde colapsam formando planetas
terrestres e até seres humanos.
Massa Inicial | Objeto Compacto | Massa Final |
---|---|---|
até 10 MSol | Anã Branca | Menor que 1,4 MSol |
10 a 25 MSol | Estrela de Nêutrons | 1,4 MSol |
acima de 25 MSol | Buraco Negro | 5 a 13 MSol |
A estrela sai da seqüência principal quando 10% de seu hidrogênio total é transformado em hélio. Este é o limite Schenberg-Chandrasekhar, publicado em 1942 pelo brasileiro Mário Schenberg (1914-1990)
e pelo indiano Subrahmanyan Chandrasekhar (1910-1995), e corresponde ao ponto da evolução de uma estrela em que o balanço de pressão no núcleo isotérmico não pode ser mais alcançado. Para uma estrela de cinco massas solares de população I, isto é, que contém metais, a queima de H se dá pelo ciclo CNO. Quando a estrela atinge o ramo das gigantes, a zona de convecção superficial atinge a região onde o hidrogênio já foi transformado em hélio, iniciando a primeira dragagem, trazendo material processado (principalmente N14) para a atmosfera da estrela. Uma segunda dragagem ocorre quando a estrela atinge o ramo gigante assintótico (AGB), e ainda uma terceira ocorre se a estrela tem massa superior a 3 MSol. Após passar outras centenas de milhares de anos no ponto superior direito deste diagrama, chamado de ramo gigante assintótico (AGB), a estrela ejetará uma nebulosa planetária, e o núcleo remanescente será uma estrela anã branca.Já estrelas com massas acima de 10 massas solares evoluem muito rapidamente: uma estrela de 30 massas solares sai da seqüência principal em 5 milhões de anos; uma estrela de 5 massas solares em 70 milhões de anos. Depois da fase de gigantes, passam para supergigantes, com temperaturas nucleares de alguns bilhões de graus Kelvin, permitindo que os processos de acréscimo de partículas ao produzam sucessivamente O16, Mg24, Si28, S32, Cl35, Ca40, Sc45, Ti48, ..., Fe56 em poucas centenas de milhões de anos. Este processo termina em Fe56 porque a energia de ligação do ferro é a mais alta, de modo que quando um Fe56 captura um fóton, ao invés de liberar energia, ele se rompe, concluindo a evolução estelar com a explosão de uma supernova.
A ocorrência de colapsos violentos de estrelas massivas foi registrada pela primeira vez em 1054 d.C., pelos chineses, que observaram a explosão da estrela no centro da nebulosa do Caranguejo, sem saber que se tratava de um colapso. Muitos destes colapsos, que chamamos de supernovas, foram observadas em outras galáxias. A última observada a olho nu foi a SN1987A, na galáxia anã satélite de nossa galáxia, a Grande Nuvem de Magalhães.
A explosão de supernova ocorre porque, após a formação do núcleo de ferro, o núcleo colapsa violentamente em alguns segundos, sob o peso de sua própria atração gravitacional, sem ter outro combustível para liberar energia nuclear. As camadas superiores, contendo aproximadamente 90% da massa colapsam então sobre este núcleo, e após o comprimirem até o limite das leis físicas, são empurradas para fora com velocidades de milhares de quilômetros por segundo. Tanta energia é liberada em um colapso de supernova que ela brilha com a luminosidade de uma galáxia de 200 bilhões de estrelas.
Depois deste espetáculo, a supernova começa a esmaecer, podendo deixar como resíduo um núcleo extremamente compacto, uma estrela de nêutrons. Mesmo a pressão de degenerescência dos elétrons é muito pequena para parar o colapso no estágio de uma anã branca. Os elétrons livres são forçados para dentro do núcleons pelas imensas forças gravitacionais produzidas pelo colapso das camadas externas. O decaimento inverso que então transforma os pares de elétrons e prótons em nêutrons, libera uma imensa quantidade de neutrinos, que pode ser observada aqui na Terra.
Em fevereiro de 1987, vários detectores aqui na Terra registraram os neutrinos associados á explosão da supernova SN1987A, que está a 160 mil anos-luz de distância. Os nêutrons, tendo o mesmo spin dos elétrons, obedecem também ao princípio da exclusão de Pauli, mas sendo 2000 vezes mais massivos, podem ser comprimidos a distâncias 2000 vezes menores do que os elétrons em uma anã branca. Os nêutrons formam então um gás de nêutrons degenerados, que podem parar o colapso da supernova, se a massa inicial da estrela na seqüência principal for menor do que cerca de 25 massas solares. O diâmetro deste núcleo é de cerca de 10 km, e forma uma estrela de nêutrons, como a encontrada no centro da nebulosa do Caranguejo.
A primeira estrela de nêutrons foi detectada em 1967, quando a doutoranda da Universidade de Cambridge Jocelyn Bell Burnell (1943-), trabalhando em um experimento proposto por Antony Hewish (1924-), descobriu que certos sinais pulsados de rádio chegavam com enorme precisão a cada 1,33728 segundos, vindos da constelação de Vulpecula. A maioria dos astrônomos da época acreditava que estes pulsos eram devido a pulsações radiais de estrelas, mas Thomas Gold (1920-) calculou que pulsações deste tipo decairiam muito rapidamente, e sugeriu que os pulsares eram estrelas de nêutrons em rotação. Hewish recebeu o prêmio Nobel em 1974 pela descoberta dos pulsares. Mas a maioria das estrelas de nêutrons não são pulsares, pois sua emissão de rádio já terminou há muito tempo, pois sua vida média é de só 10 milhões de anos, a não ser que esteja em uma binária.
Em 1938, Julius Robert Oppenheimer (1904-1967), que em 1941 lideraria o Projeto Manhattan para a construção da bomba atômica, e George Michael Volkoff (1914-2000) demonstravam que, teoricamente, as estrelas de nêutrons também tinham um massa máxima. Estrelas acima dessa massa se condensariam a uma singularidade, um buraco negro.
Massa (MSol) | Evolução | Final |
---|---|---|
até 0,08 | não queima (reação termo-nuclear) H | anã marrom |
0,08 a 0,5 | só queima H | anã branca de He |
0,5 a 10 | queima H e He | anã branca de C/O |
10 a 11 | deflagração do C ou colapso por captura de elétrons | disrupção total ou estrela de nêutrons |
11 a 100 | queima H,He,C,Ne,O,Si | estrela de nêutrons ou buraco negro |
acima de 100 | criação de pares, SN | disrupção total ou buraco negro |
Estrelas de população III são, por definição, as primeiras estrelas formadas na galáxia. Nos modelos homogêneos de Universo, a nucleosíntese do Big Bang só formou 10-13 a 10-16 de carbono, lítio e berílio, além do hidrogênio, deutério e hélio.
Desde 2001 estão disponíveis modelos teóricos de estrelas de Pop. III, que indicam que, por não terem metais, não formam grãos e portanto não têm perda de massa na seqüência principal de idade zero, e se formam com massa de até 1000 massas solares! Estas estrelas supermassivas evoluem rapidamente e, se não se tornam buracos negros mantendo toda a massa, poluem rapidamente o meio interestelar.
Os buracos negros massivos formados por estas estrelas, colidem e crescem, formando os buracos negros supermassivos detectados nos núcleos de galáxias.
Meio Interestelar
Astronomia e Astrofísica