Em 1956 Chien-Shiung Wu (1912-1997) demonstrou que o decaimento do Co60 ocorria mais antiparalelo ao spin do núcleo, violando a simetria de paridade (espelhamento).
Em 1957 Lev Davidovich Landau (1908-1968) propos que a boa simetria era CP, ou carga e paridade, isto é, trocando-se a partícula pela antipartícula e trocando a paridade simultaneamente. Mas em 1964
o decaimento do kaon demonstrou que a CP é também violada pela força fraca, por
James Watson Cronin (1931-2016) e Val Logsdon Fitch (1923-2015).
Esta observação da violação da carga-paridade
lhes deu o prêmio Nobel de 1980,
e é fundamental para
explicar por que existe mais matéria do que antimatéria
no Universo, como proposto por Andrei Dmitrievich Sakharov (1921-1089) em 1967 (Prêmio Nobel da Paz em 1975).
A existência do áxion,
um bóson hipotético de spin zero,
foi postulada em 1977
pelo italiano Roberto Daniele Peccei (1942-2020) e pela australiana Helen Rhoda Arnold Quinn
(1943-) (Physical Review Letters, 38, 1440)
para explicar
porque as interações fortes e eletromagnéticas conservam paridade (P) e
carga/paridade (CP), apesar das interações fracas
violarem estas simetrias. A falta de violação
de P e CP nas interações fortes é conhecida como
"o grande problema de CP",
pois requer um parâmetro de interação na força forte
extremamente pequeno (<10-9), mas não nulo.
O áxion resolve este problema,
e é um candidato a matéria escura [Jihn E. Kim, 2014, arXiv 1409.3609v1].
Embora nunca tenham sido diretamente observados,
sua teoria prediz que os áxions são criados
quando fótons interagem com
campos magnéticos ou cargas elétricas,
o que acontece no centro das estrelas,
de modo que observações astrofísicas
podem colocar limites nas taxas de produção de áxions.
Existem também outras propostas de solução do problema de CP,
como impor que a massa de um quark seja nula, mu = 0,
ou assumir que as simetrias P e CP são
quebradas espontaneamente, mas são boas simetrias.
Uma simetria global ou rígida é a mesma em todo o espaço-tempo
e geralmente leva a uma quantidade conservada.
Permitir que as transformações da simetria variem continuamente de um local no espaço-tempo para outro requer a introdução de novos
graus de liberdade "gauge" mediando as forças.
Uma teoria com simetria de gauge
pode ser escrita em termos
de potenciais em que somente diferenças de
potenciais
são significativas, isto é, podemos adicionar uma
constante sem alterar os valores. Por exemplo, um esquilo
pode caminhar sobre um fio de alta tensão porque somente
diferenças de potenciais são importantes. Estas
teorias portanto podem ser renormalizadas.
É este princípio de transformações
de gauge que permitiu a construção do modelo padrão
da força forte e eletrofraca entre as partículas elementares
baseados no grupo local gauge
.
A quebra de uma simetria global leva a um bóson de Goldstone, sem massa, escalar. Na
quebra de simetrias locais (gauge),
o bóson de Goldstone [Jeffrey Goldstone (1933-)]
conspira com o campo gauge, sem massa,
formando um campo vetorial massivo, no fenômeno conhecido como
mecanismo de Higgs [Peter Ware Higgs (1929-)].
Um exemplo é a quebra de simetria da força eletrofraca,
que no modelo de Glashow-Weinberg-Salam onde o grupo gauge
se quebra no grupo U(1) do eletromagnetismo. Neste contexto,
as partículas vetoriais massivas correspondem aos bósons W e Z
que mediam a força fraca, de curta distância. Na quebra de simetria,
todas as partículas exceto o fótons adquirem um estado de
polarização
adicional e tornam-se massivos.
Uma aplicação especulativa do mecanismo de
Higgs é a da Teoria de Grande Unificação (GUT),
unificando a força forte com a eletrofraca,
com um grande grupo gauge
SU5.
Na teoria padrão de campos, existem seis léptons e seis quarks.
Esta teoria é não-abeliana, isto é, as transformações
dependem da ordem.
Os mediadores da força eletro-fraca são o fóton, sem massa,
e as três partículas de campo (bósons)
, e
. A força
forte é carregada pelos oito glúons, todos sem massa, e a teoria
prediz a existência do bóson de Higgs , cujo campo gera
a massa de todas as outras partículas. A procura direta do bósons de
Higgs
levou à detecção nos experimentos Atlas e CMS do
Large Hadron Collider no CERN em 2012.
O valor atual dos dois experimentos
é mH=125,36±0,37 (incerteza estatística) ±0,18 (incerteza sistemática) GeV/c2
[Georges Aad e a colaboração ATLAS,
Physical Review D 90, 052004 (2014)].
François Englert (1932-) e Peter Higgs receberam o prêmio Nobel de 2013.
Por simetria com o decaimento do nêutron, o próton deve decair em:
com vida média de
Como a vida média observada do próton é
anos, a massa da quebra de simetria da GUT deve ser
mGUT > 1016 GeV/c2.
Os áxions são
pseudo bósons de
Yoishiro Nambu (1921-2015) e Jeffrey Goldstone (1933-), com
spin zero,
propostos por Roberto D. Peccei (1942-) e Helen R. Quinn (1943-),
de Stanford, em 1977, no Physical Review Letters, vol. 38, no. 25, 1440,
para explicar a simetria que suprime a grande violação CP
(carga-paridade) na QCD (cromodinâmica quântica).
Os áxions têm acoplamentos extremamente fracos com a matéria e
radiação, e massa, no modelo DFSZ, dada por:
onde é a constante de decaimento dos áxions.
Mais precisamente, fAN = v, onde N é a anomalia de cor e
v é o valor esperado do vácuo quando ocorre a quebra
de simetria de Peccei-Quinn.
O parâmetro v determina a massa e a constante de interação
dos áxions e é o parâmetro livre da teoria.
Para temperaturas
kT=v, o vácuo espontaneamente quebra a simetria UPQ(1).
O modelo original dos áxions assumia que
GeV, a escala da quebra de simetria eletrofraca,
e tinha dois dubletes de Higgs como ingredientes mínimos.
Ao exigir conservação de sabor nos três níveis,
a massa do áxion e sua constante de decaimento
estão completamente vinculados
em termos de um parâmetro (tanβ):
a razão do valor esperado do vácuo
dos dois campos de Higgs. Como esta parametrização resultava
em um áxion com massa de 1,8 MeV/c2, não observado, dois novos modelos
com GeV foram propostos:
KSVZ = áxion hadrônico
(Jihn E. Kim, 1979, Physical Review Letters, 43, 103;
Mikhail A. Shifman, Arkady I. Vainshtein e V.I. Zakharov,
1979, Physical Review Letters, 42, 297),
que, com somente um dubleto de Higgs, introduz um novo quark pesado (Q)
que carrega a carga de Pecci-Quinn, enquanto os quarks comuns e os léptons
não carregam.
O outro modelo é o DFSZ = áxion GUT (Michael Dine, Willy Fischler & Mark
Srednicki, 1981, Physics Letters B, 104, 199), que não introduz novos
quarks mas requer dois dubletos de Higgs e todos os quarks e léptons
carregam carga de Pecci-Quinn, isto é, estes áxions
interagem com núcleons, elétrons e fótons.
Todos modelos contêm
pelo menos um bóson escalar "singlete" eletrofraco que adquire o
valor esperado e quebra a simetria de Peccei-Quinn. Este bóson, o
áxion invisível,
com uma constante de decaimento alta,
fA~1012 GeV, é um bom candidato a
matéria fria escura do Universo, que corresponde a
23% da massa crítica, enquanto a matéria bariônica
corresponde a somente 4%.
Richard A. Battye e E. Paul S. Shellard publicaram em 1994 no Nuclear Physics B,
423, 260 um artigo prevendo que se a massa dos áxions estiver
entre 6 e 2500 eV/c2,
os áxions, sendo não relativísticos,
seriam a massa fria escura (CDM-cold dark mass) do Universo.
Deveriam existir aproximadamente 1014 axions/cm3
se sua massa fosse 10 eV/c2 (Richard Bradley,
John Clarke, Darin Kinion, Leslie J. Rosenberg, Karl van Bibber,
Seishi Matsuki, Michael Mück & Pierre Sikivie,
Reviews of Modern Physics. 2003, vol. 75, 3, p. 777).
Como a razão entre a densidade de massa dos áxions e a
densidade crítica para Universo plano é dada por:
a massa do áxion precisa ser maior do que 1 eV/c2 ou teríamos .
O segundo fator vem do fato da massa do áxion surgir para temperatura
, como todo mecanismo de Higgs.
No modelo de Kim, a massa do áxion
é proporcional à massa do quark pesado Q:
onde
,
, sendo o escalar de Higgs
complexo, singleto de interação fraca.
No modelo de Kim, os áxions se
acoplam a núcleons através da mistura com o píon neutro.
No modelo DFSZ a massa é
Os áxions deste tipo podem causar uma
distorção na radiação do fundo do Universo,
já que, neste modelo, os áxions
interagem diretamente com os fótons.
A massa
do áxions precisa ser menor do que 10 meV/c2 ou sua produção
numerosa no ramo das estrelas gigantes causaria uma enorme
refrigeração no núcleo destas estrelas, não observado.
Uma massa menor que
10 meV/c2 leva a um valor esperado da energia do vácuo maior que GeV.
Como o modo principal de decaimento do áxion a é
,
os áxions podem ser detectados estimulando-se sua conversão
em fótons em um forte campo magnético. Experimentos no
Lawrence Livermore National Laboratory
e na Universidade da Flórida estão testando massas
eV/c2
(Christian A. Hagmann, S. Chang e Pierre Sikivie, 2001, Physical Review D, 63, 125018).
Na Kyoto University estão buscando o áxion próximo de
eV/c2
(Ikuyo Ogawa, S. Matsuki e K. Yamamoto, 1996, Physical Review D, 53, 1740).
Em 1992, Jordi Isern, Margareta Hernanz e Enrique García-Berro publicaram
um artigo no Astrophysical Journal, 392, L23,
usando o valor de dP/dt da anã branca G117-B15A,
publicado por S.O. Kepler et al. em 1991 no Astrophysical Journal, 378, L45,
para limitar a massa dos áxions para
meV/c2.
O valor de dP/dt publicado em 1991, maior do que o esperado,
poderia ser devido ao esfriamento por áxions.
No artigo "The potential of the variable DA white dwarf G117-B15A as a tool
for Fundamental Physics" de
Alejandro H. Córsico, Omar G. Benvenuto, Leandro G. Althaus, Jordi Isern e
Enrique García-Berro, publicado em 2001 no
New Astronomy, vol. 6, no. 4, 197,
Córsico e colaboradores da Universidad Nacional de La Plata, na Argentina,
e da Espanha, calculam um modelo de anã-branca com os
três períodos principais de G117-B15A e,
usando a taxa de produção de energia por
áxions no modelo DFSZ predita por Masayuki Nakagawa,
Tomoo Adashi, Yasuharu Kohyama e Naoki Itoh, da Sophia University,
Tokyo, publicadas em 1988 no Astrophysical Journal, 326, 241,
onde gae
é a constante de acoplamento de áxions e elétron,
Z e A são a carga e a massa atômica dos núcleons,
os
para gravidade
e fator de cristalização
.
A contribuição dos fonons é cerca de 3 vezes menor do
que a de rede.
Comparação da emissão de áxions e neutrinos no núcleo de uma anã branca de 0,6 M
Sol.
Note entretanto que a emissão de áxions pode ser renormalizada por não sabermos
o valor da energia quando ocorre a quebra de simetria.
Da mesma forma que na produção de neutrinos, podemos ter
onde a é um áxion;
o cálculo da taxa de produção de áxions é baseado na
teoria eletrofraca de Steven Weinberg (1933-2021), publicada no
"A Model of Leptons ", Physics Review Letter, 19, 1264 em 1967, e Abdus Salam (1926-1996),
1963, "Renormalizable Electrodynamics of Vector Mesons", Physical Review,
130, 1287.
A taxa de perda de energia por áxions é sempre menor que
a taxa de perda total por neutrinos, incluindo produção de
pares, fotoneutrinos, plasma neutrinos e bremsstrahlung,
para anãs brancas com núcleo de carbono e temperaturas
nucleares acima de K e densidades acima de
, desde que a constante de
acoplamento gae
de Peccei-Quinn seja menor do que
.
De acordo com Jihn E. Kim (1997),
"Cosmic Axion", no "2nd International
Workshop on Gravitation and Astrophysics, ICRR, University of Tokyo,
para fA>106GeV, os modelos KSVZ e DFSZ
têm limites similares, apesar de terem constantes de acoplamento
um pouco diferentes.
No Microwave cavity searches for dark-matter axions
(Reviews of Modern Physics. 2003, vol. 75, 3, p. 777),
Richard Bradley, John Clarke, Darin Kinion, Leslie J. Rosenberg,
Karl van Bibber, Seishi Matsuki, Michael Mück &
Pierre Sikivie discutem como o áxion é um bom candidato para
a matéria escura do Universo e como se pode, em princícipio,
detectá-los em uma cavidade de microondas permeada por
um campo magnético intenso, onde eles se convertem em fótons
quasi-monocromáticos
pela interação de Primakoff
[Henry Primakoff (1914-1983) 1937, Physical Review, 51, 990],
isto é,
interação com o campo eletromagnético
.
Devido à sua baixa interação, mesmo com
1014 axions/cm3
se sua massa fosse 10 eV/c2, eles produziriam somente 10-23W,
de modo que sua detecção requer detectores com ruído
muito próximo do ruído quântico.
A não detecção pelo CERN Axion Solar Telescope limita a massa a 0,02 eV/c2 (K. Zioutas et al. 2005, Physical Review Letters, 94, 121301),
correspondente a um acoplamento áxion-fóton
gaf<1.16×10-10 GeV-1.
A relação entre a constante de acoplamento e o valor esperado
do vácuo no momento da quebra de simetria é
já que
, onde é a massa do elétron.
Se v>109, então ma<3×10-2 eV/c2.
Córsico e colaboradores estimam o
limite máximo de
esfriamento por áxions consistente com as medidas de Kepler Oliveira
[S.O. Kepler,
José Eduardo da Silveira Costa, Bárbara Garcia Castanheira,
Donald Earl Winget,
Fergal Mullally,
R. Edward Nather,
Mukremin Kilic, Ted von Hippel,
Anjum S. Mukadam &
Denis J. Sullivan.
"Measuring the Evolution of the Most Stable Optical Clock G 117-B15A",
2005,
Astrophysical Journal,
634, 1311-1318]
e limitam a massa massa dos áxions
a
meV/c2, com 95% de confiança.
Limites dos experimentos até 2006
Jordi Isern, Silvia Catalan, Enrique Garcia-Berro & Santiago Torres, no
artigo Axions and the white dwarf luminosity function,
2008, Astrophysical Journal, 682, L109, usam a função de luminosidade das anãs
brancas do SDSS medida por
Steven DeGennaro, Ted von Hippel,
Don Earl Winget, S.O. Kepler, Atsuko Nitta, Detlev Koester
& Leandro Althaus, 2008, Astronomical Journal, 135, 1,
para determinar uma massa de 5 meV/c
2 para os áxions.
Kyu Jung Bae, Ji-Haeng Huh, Jihn E. Kim, Bumseok Kyae, Raoul D. Viollier,
2009, Nuclear Physics B, 817, 58,
White dwarf axions, PAMELA data, and flipped-SU(5), propõem um novo modelo
de áxions eletrofílicos com massa de 0,5 meV/c
2, para explicar as medidas.
Em dois artigos de 2012,
Alejandro Hugo Córsico, Leandro Gabriel Althaus, Marcelo Miguel Miller Bertolami, Alejandra Daniela Romero, Enrique García-Berro, Jordi Isern & S.O. Kepler,
The rate of cooling of the pulsating white dwarf star G117-B15A: a new asteroseismological inference of the axion mass,
publicado no Monthly Notices of the Royal Astronomical Society, 424, 2792, e
Córsico, Althaus, Romero, Anjum S. Mukadam, García-Berro, Isern, Kepler & Mariela A. Corti,
An independent limit on the axion mass from the variable white dwarf star R548,
publicado no
Journal of Cosmology and Astroparticle Physics, 12, 10,
obtiveram máxion=17±3 meV,
para que as medidas de variação dos períodos de pulsação destas duas anãs brancas pulsantes
sejam compatíveis com os modelos teóricos.
Monopolos
No artigo de Georg G. Raffelt, do Max Planck Institut fur Phisik,
publicado em 2000 "Astrophysics probes of particle physics" no
Physics Reports, 333-334, 593, ele
explica que
o plasma quente e denso estelar é uma fonte poderosa de partículas de
baixa massa e fracamente interagentes, principalmente neutrinos,
áxions e grávitons. As observações astrofísicas
impõem os limites
mais restritos nas propriedades destas partículas.
Por exemplo, Gerardus 't Hooft (1946-) (1974, Nuclear Physics B, 79, 276)
e Alexander M. Polyakov (1974, ZhETF Pis'ma, 20, 430)
mostraram que as teorias de grande unificação
(GUT) em que o grupo U(1) do eletromagnetismo é, por
transformação de gauge, um subgrupo de um grupo maior
SU(2) ou SU(3),
predizem a existência de
monopolos magnéticos
primordiais (M)
como soluções regulares das equações de campo,
com massas da ordem de , onde W é um típico
bóson vetorial. Os monopolos
ficariam presos nas estrelas e catalizariam o decaimento
de núcleons pelo efeito de
Rubakov-Callan de espalhamento de monopolos por bárions
(Cutis G. Callan Jr. 1982, Physical Review D, 26, 2058, Nuclear Physics B, 212, 391;
Valerii Anatol'evitch Rubakov (1955-), 1982, Nuclear Physics B, 203, 311).
Artigo na Nature de Geoff Brumfiel em setembro
de 2009 explica que começam a aparecer evidências da existência de monopólos magnéticos.
A consequente liberação de energia é restringida pela
propriedades
observadas das estrelas anãs-brancas e estrelas de nêutrons.
Pseudo-escalares: são quantidades escalares que mudam de sinal
quando o sentido de orientação do sistema de coordenadas
é invertido.
Matéria e antimatéria: uma relação não muito simétrica,mostra que a assimetria, normalmente de 10%, pode chegar a 80% em alguns experimentos envolvendo o decaimento de mésons B em três partículas.
Experimento de matéria escura e
Explicação com ficção (pdf)
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Modificada em 3 jun 2020