O Universo como um Todo
Cosmologia
Via Láctea
Apesar de fortes restrições interiores, o homem teve aos poucos
que abandonar a noção de que tinha qualquer posição
central no Universo, e no começo do século XX reconheceu
que vivemos num planeta nada excepcional, em torno de uma
estrela nada excepcional,
o Sol, localizada quase na extremidade
de uma galáxia normal, a
Via Láctea.
Esta galáxia faz parte de um
grupo de galáxias, o
Grupo Local,
localizado
na periferia de um
grande cúmulo de galáxias.
Mesmo este cúmulo, o cúmulo de Virgem,
é pequeno em relação aos grandes cúmulos de galáxias
que podemos observar em outras partes do Universo.
Nossa localização no Universo é portanto insignificante.
Aglomerado de Galáxias de Virgem e Distribuição de Galáxias em Grande Escala
Em 1912
Vesto Melvin Slipher (1875-1969)
descobriu que as linhas espectrais das estrelas na galáxia
de Andrômeda (M31)
mostravam um enorme deslocamento para o azul, pelo efeito Doppler,
indicando que esta galáxia está se aproximando do Sol,
a uma velocidade de 300 km/s.
Slipher iniciou então um trabalho sistemático
(1917, Proceedings of the American Philophical Society, 56, 403)
que levou duas décadas, demonstrando
que das 41 galáxias que ele estudou, a maioria apresentava
deslocamento espectral para o vermelho, indicando que
as galáxias estavam se afastando de nós. Slipher descobriu
que quanto mais fraca a galáxia e, portanto mais distante,
maior era o deslocamento para o vermelho de seu espectro (redshifht).
O Universo em Grande Escala
Hubble
Duas linhas importantes na maioria dos espectros de galáxias são as linhas H e K do cálcio, em Ca II 3933,67 Å e 3968,47 Å.
Em 1923, Edwin Powell Hubble (1889-1953), usando o
recém instalado telescópio de 2,5 m de diâmetro
do Monte Wilson, na Califórnia, conseguiu identificar as estrelas
individuais na galáxia de Andrômeda e, medindo sua distância
como mais de 2 milhões de anos-luz, demonstrou
conclusivamente que
nossa galáxia,
com 100 mil anos-luz de extensão,
não é
a única no Universo
(1926, Extra-galactic nebulae. Astrophysical Journal, 64, 321).
Em 1929 Hubble
medindo o deslocamento para o vermelho nas
linhas espectrais das galáxias observadas por
Milton La Salle Humason (1891-1972),
e medindo ele próprio suas distâncias,
descobre que as galáxias estavam se
afastando de nós com velocidades proporcionais à sua distância,
isto é, quanto mais
distante a galáxia, maior sua velocidade de afastamento.
Hubble publicou seus resultados para 24 galáxias em 1929,
no artigo
A relation between distance and radial velocity among extra-galactic nebulae, Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America, 15, 168,
e dois
anos mais tarde, junto com Humason, estendeu seus resultados
por um fator de 18 em distância.
Georges-Henri Édouard Lemaître (1894-1966),
em seu artigo de 1927, Un univers homogène de masse constante et de rayon croissant, rendant compte de
la vitesse radiale des nébuleuses extra-galactiques. publicado
no
Annales de la Société scientifique de Bruxelles, Sèrie A, 47, 49
já tinha chegado à mesma conclusão.
A relação entre distância e velocidade constituiu
a primeira evidência para a expansão do Universo, já
predita pelo russo Alexander Friedmann (1888-1925)
em dois artigos publicados
no Zeitschrift für Physik em 1922 e 1924, e pelo
belga Georges-Henri Édouard
Lemaître (1894-1966)
em 1927, no
Annales de la Société Scientifique de Bruxelles.
Seja
o deslocamento para o
vermelho das linhas espectrais (redshift):
A expansão não indica que estamos no
centro do Universo. Em um bolo com passas em expansão,
todas as passas se afastam umas das outras.
Modelo do bolo de passas:
Num tempo ti=0, as distâncias das passas em relação a uma passa de
referência são:
- passa A: di= 1 cm
- passa B: di= 3 cm
- passa C: di= 4 cm
Após 1 hora, o bolo dobra de tamanho, e as distâncias entre as passas serão:
- passa A: df= 2 cm
- passa B: df= 6 cm
- passa C: df= 8 cm
Portanto as velocidades são:
- passa A: v=1 cm/h
- passa B: v=3 cm/h
- passa C: v=4 cm/h
Se nesse momento fizermos um gráfico da velocidade de afastamento
das outras passas em funçáo de suas distâncias, acharemos uma reta com uma
declividade constante igual a
C = (1cm/h)/2cm = (3cm/h)/6cm = (4cm/h)/8cm = 0,5/h
que é a "constante de afastamento" das passas.
Qual o significado dessa constante?
Podemos pensar o seguinte: Se a passa A, se movendo a uma velocidade de
1cm/h, está a uma distância de 2cm, há quanto tempo atrás ela estava a uma
distância de 0 cm?
O tempo para se mover de 0 até a distância atual é dado por: t = d/v = 2cm/1cm/h = 2h
Certamente podemos fazer o mesmo cálculo para a passa B e para a passa C e
chegaremos ao mesmo tempo. Note que fizemos esse cálculo assumindo que elas
se moveram com velocidade constante, o que não é necessariamente verdade!
O tempo para se mover de 0 até a distância atual é exatamente igual ao inverso da constante C:
t = 1/C = 1h/0,5
Note que em geral precisamos utilizar o
efeito Doppler
relativístico
para estimar a velocidade a partir do deslocamento das linhas
espectrais das galáxias,
:
A Lei de Hubble é a última etapa da escada de distância, que permite estimar a distância dos objetos mais distantes,
como o recordista em distância, um quasar a z=14.
O Paradoxo de Olbers:
O enigma da escuridão da noite
Uma das constatações mais simples que podemos fazer é que o céu
é escuro, à noite. É estranho que esse fato, sobre o qual ninguém
em sã consciência colocará qualquer dúvida, e que à primeira vista
parece tão compreensível para qualquer pessoa,
tenha dado tanto o que pensar durante tanto tempo.
Imagem obtida pelo Telescópio Espacial Hubble
mantendo a câmara aberta por 10 dias em uma região aparentemente
sem estrelas do céu, ou a de 12,5 horas do do James Webb Space Telescope.
Aparentemente a primeira pessoa que reconheceu as implicações cosmológicas da escuridão noturna
foi Johannes Kepler
(1571-1630), em 1610. Kepler rejeitava veementemente a idéia de um universo
infinito recoberto de estrelas, que nessa época estava ganhando vários
adeptos principalmente depois da comprovação por Galileu Galilei de
que a Via Láctea era composta de uma miríade de estrelas, e usou
o fato de que o céu é escuro à noite como argumento para provar que
o Universo era finito, como que encerrado por uma parede cósmica escura.
A questão foi retomada por Edmund Halley (1656-1742) no século XVIII e
pelo médico e astrônomo
Heinrich Wilhelm Mattäus Olbers (1758-1840) em 1826,
quando passou a ser conhecida como paradoxo de Olbers.
Olbers também descobriu os dois asteróides
(planetas menores) Palas (1802) e Vesta (1807).
O problema é o seguinte: suponha que as estrelas estejam distribuídas
de maneira uniforme em um espaço infinito. Para um observador em
qualquer lugar,
o volume de uma esfera com centro nele aumentará com
o quadrado do raio dessa esfera
(dV =
4R2 dr).
Como a energia das estrelas cai com o quadrado da distância, a energia total recebida é E∝dV×E*/R2≈E*.
Portanto, à medida que ele olha mais
longe, vê um número de estrelas que cresce com o quadrado da distância.
Como resultado, sua linha de visada sempre interceptará uma estrela
seja lá qual for a direção que ele olhe.
Uma analogia simples de fazer é com uma floresta de árvores.
Se estou no meio da floresta, a meu redor vejo as árvores
bem espaçadas entre si, mas quanto mais longe olho, mais diminui o
espaçamento entre as árvores de forma que no limite da minha linha de
visada as árvores estão todas juntas e nada posso ver além delas.
Como o brilho das estrelas cai com o quadrado da distância
(demonstrado por Johannes Kepler em seu Optica em 1604)
enquanto o número de estrelas aumenta com o quadrado da distância,
o céu em média deveria ser tão brilhante quanto
a superfície de uma estrela média, pois estaria
completamente coberto delas.
Mas obviamente não é isso que vemos e, portanto, o raciocínio
está errado.
Por que?
Algumas propostas de solução:
1. A poeira interestelar absorve a luz das estrelas.
Foi a solução proposta por Olbers, mas tem um problema.
Com o passar do tempo, à medida que fosse absorvendo
radiação, a poeira entraria em equilíbrio térmico com as estrelas,
e passaria a brilhar tanto quanto elas. Não ajuda na solução.
2. A expansão do Universo degrada a energia, de forma que a luz de objetos
muito distantes chega muito desviada para o vermelho e portanto muito fraca.
O desvio para o vermelho ajuda na solução,
pois o desvio é proporcional ao raio do Universo,
mas os cálculos
mostram que a degradação
da energia pela expansão do Universo não é suficiente para
resolver o paradoxo.
(The extragalactic background light and a definitive resolution of Olbers's paradox,
Paul S. Wesson, K. Valle, & R. Stabell, 1987, Astrophysical Journal, 317, 601).
3. O Universo não existiu por todo o sempre.
Essa é a solução atualmente aceita para o paradoxo. Como o Universo
tem uma idade finita, e a luz tem uma velocidade finita, a luz das estrelas
mais distantes ainda não teve
tempo de chegar até nós. Portanto, o universo que enxergamos
é limitado no espaço, por ser finito no tempo.
A escuridão da noite é uma prova de que o Universo teve um
início.
Usando-se a separação média entre as estrelas de 1 parsec,
e o raio médio como o raio do Sol, de 700 000 km,
obtém-se que o céu seria tão luminoso quanto a superfície
do Sol se o Universo tivesse um raio de 2 ×1015 parsecs,
equivalente a 6,6 ×1015 anos-luz.
Como o Universo só
tem 13,8 bilhões de anos, a idade finita do Universo é
a principal explicação ao Paradoxo de Olbers.
Portanto o Paradoxo de Olbers e a expansão do Universo resultante
da Lei de Hubble são consistentes, o Universo é finito no tempo.
Podemos estimar a idade do Universo to,
calculando o tempo que as galáxias distantes,
movendo-se à mesma velocidade de hoje, levaram
para chegar aonde estão.
Como a lei de Hubble,
que relaciona a velocidade de expansão da galáxia, v,
com a distância a esta, d, é dada por
Atualmente o valor da constante de Hubble,
H, está medido diretamente das galáxias entre
67 km/s/Mpc e 74 km/s/Mpc, resultando em to
≤
13 a 15 bilhões de anos
(1 Mpc = mega parsec = 3,086 × 1019 km).
Relatividade Geral
Em 1905 Albert Einstein
(1879-1955) havia proposto a teoria
da relatividade especial (Annalen der Physik, 323, 13, 639). Esta teoria propunha que a velocidade
da luz no vácuo é constante, independente da velocidade da fonte,
que a massa depende da velocidade, que há dilatação do
tempo durante movimento em alta velocidade,
que massa e energia são equivalentes e que nenhuma
informação ou matéria pode se mover mais rápido
do que a luz no vácuo.
A teoria é especial somente porque estava restrita
ao caso em
que os campos gravitacionais fossem pequenos, ou desprezíveis.
Embora a teoria de relatividade geral, proposta por Einstein
em 1916, só difira da teoria da gravitação
de Isaac Newton (1643-1726) em poucas
partes em um milhão na Terra, em grandes dimensões e grandes
massas, como o Universo, ela resulta bastante diferente.
A teoria da relatividade geral
(Albert Einstein, 1916, Die Grundlage
der allgenmeinen Relativitätstheorie,
Annalen der Physik, 354, 769)
é universal no sentido de ser
válida mesmo nos casos em que os campos gravitacionais não são
pequenos. Trata-se na verdade da teoria da gravidade,
descrevendo a gravitação como a ação das massas
nas propriedades do espaço e do tempo, que afetam o
movimento dos corpos e outras propriedades físicas.
Enquanto na teoria de Newton o espaço é rígido,
descrito pela geometria Euclidiana [Euclides de Alexandria (c.365-300 a.C.)],
na relatividade geral
o espaço-tempo é distorcido pela presença da matéria que
ele contém.
Gij - Λgij =
8πG/c4 Tij
onde Gij é o tensor quadrimensional espaço-tempo e Tij o tensor energia-momentum.
Um ano depois de propor a relatividade geral, em 1917, Einstein
publicou seu artigo
histórico sobre cosmologia
Considerações Cosmológicas sobre a Teoria da Relatividade
[Sitzungsberichte der Königlich Preußischen Akademie der Wissenschaften (Berlin), Seite 142],
construindo um modelo esférico do Universo. Como as equações
da Relatividade Geral não levavam diretamente a um Universo
estático de raio finito,
mesma dificuldade encontrada com a teoria de Newton,
Einstein modificou suas equações,
introduzindo a famosa constante cosmológica, para obter
um Universo estático,
já que ele não tinha nenhuma razão
para supor que o Universo estivesse se expandindo ou contraindo.
A constante cosmológica age como uma força repulsiva que
previne o colapso do Universo pela atração gravitacional.
A modificação foi feita adicionando o termo Λgij ao tensor energia-momentum.
O holandês Willem de Sitter (1872-1934)
demonstrou em 1917 que a constante cosmológica
permite um Universo em expansão mesmo se ele não contivesse
qualquer matéria e, portanto, ela é também chamada de energia do
vácuo. As observações mostram que o Universo é
relativamente
homogêneo em escalas de 100 milhões de anos luz e maiores.
Para escalas menores, podemos ver estrelas, galáxias e aglomerados
de galáxias, mas em larga escala os elementos de volume são
homogêneos.
A hipótese que o Universo seja homogêneo e isotrópico
em grande escala
é chamada de Princípio Cosmológico.
A previsão da relatividade geral de que um raio de luz é desviado
ao passar por um corpo massivo por ter massa equivalente à sua energia m=E/c2 foi confirmada em 1919 por uma
expedição dupla chefiada pelo astrônomo inglês Sir
Arthur Stanley Eddington (1882-1944)
[The
Observatory, 42, 119 (1919)]
a Sobral, no Ceará, e à ilha de
Príncipe, na África,
para medir a posição das estrelas durante
um eclipse total do Sol de 29 de maio de 1919,
na constelação do Touro, com as 13 estrelas brilhantes das Hyades
no campo.
A expedição ao Brasil foi coordenada pelo inglêses
Andrew Claude de la Cherois Crommelin (1865-1939)
e
Charles Rundle Davidson (1875-1970)
e retornou com 7 fotografias
boas [The Observatory, 42, 368 (1919)],
Nature 104, 280-281 (1919),
Charles Rundle Davidson,
The Observatory, 45, 224 (1922).
Medindo a distância entre as
estrelas à esquerda do Sol e as estrelas à direita do Sol
durante o eclipse, quando as estrelas estão visíveis
pelo curto espaço de tempo do eclipse, e comparando com
medidas das mesmas estrelas obtidas 2 meses mais tarde, quando
elas eram visíveis à noite, Eddington encontrou
que as estrelas pareciam mais distantes umas das outras
durante o eclipse. Isto implica que os raios de luz destas
estrelas foram desviados pelo campo gravitacional do Sol,
como predito por Einstein. O desvio previsto era de
a uma distância de Δ
raios do Sol do centro do Sol.
As duas expedições obtiveram
1,98± 0,12" (interno) ±0,30" (sistematico)
e
1,61± 0,30" (interno), confirmando a teoria
[Frank Watson Dyson (1868-1939), Arthur S. Eddington & Charles Davidson, 1920,
Philosophical Transactions of the Royal
Society of London, Series A, 220, 291;
Einstein's
Jury: the race to test relativity,
Jeffrey Crelinsten, 2006, Princeton University Press].
A única razão de realizar estas medidas durante um eclipse é
que durante um eclipse podemos enxergar e medir as estrelas
próximas ao disco do Sol.
O físico russo Orest Danilovich Chwolson (1852-1934) foi o primeiro a publicar,
em 1924 (Astronomische Nachrichten, 221, 329)
o cálculo do anel formado por uma fonte perfeitamente alinhada com uma lente,
depois publicado por Einstein em 1936 (Science, 84, 506) e chamado
de Anel de Einstein. Se houver desalinhamento, o observador verá um arco. O observador poderá ver multiplos arcos da mesma fonte, dependendo da forma, alinhamento e posição da fonte, lente e observador.
Dennis Walsh, R. F. Carswell e R. J. Weymann, R. J (1979, Nature, 279, 381)
foram os primeiros a publicar uma detecção de lente gravitacional, do quasar duplo SBS 0957+561. Se o lenteamento for fraco, sua detecção se dá estatisticamente, pelas distorções coerentes na imagem.
Douglas S. Robertson, William E. Carter & William H. Dillinger
publicaram em
1991, na Nature, 349, 768,
as medidas de posição
de diversos objetos astronômicos
a várias distâncias angulares do Sol usando interferometria
VLBI (Very Long Baseline Interferometria,
que utiliza rádio telescópios em diversos continentes simultaneamente,
comprovando que as medidas concordam com a previsão da Relatividade
Geral até 0,02%.
Imagem da lente
gravitacional obtida pelo Telescópio Espacial Hubble
no grupo 0024+1654.
Existem cerca de 120 lentes gravitacionais fortes conhecidas,
sendo que destas cerca de 18 são anéis,
como a da galáxia SDSS J162746.44-005357.5, à direita.
As lentes gravitacionais são importantes também porque nos ajudam
a mapear a matéria escura do Universo, que só interage por gravidade.
Outra comprovação
importante da Teoria da Relatividade Geral
foi a observação do deslocamento do periélio do planeta
Mercúrio,
de 43" por século, já detectado pelo francês Urbain
Jean Joseph Le Verrier (1811-1877) em 1859,
que não pode ser explicado pela teoria Newtoniana, mas
é perfeitamente descrito pela teoria da relatividade.
Enquanto na teoria de Newton somente a massa contribui para
a gravidade, na teoria de Einstein a energia cinética
do movimento dos planetas também contribui.
Representação exagerada
do deslocamento do periélio de Mercúrio com o tempo.
O espaço-tempo
é perturbado pela presença da massa do Sol,
exatamente como predito pela Teoria da Relatividade Geral.
O periélio de Vênus também se desloca,
mas de 8,6" por século,
e o da Terra de 3,8" por século, ambos já medidos.
Pulsar
na Nebulosa do Caranguejo, no raio X (NASA/CXC/ASU/) e
no ótico (NASA/HST/ASU/J. Hester et al.)
Mas a observação mais precisa ainda é a da medida
da taxa de redução do período orbital do pulsar binário
PSR 1913+16 - duas estrelas de nêutrons com 1,438 e 1,390 M
Sol -
descoberto por
Russell Alan Hulse (1950-)
e
Joseph Hooton Taylor Jr. (1941-)
em 1974,
utilizando a antena de 305 m de diâmetro
do rádio-telescópio de Arecibo.
O período orbital
é de 7,75 horas, e o período
de rotação do pulsar de 59 milisegundos.
A taxa de redução do período orbital,
de (2,423±0,001)×10
-12 s/s=75,8
milionésimos de segundos por ano, concorda com precisão de
0,16%
com o cálculo de perda de energia devido à emissão de ondas
gravitacionais, previstas pela teoria de Einstein.
A teoria da relatividade geral prediz que
massas aceleradas emitem ondas gravitacionais,
da mesma maneira que cargas elétricas aceleradas produzem
ondas eletromagnéticas:
Egravitacional=-Gm1m2/r ↔ ECoulomb=-Kq1q2/r
As ondas gravitacionais são perturbações
na curvatura do espaço-tempo e se propagam à velocidade da luz.
Uma onda gravitacional proveniente de uma fonte intensa, como um
pulsar binário próximo, altera as distâncias, mas por fatores
da ordem de 10
-21.
Esta descoberta
lhes valeu o prêmio Nobel de física de 1993. As medidas de 35 anos de observações foram
publicadas
por Joel M. Weisberg & Yuping Huang em 2016.
O LIGO consiste de dois conjuntos de duas antenas de 4 km de extensão, uma no estado de Washington e outra na Lousiana. Atualmente há outras antenas na
Itália (Virgo) e no Japão (Kagra), para ajudar na localização da fonte no céu.
Em 14 de setembro de 2015, o LIGO detectou diretamente pela primeira vez na Terra as ondas gravitacionais previstas por Einstein em 1916,
causadas pela coalescência de dois buracos negros estelares, um com (35±4) e outro com (30±4) MSol, no núcleo de uma galáxia distante.
O LIGO detectou a segunda coalescência de buracos negros estelares através de ondas gravitacionais em 26 de dezembro de 2015,
poucos meses depois da primeira detecção. Desta vez eram buracos negros de 8 e 14 massas solares, resultando em um buraco negro de 21 massas solares, e convertendo uma massa solar
em energia. O sinal detectado durou 1 segundo, e a fonte está a uma distância de cerca de 1,3 bilhões de anos-luz. No artigo de 2022, eles detalham a detecção de 76 sistemas.
Portanto, a relatividade geral, embora incompatível com a mecânica quântica, está correta com incerteza menor que 10-22.
Apesar da descoberta da expansão do Universo, muitos pesquisadores
acreditavam na Teoria do Estado
Estacionário, isto é, que o Universo era similar em
todas as direções e
imutável no tempo, com produção contínua
de matéria para
contrabalançar a
expansão observada, mantendo a densidade média constante.
Esta teoria foi proposta por Herman Bondi (1919-2005), Thomas Gold (1920-2004)
e Fred Hoyle (1915-2001).
Em 1950
Fred Hoyle sugeriu pejorativamente
o nome "Big Bang" para o evento de início
do Universo, quando iniciou-se a expansão.
Edward P. Tryon (1940-2019) propôs em 1973
(Nature, 246, 396)
que o Big Bang ocorreu por uma flutuação
quântica do vácuo., com a energia positiva da massa cancelando a energia gravitacional, Etotal=0.
Se a energia total do Universo fosse nula, isto é, Universo plano na
forma mais simples, sem energia do vácuo, então pelo princípio da incerteza de Heisenberg
pode ser muito grande,
permitindo que o Universo alcance sua idade atual, ou ΔE pode ser muito grande em um tempo muito pequeno.
Mas por que a flutuação, que é um buraco negro por conter toda a massa do
Universo em um raio muito pequeno, não colapsa? Porque a liberação
de energia do calor latente da transição de fase do Teoria da Grande
Unificação, separando a força gravitacional das outras forças
no tempo de Planck, faz o Universo se expandir exponencialmente.
Efeito Casimir: Em 1948, os físicos holandêses
Hendrik Brugt Gerhard Casimir (1909-2000) e Dirk Polder (1919-2001)
do Philips Research Laboratories,
propuseram a existência de uma força (energia) no vácuo,
devido a flutuações quânticas do vácuo.
Essa força foi primeiro medida por
Marcus Spaarnay, também da Philips, em 1958, e mas mais precisamente em
1997 (Physical Review Letters, 78, 5), por Steve K. Lamoreaux, do Los Alamos National Laboratory,
e por Umar Mohideen, da University of California em Riverside, e seu colaborador Anushree
Roy (1998, Physical Review Letters, 81, 4549).
Já qual será o destino do Universo tem duas
possibilidades:
- o Universo se expandirá para sempre, ou
-
a expansão poderia parar e haver novo colapso ao estado denso.
O Universo colapsaria novamente somente se a atração
gravitacional da matéria
contida nele fosse grande o suficiente
para parar a expansão.
Formas do Universo
A teoria do Big Bang leva em conta que se as galáxias estão
se afastando umas das outras, como
observado por Edwin Hubble em 1929,
então no passado elas deveriam
estar cada vez mais próximas,
e num passado remoto,
cerca de 13,8 bilhões de anos atrás, deveriam
estar todas num mesmo ponto, muito quente,
uma singularidade espaço-tempo,
que se expandiu no Big Bang.
O Big Bang, ou Grande Expansão, criou não somente
a matéria e a radiação,
mas também o próprio espaço
e o tempo.
Este é o início do Universo que podemos conhecer.
O padre e cosmólogo belga
Georges-Henri Édouard Lemaître (1894-1966)
foi provavelmente o primeiro a propor um modelo específico
para o Big Bang, em 1927. Ele imaginou que toda a matéria estivesse
concentrada no que ele chamou de átomo primordial e que
este átomo se partiu em incontáveis pedaços, cada
um se fragmentando cada vez mais, até formar os átomos
presentes no Universo, numa enorme fissão nuclear. Sabemos
que este modelo não pode ser correto, pois não obedece
às leis da relatividade e estrutura da matéria (quântica),
mas ele inspirou os modelos modernos.
Independentemente de Lemaître, o matemático e meteorologista
russo Alexander Friedmann (1888-1925) descobriu
toda uma família
de soluções das equações da teoria da relatividade geral.
Embora nossos gráficos do Universo sejam
bi-dimensionais, o Universo é tri-dimensional. O problema é que não temos
como representar um universo curvo em três dimensões e portanto reduzimos
uma dimensão somente para poder desenhar.
A família de soluções para a
teoria de relatividade geral
encontrada por Friedmann e Lemaître
descreve um Universo em expansão, e eles são chamados
os pais da Cosmologia.
As soluções possíveis das equações
da relatividade geral incluem expansão eterna ou recolapso.
Se a constante cosmológica fosse nula (energia do vácuo nula),
os modelos se dividem em
três classes. Se a densidade de matéria for alta suficiente
para reverter a expansão, o Universo é fechado,
como a superfície de uma esfera mas em três dimensões, de modo
que se uma nave viajasse por um tempo extremamente longo em linha reta,
voltaria ao mesmo ponto.
Se a densidade for muito baixa, o Universo
é aberto e continuará se expandindo para sempre.
O terceiro caso,
chamado de Universo plano (tridimensional), é o limite entre o Universo aberto e
o fechado. O Universo neste caso se expande para sempre, mas se a constante cosmológica fosse zero,
a velocidade das galáxias seria cada vez menor, chegando a zero
no infinito.
Neste caso, o Universo seria Euclidiano, isto é,
tridimensionalmente reto.
Qual destes modelos representa o Universo real?
As observações
desde 1998 indicam que o Universo é plano (Euclidiano
nas três dimensões espaciais), mas acelerado.
Em 1940, o físico russo-americano George Antonovich Gamow
(1904-1968),
que fora estudante de Friedmann antes da morte deste aos 37 anos,
sugeriu um modelo
com início oposto ao de Lemaître - fusão nuclear.
Gamow publicou os
resultados em 1948, com Ralph Alpher [e Hans Bethe (1906-2005)].
O modelo
de Gamow iniciou com partículas fundamentais que se
aglomeraram em elementos mais pesados, por fusão no Big Bang.
Suas idéias estão corretas, exceto que as condições
iniciais do Universo não eram apropriadas para fundir
o carbono e elementos mais pesados, formando somente
H e He em abundância significativa. Os elementos
mais pesados foram produzidos mais tarde no interior das
estrelas.
Matéria Escura
Outro ítem importante na cosmologia é
a chamada matéria escura,
postulada pela primeira vez por
Fritz Zwicky (1898-1974)
em 1937 (Astrophysical Journal, 86, 217).
Esta é a matéria extra
necessária para explicar as curvas de rotação das
galáxias e as velocidades observadas das galáxias
em aglomerados,
maiores que as explicáveis através da matéria
observada, chamada matéria luminosa. Zwicky,
um astrônomo
suíço trabalhando com o recém instalado
telescópio Schmidt de 46 cm do Monte Palomar,
nos Estados Unidos, observando
que as velocidades das galáxias em aglomerados eram
muito maiores do que deveriam ser - maiores que a
velocidade de escape, e calculou que a massa do
aglomerado deveria ser pelo menos dez vezes maior do que a
massa da matéria visível no aglomerado,
isto é, da massa em estrelas e gás pertencentes
às galáxias
(Fritz Zwicky, 1942, Publications of the Astronomical
Society of the Pacific, 54, 185).
Em 1980 Vera Cooper Rubin (1928-2016) mostrou,
pelas velocidades de rotação das galáxias,
que a matéria escura também está presente em
galáxias individuais
(Astrophysical Journal, 238, 808).
A matéria escura não emite radiação eletromagnética e,
portanto, somente podemos detectá-la através da
força gravitacional
que ela exerce sobre os objetos. A detecção da existência de matéria
escura vem do estudo do movimento de estrelas
individuais em galáxias e o movimento de galáxias
em cúmulos de galáxias, mas também pelo seu efeito
em lentes gravitacionais. Quando aplicamos a lei da
gravitação a estes movimentos, detectamos
que a massa é muito maior que a massa visível em
estrelas e gás.
A distribuição de matéria no aglomerado de galáxias da Bala,
1E 0657-56, que está a 3,4 milhões de anos-luz de distância.
Esta imagem é composta com medidas no
raio-X (em vermelho: NASA/CXC/CfA/
Maxim Markevitch et al. 2005),
e no ótico
(NASA/STScI; ESO WFI; Magellan/U.Arizona/
Douglas Clowe et al. 2006).
A massa de gás quente detectado no raio-X é muito maior do que a massa
no ótico, mas muito menor do que a da matéria escura.
Em azul está indicada a distribuição da matéria escura, necessária para
explicar as lentes gravitacionais observadas..
Nota-se que a matéria escura não se chocou como o gás, que emite raio-X, e sim passou pela colisão junto com a matéria luminosa.
O que é esta matéria escura? Se sua quantidade fosse
5 a 10 vezes maior do que a de matéria luminosa, ela não
poderia se constituir de partículas normais (bárions),
prótons e nêutrons, não condensados em estrelas,
poeira ou gás, ou deveríamos detectá-los.
Poderia entretanto ser composta de buracos negros
(objetos colapsados gravitacionalmente), anãs
marrons (objetos degenerados mas de massa inferior
a estrelas e maiores que Jupiter) e planetas (que não
geram sua própria luz). Mas
as procuras por microlentes gravitacionais demonstram que
menos de 2% da matéria de nossa Galáxia está em objetos compactos, isto é,
a matéria escura também não
está na forma de buracos negros ou estrelas compactas.
Se entretanto a matéria/energia escura fosse 100 vezes a luminosa,
como a teoria inflacionária sem energia escura exige,
então estaria em
partículas exóticas ainda não detectadas na Terra, como
neutrinos massivos,
ou monopolos magnéticos,
ou áxions,
além da energia escura.
Estas
partículas ou energia podem compor mais de 90% da massa do Universo,
sem participar da formação de estrelas, planetas
e seres humanos.
No Sudbury Neutrino Observatory,
em Ontário, Canadá, com 1000 toneladas de
água pesada e 9456 fotomultiplicadoras, a 2070
metros de profundidade, operando desde novembro de 1999,
foi medido um fluxo de neutrinos do Sol provenientes da reação
do ciclo próton-próton
envolvendo o
Berílio8 de 5,44±0,99 ×106 cm-2s-1,
com evidência de oscilação de neutrinos que indica que
a soma das massas dos 3 tipos de neutrinos está entre 0,05 a 8,4 eV.
Estas massas levam à contribuição
dos neutrinos na densidade do Universo entre 0,001 e 0,18 da densidade crítica.
Ou seja, os neutrinos não são a forma dominante de matéria escura.
No artigo de dezembro de 2023, Carlos R. Argüelles, da Univervidade Nacional de La Plata,
Jorge A. Rueda e Remo Ruffini, do ICRA, argumentam que a matéria escura é formada por férmions neutros com cerca
de 50 a 100 keV de eneria (1/3 da de uma elétron), possivelmente neutrinos estéreis, que permitiriam a formação de buracos negros
supermassivos em poucos mihões de anos após o Big Bang, como as observações do James Webb Space Telescope
estão indicando, por colapso da matéria escura incitado por concentração de bárions, matéria normal.
Podemos
expressar a massa em termos da densidade, isto é, da
massa por unidade de volume.
A densidade crítica,
que interromperia a expansão, é de 100 milésimos
de trilionésimos de trilionésimos de uma grama por
centímetro cúbico.
Esta densidade crítica corresponde a
5 átomos de hidrogênio por metro cúbico, dez milhões
de vezes menor do que o melhor vácuo que pode ser obtido em
um laboratório na Terra.
A matéria visível
do Universo é ainda 100 vezes menor.
Como a soma da matéria escura e matéria luminosa do Universo parece chegar a menos de 30% da energia total,
aparentemente o Universo está se expandindo com velocidade maior do que a velocidade de escape, isto é,
o Universo continuará se expandindo para sempre.
Se a constante cosmológica não for nula, como indicam as medidas desde 1998,
o Universo é plano tridimensionalmente e vai se expandir para sempre. A constante
cosmológica representa uma força contrária à gravidade, que acelera
a expansão, em vez de retardá-la.
O artigo The Shape of Bouncing Universes, de
John D. Barrow e Chandrima Ganguly, de Cambridge, no
International Journal of Modern Physics D, Volume 26, Issue 12, id. 1743016,
arXiv 1705.06647v1, propõe que uma constante cosmológica positiva,
ou energia escura, leva sempre a uma expansão final eterna.
Em 1964, a descoberta acidental da radiação de microondas do fundo
do universo, uma radiação com temperatura de antena de cerca de 3 K (correspondendo a um ruído de energia E=kT), que vinha de todas as direções,
pelos rádio-astrônomos
Arno Allan Penzias (1933-2024) e Robert Woodrow Wilson
(1936-), dos Bell Laboratories, fundada em 1875 por Alexander Graham Bell (1847-1922), inventor do telefone,
e hoje American Telephone & Telegraph, com sua antena corneta de Holmdel,
com a qual descobriram o excesso de energia devido à radiação
cósmica do fundo do Universo,
utilizando o amplificador maser
de baixíssimo ruído recém desenvolvido no Bell Labs,
reforçou a teoria do Big Bang,
ou a Grande Expansão.
Penzias e Wilson, que receberam o prêmio Nobel em 1978,
publicaram seus resultados do excesso de emissão
observado no Astrophysical Journal em 1965, e no mesmo volume
Robert Henry Dicke (1916-1997),
Philip James Edward Peebles (1935-), Peter G. Roll,
e David T. Wilkinson (1935-2002),
que estavam construindo uma antena para procurar por esta emissão,
publicaram a interpretação do excesso (ruído) como a detecção
da radiação remanescente do Big Bang. James Peebles recebeu o prêmio
Nobel de 2019 pelos estudos teóricos.
A radiação do fundo do universo é o sinal eletromagnético
proveniente das regiões mais distantes do Universo (a 13,8 bilhões
de anos-luz) e
que havia sido predita desde 1948 por Ralph Asher Alpher (1921-2007)
e Robert Herman (1922-1997), associados
de George Gamow (1904-1968),
como a radiação remanescente do estado quente
que o Universo se encontrava quando se formou - na verdade quando ele
ficou transparente, 380 mil anos depois do Big Bang.
Ralph Alpher e Robert Herman publicaram a previsão da radiação do
fundo do Universo de 5 K, em 1948, na Nature, 162, 774.
O esfriamento acontece porque a expansão do Universo estica o comprimento de onda da luz,
e maior comprimento de onda é menos energético (E=hν=hc/λ).
COBE, resolucão espacial 7°
Em 18 de novembro de 1989, a NASA lançou um satélite chamado
Cosmic Background
Explorer (COBE), para analisar detalhadamente
a radiação do fundo do universo
(Cosmic Microwave Background - CMB)
operando na faixa de microondas.
Como planetas, estrelas, galáxias e nuvens de gás emitem
muito pouco microondas, o satélite podia enxergar
diretamente a luz que o Universo emitiu quando passou
de opaco para transparente, na chamada época da
recombinação, cerca de 380 mil anos depois do Big Bang.
Antes desta época o Universo era um plasma de bárions e fótons. Os
fótons iniciais foram produzidos na época que elétrons e pósitrons
se aniquilavam em uma taxa tão alta que o número de fótons era
cerca de 1 bilhão de vezes maior que o de bárions. Como o livre caminho
médio dos fótons era muito pequeno pois eles colidiam com elétrons,
o Universo era opaco.
Os dados obtidos pelo COBE, mostrados
na figura abaixo,
e divulgados por John Cromwell Mather (1946-) -
cientista coordenador do projeto COBE,
fitam perfeitamente um corpo negro com temperatura
de 2,735 K, com
uma incerteza menor que 1%,
valor da radiação predita para o gas
quente de quando o Universo se formou, visto com um avermelhamento
correspondente; a expansão do Universo estica o comprimento
de onda pelo mesmo fator que o Universo se expande entre
a emissão e a observação.
Se o Big Bang tivesse sido caótico, por exemplo, o
espectro observado não seria perfeitamente o de
um corpo negro, mas seria distorcido para o azul,
pelo decaimento das estruturas caóticas.
Cada metro cúbico do Universo contém, em média,
400 milhões de fótons e somente 0,1 átomos.
A radiação do fundo do Universo
mostra suas condições
380 mil anos após o Big Bang, quando o Universo era dominado por
radiação. Nesta época
a temperatura do Universo caiu para cerca de 3000 K, suficiente
para que os prótons e as partículas-α (He),
formadas nos
três a quatro primeiros minutos do Universo, começassem a capturar
elétrons e formar átomos de hidrogênio e hélio neutros.
Os cosmólogos chamam esta fase de recombinação,
ou fase de desacoplamento, passando de um Universo
dominado por
radiação, onde a temperatura da matéria era a mesma temperatura
da radiação, para um dominado por matéria.
Em outro experimento do satélite COBE,
divulgado em abril de 1992 por
George Fitzgerald Smoot III (1945-),
da Universidade da Califórnia em Berkeley,
também foram detectadas pequeníssimas variações
da temperatura nesta radiação
(seis partes por milhão). A resolução angular do COBE era de 7°.
A uniformidade das medidas só é compatível com a existência do Big Bang,
pois de outra forma regiões distintas do Universo não poderiam estar
com a mesma temperatura.
John Cromwell Mather (1946-) e
George Fitzgerald Smoot III (1945-) ganharam o prêmio Nobel
de física de 2006 pelas descobertas com o COBE.
Os fótons carregam informação sobre a distribuição de matéria na época do desacoplamento da radiação com a matéria, pois se o fóton estava em uma região
um pouco mais densa, parte de sua energia foi gasta para escapar do campo
gravitacional.
Nos modelos de formação de galáxias,
estas flutuações são necessárias para permitir
que a matéria formada posteriormente se
aglomerasse gravitacionalmente
para formar estrelas e galáxias, distribuídas em grupos,
bolhas, paredes e vazios, como observamos. Entretanto, o tamanho das flutuações
detectadas era limitado pela resolução do instrumento.
No modelo padrão, as estruturas do Universo são formadas a partir
da amplificação
gravitacional de pequenas perturbações
na distribuição de massa inicial.
Seria praticamente impossível haver a formação de
estruturas observadas,
como galáxias, estrelas,
planetas e, portanto, da Terra e de nós mesmos,
sem que houvessem variações de temperatura
na radiação do fundo do Universo.
Isto porque a radiação e a matéria estiveram
em equilíbrio térmico no Universo primordial
e, então,
qualquer irregularidade ocorrida na distribuição
inicial de matéria seria refletida na distribuição
angular desta radiação.
A detecção destas flutuações até então
era o principal ponto faltante na compreensão da teoria
do Big Bang e da formação e evolução do
Universo.
As flutuações de densidade observadas pelo COBE poderiam
ser oriundas de cordas cósmicas geradas nas transições de fase,
ou poderiam ser simples
flutuações normais de uma
distribuição aleatória de
densidade.
Com o esfriamento
do Universo, eventualmente a matéria se condensa
em galáxias, estrelas se formam
[as primeiras estrelas se formam, nos modelos de
matéria fria escura, quando
o deslocamento para o vermelho (redshift)
z = 10 a 20
e a temperatura da radiação de fundo da ordem de 50K],
evoluem e morrem,
e elementos mais pesados, como carbono, oxigênio,
silício e ferro foram gradualmente sendo
sintetizados nas estrelas, e espalhados ao meio em
explosões de supernovas. Este gás é depois
concentrado em outras estrelas, em planetas,
e possivelmente em corpos de seres humanos, em alguns destes
planetas!
Mapa do céu obtido pelo satélite
Wilkinson Microwave Anisotropy Probe
(WMAP) da NASA, lançado em 2001,
com resolução angular
de 0,93 a 0,21°, dependendo da frequência,
divulgado por
Charles
L. Bennett (1956-) e colaboradores em janeiro de 2010, após sete anos de observações.
As regiões vermelhas
são mais quentes (200 μK) do que
a média e as azuis mais frias (-200μK).
Os resultado após
nove anos de dados,
analisados por
Charles L. Bennett,
Gary
F. Hinshaw,
David Nathaniel Spergel
(1961-)
e colaboradores,
indicavam
que a idade do Universo é de (13,7±0,08) bilhões de anos
(o primeiro
pico no espectro de distribuição angular
em 263,85°±0,1°, é proporcional à distância à superfície de desacoplamento),
que a matéria normal corresponde a 4,72±0,010% da energia total
(a amplitude do pico acústico é proporcional à
densidade bariônica),
24,08±0,09% de
matéria escura e 71,2±0,10% de energia escura(constante cosmológica)
ou quintessencia (energia com pressão negativa), completando a massa
crítica prevista pelo modelo inflacionário
(Ω=ρobs/ρcrít=1,022±0,043).
As observações indicavam ainda que as primeiras estrelas teriam se formado
481±67 milhões de anos
(dada pela detecção de reionização em z=10,5±1,1) depois do Big Bang (veja os números atuais medidos pelo satélite Planck abaixo)
Note que a reionização que se inicia com a formação das primeiras estrelas, dura até quando o Universo tinha cerca de 1 bilhão de anos.
o que indica que os neutrinos
não dominam a evolução da estrutura, ou eles teriam dificultado
a aglomeração do gás, retardando o nascimento das primeiras estrelas.
A reionização pode ser detectada pela polarização causada
pelo espalhamento dos fótons da
radiação de fundo pelos elétrons livres ionizados pela formação estelar.
O espectro de potências observado depende
de todos os parâmetros simultaneamente.
O plasma de bárions e fótons era comprimido pela gravidade, mas se expandia
pela pressão de radiação dos fótons. O primeiro pico do espectro de potências
representa o instante de compressão por gravidade e a onda de pressão sônica que
se propaga pelo Universo e, portanto, mede a razão entre a pressão dos fótons e
a densidade bariônica.
Comparação das medidas de flutuação na
temperatura da radiação do fundo do Universo
com as previsões do modelo inflacionário, através da
decomposição em esféricos harmônicos das flutuações observadas.
Os observadores mediram a diferença de temperatura
entre duas regiões do céu,
separadas por um certo ângulo,
e calcularam o quadrado desta diferença:
(T1-T2)2,
medida em microkelvins2 [(10-6K)2].
Calculando-se a média desta quantidade para
diferentes pares de direções, obtém-se uma
medida estatisticamente significativa.
Se o Universo fosse aberto, as flutuações deveriam ser máximas
em escalas de 0,5°. As escalas ainda menores foram
estudadas pelo Cosmic Background Imager (CBI), em escalas angulares
de 5 minutos de arco a um grau
(indices de harmônicos esféricos de = 3000 a = 180)
e
Arcminute Cosmology Bolometer Array Receiver (ACBAR),
com feixes de 3,5' a 4,5'.
Se o Universo é plano, as flutuações devem ser máximas
em escalas de 1° (=180), como observado.
Se o Universo
fosse fechado, as flutuações deveriam ser máximas
em escalas maiores que 1°. Novamente a escala detectada estava no limite de detecção do instrumento.
A separação angular é dada por
Resumindo, os dados até 2010 indicavam que o Universo contém:
Tipo | Porcentagem da densidade crítica |
Energia escura | 72,8% |
Matéria escura | 22,7% |
Matéria normal | 4,5% |
Radiação | 0,005% |
Satélite Planck, resolucão espacial 5′=0,08°
Em maio de 2009 foi lançado o
satélite
Planck da Agência Espacial Européia (ESA), com melhor resolução (5 minutos de arco=0,08°)
e sensibilidade (ΔT=10-6K,
resfriado a 0,1 K - um décimo de grau
acima do zero absoluto, para que
seu ruído não fosse maior do que o sinal da radiação de fundo do Universo observada pelo WMAP,
para refinar a medida da escala das flutuações da radiação de fundo do
Universo, observando até out/2014.
Em setembro de 2020 a Colaboração Planck publicou os resultados atuais da análise, com 18 picos na distribuição de temperatura e polarização, o mais alto em θ=0,5965±0,0002°, mostrando que o modelo ΛCDM (Matéria Escura Fria e Parâmetro de Aceleração Λ da Relatividade Geral), com seis parâmetros, fitam bem todas as observações.
Os seis primeiros parâmetros na tabela são os do modelo, enquanto os outros são derivados destes.
Adotando a convenção para a constante de Hubble no presente como
H0 = 100 h km s-1Mpc-1,
eles são: densidade da matéria fria escura, ωc=Ωch2,
densidade de bárions, ωb=Ωbh2,
formados por hidrogênio e hélio com uma fração de massa Y obtida da Nucleosíntese Padrão do Big Bang,
a amplitude As e o índice espectral ns das perturbações adiabáticas do espectro lei de potência,
a escala angular θMC das oscilações acústicas, e a profundidade ótica do espalhamento Thomson da reionização τ,
assumindo que a radiação é composta de fótons com T=2,7255 K e neutrinos com ρν=Neff(7/8)(4/22)4/3ργ
e Neff=3.046, e o observado 2,99±0,34.
O número de neutrinos portanto é 3 (elétron, muon, taon), sua temperatura atual de 1,95 K, e nenhum pode ter massa maior do que 0,04 eV/c2.
Como o parâmetro de curvatura |ΩK|≪1, ΩΛ=1-Ωm, e
idade de 13,787±0,020 bilhões de anos,
Tipo | Porcentagem da densidade crítica |
Energia escura | 68,89 %±0,06% |
Matéria bariônica | 4,893%±0,022% |
Matéria escura | 26,21%±0,022% |
Fração da massa em Hélio | 0,249±0,026 |
z(reionização) | 7,67±0,73 ↠ idade 675±87 milhões de anos |
z(equilíbrio matéria-radiação) | 3387±21 |
A reionização ocorre pela formação das primeiras estrelas. Estas porcentagens indicam que a constante de Hubble atual é de (67,66±0,42) km/s/Mpc, enquanto a escada de distância indica (73,5±1,6) km/s/Mpc
(Adam G. Riess et al. 2018), incompatível (3,8σ) dentro das incertezas.
A partir das observações da distribuição espacial da radiação do fundo do Universo, é atualmente possível
calcular a formação e evolução do Universo até o presente, já que o gás vai se concentrando onde a temperatura é um pouco menor, como a simulação do
Projeto Illustris, que inclui a gravidade, hidrodinâmica,
a evolução química do gás, radiação e campos magnéticos, que afetam a formação das estruturas cósmicas,
ou do
Projeto Millennium.
Qual é a idade do Universo?
A matéria total do Universo gera atração gravitacional,
em que objetos atraem outros objetos (inclusive a luz,
pela relatividade geral). Se
a constante cosmológica (Λ) fosse nula,
ou seja, se a energia do vácuo (repulsão) fosse nula,
a atração gravitacional deveria diminuir
a expansão, o que implicaria que no passado a expansão
teria sido mais rápida. Neste caso, a
idade do Universo pode ser calculada, no
limite superior, assumindo que a quantidade de matéria é
pequena e que, portanto, não teria reduzido a velocidade de expansão
significativamente.
Podemos então estimar a idade máxima
do Universo to,
calculando o tempo que as galáxias distantes,
movendo-se à mesma velocidade de hoje, levaram
para chegar aonde estão, isto é, assumindo energia escura nula.
Como a lei de Hubble,
que relaciona a velocidade de expansão da galáxia, v,
com a distância a esta, d, é dada por
Atualmente o valor da constante de Hubble,
H, está medido diretamente das galáxias entre
67 km/s/Mpc e 74 km/s/Mpc, resultando em to13 a 15 bilhões
de anos
(1 Mpc = mega parsec = km).
Se houvesse desaceleração causada pela atração
gravitacional, a idade seria
t≥ 2/3 to,
isto é, entre 6 e 10 bilhões de anos.
Por outro lado, calculando-se a idade das estrelas mais velhas
conhecidas, as estrelas dos cúmulos globulares
e as anãs brancas, obtém-se
entre 12 e 14 bilhões de anos.
Mas se a energia escura (constante cosmológica) -
descoberta em
1998 com a detecção
da aparente aceleração
do Universo pela detecção das supernovas tipo Ia mais distantes -
não é nula,
o Universo está acelerando e sua idade é maior do que H-1.
Michael S. Turner (1999, The Third Stromlo Symposium: The Galactic Halo, 165, 431) propos o termo energia escura em 1998.
Isto é, se o Universo está se acelerando, pela presença de
energia escura, ele estava se expandindo mais lentamente no passado e,
portanto, levou mais tempo para chegar ao presente. O valor
de 13,787 Giga-anos leva em conta a correção pela energia escura medida pelo satélite Planck.
A primeira evidência da expansão acelerada do Universo vem da detecção que as supernovas tipo Ia, vindas da explosão de anãs brancas por acréscimo de massa em sistemas binários, parecem mais fracas quanto maior sua distância
[Riess, Adam Guy; Filippenko; Challis; Clocchiatti; Diercks; Garnavich; Gilliland; Hogan; Jha; Kirshner; Leibundgut; Phillips; Reiss; Schmidt; Schommer; Smith; Spyromilio; Stubbs; Suntzeff; Tonry (1998). "Observational evidence from supernovae for an accelerating universe and a cosmological constant", Astronomical Journal, 116, 1009 e
Perlmutter, Saul; Aldering; Goldhaber; Knop; Nugent; Castro; Deustua; Fabbro; Goobar; Groom; Hook; Kim; Kim; Lee; Nunes; Pain; Pennypacker; Quimby; Lidman; Ellis; Irwin; McMahon; Ruiz-Lapuente; Walton; Schaefer; Boyle; Filippenko; Matheson; Fruchter; et al. (1999). "Measurements of Omega and Lambda from 42 high redshift supernovae", Astrophysical Journal, 517, 565].
Saul Permutter (1959-), Brian Paul Schmidt (1967-) e Adam Guy Riess receberam o Nobel em 2011 pela descoberta da energia escura.
Já o tamanho do Universo é separado entre o Universo observável, a região esférica em torno da Terra que a radiação eletromagnética
teve tempo para chegar à Terra, c × idade, e a
distância própria comóvel, que leva em conta que o Universo se expandiu
desde que a radiação do fundo do Universo foi emitida na época da recombinação, é de 45,7 bilhões de anos-luz, enquanto a
distância própria até a borda do Universo (após inflação, se ocorreu) é de 46,6 bilhões de anos-luz, 2% maior
(Distance measures in cosmology, 2000, de
David W. Hogg,
A Map of the Universe, 2005, de
J. Richard Gott, III, Mario Juriĉ, David Schlegel, Fiona Hoyle, Michael Vogeley, Max Tegmark, Neta Bahcall, Jon Brinkmann).
Estes valores assumem os valores atuais para a constante de Hubble H0, a constante cosmológica Λ,
a densidade de energia em radiação ρr,
a densidade de matéria bariônica e escura ρm e K=0 (Universo plano).
Se a inflação ocorreu, o valor de aceleração H da época era muito maior do que o atual.
O Universo se esfria enquanto se expande.
Podemos demonstrar que a temperatura
T cai com o tempo t
e, 0,01 s depois do Big Bang, a
temperatura do Universo era de T=1011 K.
Quando t = 0,2 μs, kT = 2×mpróton
e pares de prótons-antiprótons começam a ficar estáveis. Quando
t = 0,7 s, kT = 2×melétron, e pares de elétrons-pósitrons começam a ficar estáveis.
Depois de 3 minutos, a temperatura já tinha baixado a
um bilhão de Kelvin, ainda 70 vezes mais quente
que o interior do Sol. Depois de 380 000 anos, a temperatura
já se reduzira a meros 3 000 K. A esta temperatura os elétrons começam a ficar ligados com os prótons,
formando átomos de H. O Universo passa de opaco para transparente.
A uma temperatura de T ≥ 6×109 K (t ≤ 1 s),
a colisão de 2 fótons
pode gerar um par elétron-pósitron, por conversão de energia
em massa (E=mc2). Para gerar prótons (núcleo de hidrogênio), a temperatura tem que
ser maior que T ≥ 1014 K (t ≤ 1 μs).
A época até uma idade de um microsegundo é chamada
de era hadrônica, pois podia formar hádrons (prótons
e nêutrons).
Note que para um tempo menor que 10-44 s
(0,000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 1 segundos),
o chamado tempo de Planck
[Max Karl Ernst Ludwig Planck (1858-1947)],
a temperatura era da ordem de
T≃1032 K e
as teorias
físicas
conhecidas não se aplicam mais, pelo princípio da
incerteza:
, onde
.
O problema é que a Relatividade Geral prevê uma superfície contínua na escala de Planck,
enquanto a Mecânica Quântica prevê uma superfície distorcida, randômica, discontínua, imcompatível.
No tempo de Planck, o raio do horizonte do
Universo (raio visível) é RU≃10-33 cm.
O raio do Universo que continha toda a matéria hoje observada,
era menor que um centésimo de centímetro.
As teorias físicas se aplicam para tempos maiores que
o tempo de Planck e, no modelo do Big Bang, o Universo
está em rápida expansão, com temperaturas colossais e altíssima
densidade, uma situação lembrando muito uma explosão,
mas que na verdade não é uma explosão que ocorre em um ponto do espaço,
mas a geração de espaço-tempo em todos os pontos, que se expandem com o tempo.
Em 1948 George Gamow
calculou a quantidade de deutério que deveria se formar (Nature, 162, 680).
Era possível obter-se a percentagem
observada de deutério
se esta matéria
estivesse banhada por uma radiação de certa
intensidade. Se não houvesse esta radiação de fundo, formar-se-ia muito mais deutério
do que o observado. Gamow previu
que restos desta radiação deveriam
ainda estar banhando todos os corpos celestes,
que foi finalmente detectada em 1964, como a radiação do
fundo do Universo.
O deutério é um hidrogênio pesado, pois
seu núcleo contém um próton e um nêutron.
Embora observado no gás interestelar, no sistema solar
e mesmo nos espectros de quasares, o deutério não
é formado nas estrelas, pois é imediatamente convertido em hélio. Quando uma estrela se forma
por colapso de uma nuvem de gás interestelar, qualquer
deutério nesta nuvem é destruído, isto é,
convertido em hélio, mesmo antes da estrela
se tornar quente o suficiente para iniciar a fusão
do hidrogênio. Portanto o deutério observado, como
a maior parte do hélio, é um fóssil do Big Bang.
Quando o Universo está esfriando,
quanto maior o número de átomos em um
volume no espaço (densidade), menor a quantidade
de deutério que sobrevive, porque a maior parte
se converte em hélio.
Como a seção de choque dos neutrinos é extremamente
pequena,
quando o Universo tinha 1 s, T≃1010 K,
os neutrinos,
relíquias da época dominada por interações
fracas, não
interagiam mais com a matéria, e evoluiram desacopladamente.
Estes neutrinos, de baixíssima massa, por terem muito
baixa energia (T≃2 K, atual), não podem ser observados.
Somente se estes neutrinos fossem massivos, poderíamos
observá-los por seus efeitos gravitacionais, como
massa escura.
A teoria do Big Bang prevê que houve um pequeno excesso de
matéria sobre anti-matéria (1 parte em 100 milhões),
ou toda a massa seria aniquilada.
Quando o Universo tinha
t = 10-39 s, sua temperatura
era da ordem de
T = 1029 K. A esta temperatura,
a energia média por partícula é da ordem
de
1016 GeV (1 GeV = 1 bilhão de elétron volts),
a energia em que as teorias de Grande Unificação
prevêem efeitos importantes,
como a violação da conservação de número
bariônico
e a possibilidade da formação de partículas
super-massivas, o bóson de
de Higgs, predito por Peter Ware Higgs (1929-2024) (Physical Review Letters 13, 508, 1964), ganhador do Nobel em Física em 2013.
Estas partículas são instáveis mas de longa vida
e podem teoricamente dar origem a este pequeno excesso
de matéria sobre a antimatéria.
Em 1959, (Jim) James H. Christenson,
James Watson Cronin (1931-2016),
Val Logsdon Fitch (1923-2015)
e René Turlay (1932-2002)
conseguiram
observar que no decaimento da partícula neutra
kaon, ou méson K, existe uma pequena (0,2%)
diferença
a favor da matéria, em relação à antimatéria
produzida
(1964, Physics Review Letter 13, 138). Cronin e Fitch receberam o prêmio Nobel em 1980
pela descoberta, demonstrando experimentalmente que
existe assimetria matéria-antimatéria no Universo.
Sem esta assimetria, chamada de CP (carga-paridade),
o Universo dominado por matéria não existiria,
já que a matéria e a antimatéria teriam se aniquilado.
Prótons e nêutrons começam a ficar ligados em núcleos quando
o Universo tem 3m46s, T≃900 milhões K,
formando
deutério (p+n), e hélio.
Antes de 3m46s o deutério não é estável. Após formar o hélio, não
há mais decaimento dos nêutrons, pois eles estão estáveis dentro
dos átomos de hélio.
O hélio formado é de aproximadamente 25% em massa, próximo
do observado, pois existiam cerca de 7 prótons para cada nêutron,
e não houve tempo necessário (τnêutron=889±2 s são necessários
para os nêutrons decaírem) para a formação de novos nêutrons.
Neste modelo, após alguns minutos (t=6 m), a temperatura
já é muito fria para permitir a formação de outros núcleos mais pesados.
A falta de elementos estáveis com massa 5 e 8 e a repulsão coulombiana
entre os 4He impediram a formação de
elementos maism pesados que o 7Li. Depois
de 380 000 anos,T≃3 000K (kT=0,26 eV) os elétrons se
combinam com os núcleos, formando átomos neutros.
Como
não existiam então mais elétrons livres para espalhar
os fótons, o Universo passa de opaco para transparente
e, a partir de então, a matéria e a radiação evoluem
independentemente. Esta radiação de 3 000 K, expandindo-se com
o Universo,
é o que detectamos como radiação do
fundo do universo.
Somente milhões de anos
depois as galáxias começam
a se formar.
Desde a formação das estrelas mais velhas, somente
10% da massa de hidrogênio inicial pode ter sido
convertida em hélio, por fusão nuclear no
centro das estrelas. A maior parte deste hélio
ainda está no interior das estrelas. Portanto,
os 25% de hélio observados
no gás interestelar e na atmosfera das estrelas
foram necessariamente
formados no Big Bang.
A figura abaixo mostra como a abundâncias dos elementos formados
depende da densidade de prótons e nêutrons, no modelo
padrão de Big Bang, em termos da densidade crítica
(densidade necessária para parar a expansão do Universo).
Se o número de prótons e nêutrons for alto, mais
frequentemente eles colidem e mais Hélio4 é produzido.
As abundâncias de deutério e Hélio3 decrescem quando
aumenta a densidade porque estes núcleons são formados
por uma sequência de reações incompleta. Dado
tempo suficiente, o deutério e o Hélio3 se transformam
em Hélio4. Já o Lítio7 é produzido por
várias reações e, portanto, depende da densidade
de forma mais complexa. A nucleosíntese no Big Bang
só formou os elementos leves: hidrogênio, deutério, hélio e
lítio. Todos os elementos químicos mais pesados
foram produzidos mais tarde, no interior das estrelas.
Universo Inflacionário
O Universo Inflacionário,
proposto em 1979 por Alan Harvey Guth (1947-), do Massachussets Institute
of Technology (MIT), nos Estados Unidos [Physical Review D 23, 347 (1981)],
e Alexei AlexandrowitschS Starobinski (1948-2023) [Pisma Zhurnal Eksperimentalnoi i Teoreticheskoi Fiziki 30, 719 (1979)],
na Rússia,
e modificado em 1981
pelo russo
Andrei Dmitrvitch Linde (1948-),
e pelo americano
Paul Joseph Steinhardt (1952-)
[Alan Guth, Inflationary Universe: A Possible Solution to the Horizon and Flatness Problems, Phys. Rev. D 23, 347 (1981); A. Linde, A New Inflationary Universe Scenario: A Possible Solution of the Horizon, Flatness, Homogeneity, Isotropy, and Primordial Monopole Problems, Phys. Lett. B 108, 389 (1982); A. Albrecht and P. J. Steinhardt, Cosmology for Grand Unified Theories with Radiatively Induced 4 Symmetry Breaking, Phys. Rev. Lett. 48, 1220 (1982)]
vem de uma das formas das Teorias
da Grande Unificação (GUT) das forças forte
e eletrofraca.
As forças forte, fraca e eletromagnética são descritas como interações entre férmions (quarks e léptons, com spin semi-inteiro),
mediadas pela troca de bosons vetoriais de gauge (fóton, gluon, Z e W, com spin inteiro).
A unificação das forças prevê uma quebra
de simetria espontânea 10-35 s depois do Big Bang.
Esta
quebra de simetria, ou transição de
fase, liberando energia, faz a gravitação
agir repulsivamente, expandindo o Universo (o espaço-tempo) por um fator de
1075 e, portanto, plano, sem qualquer partícula de alta energia.
Depois de 10-30 s,
a teoria é idêntica
ao Big Bang padrão.
O espectro de flutuações da radiação do fundo do Universo observado pelo COBE, WMAP e Planck é consistente com
variações quânticas invariantes em escala, mas a amplitude é muito pequena para ter surgido de um estado
arbitrariamente quente e denso como uma singularidade. Esta incompatibilidade, além da planicidade medida,
são evidências da ocorrência da inflação.
Outra interpretação da mesma transição de fase é
que a liberação do calor latente (energia do vácuo) é que faz
o Universo se expandir inflacionariamente.
Quando publicada em 1979, a transição de fase
(super-esfriamento) era prevista ter ocorrido em
10-35s, mas o valor moderno da energia
de Higgs [Peter Ware Higgs (1929-2024)]
é de
1016 GeV, correspondente a
10-37 s pelo princípio da incerteza:
. O
bóson de Higgs é a partícula que dá massa a todas as outras partículas,
no Modelo Padrão das forças nucleares.
O Grande Colisor de Hádrons, LHC, com feixes
de 7 TeV cada, está procurando o bóson de Higgs,
e desde 2012
encontrou uma partícula deste tipo, mas com 125 GeV.
Peter Ware Higgs
No modelo de Guth,
as flutuações na radiação de fundo geradas pela transição de fase que leva à inflação
deveriam ser muito maiores do que as observadas já no COBE, confirmadas no WMAP e Planck.
Nos modelos inflacionários de Linde e Steinhardt
nosso Universo é apenas uma bolha de um possível
mega-Universo (megaverso) de bolhas.
A teoria inflacionária
prevê que a matéria escura não pode ser
totalmente bariônica, mas é consistente com matéria
escura fria, isto é,
partículas com velocidade muito menor do que a velocidade da luz
(neutrinos devem ter velocidade próxima a da luz).
O modelo inflacionário prevê ainda que o Universo contém
cem vezes mais matéria ou energia escura do que a matéria que brilha
nas estrelas e, portanto, que o Universo é tridimensionalmente plano.
Este modelo
explicaria a estrutura de grandes paredes e buracos
observadas na estrutura de grande escala
do Universo, e que não estão casualmente
conectadas atualmente,
mais o seriam antes da expansão inflacionária.
Diz-se que duas regiões não estão casualmente
conectadas se, quando a radiação foi emitida por elas,
as regiões no espaço estavam mais distantes do que
a distância que a luz poderia ter atravessado desde
o Big Bang.
A mesma
Teoria de Grande Unificação que prediz o Universo inflacionário,
também prediz que os prótons deveriam decair
em 1030 anos, o que não é observado (τobservado>1032 anos,
de modo que as teorias mais simples da GUT já
foram eliminadas.
Teorias de grande unificação que permitem
a quebra de simetria que formou a assimetria de matéria-antimatéria
antes de 10-36 segundos ainda são consistentes com
o tempo de decaimento do próton observado.
Nas Teorias de Grande Unificação, as diferenças observadas entre quarks e
léptons e entre as três forças - eletromagnética, fraca e forte - são fenômenos de baixa energia que emergem através da quebra espontânea da simetria de unificação,
em energias acima de 1 TeV.
Jogesh Chandra Pati (1937-)
previu, em 2000, no Physics of Atomic Nuclei, Volume 63, 1058,
que o decaimento do próton pode ocorrer
só acima de 1034 anos, com decaimento dominante pelo canal
antineutrino-kaon+.
A teoria inflacionária explica como as flutuações quânticas primordiais
podem se expandir para tornar-se as sementes que produzem a estrutura
do Universo, por colapso gravitacional.
Mas o que acontece para tempos aindas menores, dentro da escala de Planck
(10-43s), quando a força gravitacional tem
valores comparados com as outras forças e os efeitos da
gravidade quântica eram importantes, e as condições
estão fora de nosso conhecimento do espaço e do tempo?
Que condições existiam antes da inflação
e como elas afetam os modelos inflacionários? Como resolver
o problema da singularidade, quando a densidade de energia, a
curvatura do espaço-tempo e a temperatura são infinitas?
A Teoria de Tudo
precisa combinar a teoria de relatividade geral (gravitação)
com a teoria quântica. A mais promissora teoria no momento
é a de supercordas (superstrings,
cordas supersimétricas).
Nesta teoria, as "partículas" fundamentais são
cordas que vibram. As ressonâncias nestas cordas criam
as partículas diferentes. Cada corda é extremamente
pequena, com diâmetro da ordem da escala de Planck, ou 100 bilhões de bilhões
de vezes menor do que um próton,
e vibra em um espaço
com 10 ou 11 dimensões. Como o espaço-tempo tem 4 dimensões,
as outras 6 ou 7 dimensões seriam colapsadas e, portanto, não
observáveis.
As singularidades são evitadas porque as escalas nunca são menores do que as cordas.
Na teoria, o Universo com 10 dimensões é instável e a energia
liberada no colapso das 6 dimensões é que provoca o Big Bang.
Uma modificação das supercordas é a teoria de (mem)branas
(Philippe Brax,
Carsten van de Bruck, Anne-Christine Davis,
2004, Reports on Progress in Physics, 67, 2183), com 12 dimensões.
O problema matemático é saber escolher uma das inúmeras ( > 10500) possibilidades para estas teorias,
e testá-la com observações.
No último artigo de
Stephen William Hawking (1942-2018), junto com
Thomas Hertog (1975-),
A Smooth Exit from Eternal Inflation?,
eles escolheram um modelo simplístico que pode levar,
mas não prova,
à formação de um só Universo,
em vez de um universo tipo fractal infinito
(multiverso),
pois as transições entre as regiões que sofreram a inflação são suaves.
Outra teoria é a da quantização do espaço-tempo,
que propõe que o Big-Bang foi precedido de um colapso (rebote).
Todas estas teorias ainda precisam ser testadas.
Scott Burles e David Tytler publicaram em 1996 Cosmological Deuterium Abundance and the Baryon Density of the Universe, mostrando que a abundância observada de deutério em uma nuvem de baixa metalicidade em z=2,504 (t=2,6 Ganos) restringia a densidade bariônica a 2±0,2% da densidade crítica.
Modelo do Big Bang
Idade cósmica | Temperatura | Eventos marcantes |
| | |
< 10-44 segundos | > 1032 K | Big Bang. |
| | Unificação das 4 forças. |
| | Era de Planck. |
| | |
10-44 segundos | 1032 K | Gravidade se separa das outras forças. |
| | Era das GUT's (teorias da grande unificação |
| | das forças nucleares forte e fraca e da força eletromagnética). |
| | |
10-35 segundos | 1028 K | Força nuclear forte se separa da força |
| | eletro-fraca. |
| | |
10-32 segundos | 1027 K | Fim da era da Inflação. Universo se expande rapidamente. |
| | |
10-10 segundos | 1015 K | Era da radiação. Forças
eletromagnéticas e fracas se separam. |
| | |
10-7 segundos | 1014 K | Era das partículas pesadas (era hadrônica). |
| | Fótons colidem para construirem |
| | prótons, antiprótons, quarks, e antiquarks. |
| | |
10-1 segundos | 1012 K | Era das partículas leves (era leptônica). |
| | Fótons retém energia suficiente apenas para construirem |
| | partículas leves como elétrons e pósitrons. |
| | |
3 minutos | 1010 K | Era da nucleossíntese. |
| | Prótons e
elétrons interagem para formar nêutrons. |
| | Prótons e nêutrons formam núcleos de deutério, hélio, |
| | e pequena quantidade de lítio e berílio. |
| | |
380 000 anos | 3000 K | Era da recombinação. Universo fica
transparente. |
| | Radiação pode fluir livremente pelo espaço. |
| | |
675 000 000 anos | 100 K | Era da reionização, com a formação das primeiras estrelas.
|
1×109 anos | 20 K | Formação de protoaglomerados de galáxias e de galáxias. |
| | |
10×109 anos | 3 K | Era presente. |
| | Formação do sistema solar. |
| | Desenvolvimento da vida. |
Detalhes:
O deslocamento para o vermelho z é medido
pelo deslocamento Doppler das linhas espectrais:
O Universo tornou-se transparente quando a temperatura caiu para
T=3000 K e os elétrons se combinaram com os prótons, formando
átomos de hidrogênio e hélio.
Este evento chama-se época da recombinação, ou
superfície de último espalhamento. Ela ocorre em
deslocamento para o vermelho (redshift) de aproximadamente z = 1000
já que a temperatura da radiação atualmente é
de cerca 3 K, e
z = |
Tinicial Tatual
|
= |
3000 K 3 K
|
= |
Ratual Rinicial
|
|
|
onde R é o raio do Universo. As medidas do Planck indicam que a reionização ocooreu em z=3387±21.
A energia gravitacional das galáxias e cúmulos
de galáxias, dividida por mc2, a energia de repouso,
corresponde a 10-5 e, portanto, a dinâmica destes
objetos é não relativística. Esta razão também
é a razão entre a temperatura média da radiação
do fundo do Universo (Cosmic Microwave Background)
e a temperatura das flutuações que deram origem às
estrelas, galáxias e cúmulos de galáxias, já que
representam o avermelhamento gravitacional
(redução de energia)
necessário para os fótons escapem do campo gravitacional.
Medida do COBE das flutuações de temperatura da
radiação do fundo do Universo, em 1,25 microns,
antes da correção pelo movimento do Sol
(equivalente a variações de
e pela
emissão da Via Láctea
(equivalente a variações de 0,0002 K). O feixe
do detector tinha 7°, correspondendo a escalas muito maiores
do que os grandes aglomerados de galáxias.
Se o Universo
é aberto, as flutuações devem ser máximas
em escalas de 0,5°.
Se o Universo
é plano, as flutuações devem ser máximas
em escalas de 1,0°.
Se o Universo
é fechado, as flutuações devem ser máximas
em escalas maiores que 1°.
A constante cosmológica
pode ser escrita como uma densidade de energia,
A escala natural de densidade de energia, segundo a Física de Partículas Elementares conhecida, deveria ser várias dezenas de ordens de magnitude maior
do que a da densidade de energia crítica
[Steven Weinberg (1933-2021) 1989, Review of Modern Physics, 69, 1],
diferente do que as medidas indicam.
Se a matéria escura e energia escura podem ser unificadas num só modelo,
ela teria duas fases: uma, aglomerada em halos, com pressão nula,
contribuiria positivamente para o crescimento das estruturas observadas;
outra, homogeneamente distribuída, com pressão negativa,
contribuiria somente para a aceleração do universo
e não teria efeitos dinâmicos sobre as estruturas em pequena escala.
Ela é conhecida como quartessência, como no modelo do Gás de Chaplygin
(A. Kamenshchik, U. Moschella e V. Pasquier. 2001, Phys. Lett. B 511, 265
e M.C. Bento, O. Bertolami e A.A. Sen. 2002, Phys. Rev. D66, 043507).
Na teoria da relatividade geral de Einstein, o tempo se acelera
e desacerela quando passa por corpos massivos, como estrelas e
galáxias. Um segundo na Terra não é um segundo
em Marte. Relógios espalhados pelo Universo se movem
com velocidades diferentes.
Em 1935, Einstein e Nathan Rosen (1909-1995) deduziram que as
soluções das equações da relatividade geral
permitiam a existência de pontes, originalmente chamadas
de pontes de Einstein-Rosen, mas agora chamadas de redemoinhos
ou buracos de minhoca (wormholes).
Estas pontes unem regiões do espaço-tempo distantes.
Viajando pela ponte, pode-se mover mais rápido
do que a luz viajando pelo espaço-tempo normal.
Antes da morte de Einstein, o matemático Kurt Gödel (1906-1978),
trabalhando na Universidade de Princeton, como Einstein,
encontrou uma solução para as equações da
relatividade geral que permitem a viagem no tempo.
Esta solução mostrava que o tempo poderia ser
distorcido por rotação do Universo, gerando redemoinhos
que permitiam que alguém, movendo-se na direção da
rotação, chega-se ao mesmo ponto no espaço, mas
atrás no tempo. Einstein concluiu que como o Universo
não está em rotação, a solução de Gödel
não se aplicava.
Em 1955 o físico americano
John Archibald Wheeler (1911-2008), que cunhou o termo buraco negro,
escreveu um artigo sobre "geometrodinâmica" mostrando que
as pontes de Einstein-Rosen poderiam ligar não somente
Universos paralelos, mas regiões do mesmo Universo,
formando um túnel no espaço-tempo.
Em 1963, o matemático Roy Patrick Kerr (1934-), da Nova Zelândia, encontrou
uma solução das equações de Einstein para um buraco
negro em rotação. Nesta solução, o buraco negro
não colapsa para um ponto, ou singularidade, como previsto
pelas equações para um buraco negro não rotante, mas
sim em um anel de nêutrons em rotação. Neste anel,
a força centrífuga previne o colapso gravitacional.
Este anel é um redemoinho (wormhole)
que conecta não somente regiões do espaço, mas também
regiões do tempo, e poderia ser usado como máquina do tempo.
A maior dificuldade é a energia:
uma máquina do tempo necessita
de uma quantidade fabulosa de energia. Seria preciso usar-se
a energia nuclear de uma estrela, ou antimatéria. O segundo
problema é de estabilidade. Um buraco negro em rotação
pode ser instável, se acreta massa. Efeitos quânticos
também podem acumular-se e destruir o redemoinho.
Na verdade a teoria prevê que os redemoinhos (buracos
de minhoca) sobrevivem somente uma fração
de tempo tão curta que nem a luz consegue atravessá-lo.
O outro grande problema de usar um buraco negro como ponte é
que a força de maré de um buraco negro estelar
é tão grande que despedaçaria
qualquer corpo que se aproximasse do seu horizonte.
Portanto,
embora teoricamente possível, uma viagem no tempo não é praticável.
Em 1964 o americano
Murray Gell-Mann (1929-2019), do CALTECH,
e George Zweig (1937-)
independentemente sugeriram que a complexidade da interação
forte poderia ser explicada assumindo-se que
os mais de cem bárions e mésons conhecidos,
inclusive os prótons e nêutrons, eram compostos
de três partículas fundamentais, chamadas de quarks
por Gell-Mann. O nome foi proposto a partir da frase
do escritor irlandês
James Joyce (1882-1941), na página 383 do romance Finnegans Wake,
Three quarks for Muster Mark. Na proposta, um
quark tinha carga elétrica 2/3 da carga do próton,
e os outros dois -1/3. Entre 1967 e 1973, usando o Acelerador Linear
de Stanford, Jerome Isaac Friedman (1930-),
Henri Way Kendall (1926-1999),
e Richard Edward Taylor (1929-2018)
notaram que o espalhamento de elétrons por prótons
e nêutrons indicava que estes eram compostos por partículas
menores, com cargas consistentes com a teoria dos quarks. Os
três receberam o prêmio Nobel de física em 1990 pela descoberta.
Embora a teoria original propusesse somente três quarks,
os quarks, que compõem os hádrons, são em número total de 6:
up, down, charm, strange, top e bottom.
O próton é formado por 2 quarks up e 1 quark down, enquanto o nêutron é formado por 2 quarks down e 1 quark up.
Os quarks interagem pela
troca de glúons, dentro da teoria da interação
forte chamada de Cromodinâmica Quântica (QCD). A QCD
é uma teoria de gauge:
uma teoria com simetria de gauge
pode ser escrita em termos
de potenciais em que somente diferenças de
potenciais
são significativas, isto é, podemos adicionar uma
constante sem alterar os valores. A QCD tem a propriedade da
liberdade
assintótica, isto é, a interação entre as
partículas diminui com o aumento de energia.
Como o próton tem baixa energia, os quarks dentro do
próton estão fortemente ligados uns aos outros,
e os físicos teóricos estão convencidos que
a teoria levará ao confinamento, que diz que os
quarks não podem existir independentemente, pois
estão confinados pela interação forte.
O quark charm, predito por James Daniel Björken (1934-2024) e
Sheldon Lee Glashow (1932-) em 1964, foi descoberto em 1974
independentemente por Samuel Chao Chung Ting (1936-)
e Burton Richer (1931-2018),
com a descoberta da partícula J/ψ, com 3,105 GeV,
que é um charmônio, isto é, composto por
um quark e um antiquark charm. Em 1976 Ting
e Richer receberam o prêmio Nobel pela descoberta.
A teoria de gauge prevê que, para que não hajam
infinidades, os hádrons devem ter pares com os léptons.
Os léptons são o elétron, o múon e o táon.
O elétron foi descoberto pelo inglês Sir Joseph
John Thomson (1856-1940) em 1895 e sua anti-partícula, o pósitron,
por Carl David Anderson (1905-1991) em 1932,
quando ele analisava os raios cósmicos e descobriu
em uma das placas fotográficas uma partícula
parecida com um elétron, mas se movendo na direção
oposta em relação ao campo magnético e, portanto, com carga
positiva.
O múon foi descoberto em 1937,
por Seth Henry Neddermeyer (1907-1988),
Carl David Anderson (1905-1991), do CALTECH,
Jabez Curry Street (1906-1989) e Edward C. Stevenson, de Harvard,
e é
207 vezes mais massivo que o elétron; O táon
foi
descoberto em 1975 por Martin Lewis Perl (1927-),
com 1,784 GeV, ou seja
3500 vezes mais massivo que o elétron. Os outros
três léptons são os neutrinos correspondentes,
νe,
νμ e
ντ.
Em 1977
Leon Max Lederman (1922-2018) descobriu o upsilon
(υ), com
9,46 GeV, interpretado como o estado ligado do
quinto quark, bottom, e em 1995 dois grupos do Fermilab
descobriram o sexto e último quark,
o top, com 175 GeV, medindo o estado quark-antiquark .
O decaimento da partícula
Z0, bem como a abundância
cósmica do hélio, e a meia vida do nêutron, demonstra
que não pode haver outro tipo de neutrino além dos três
observados, e portanto não deve haver outro tipo de quark,
pela paridade dos léptons e hádrons.
O telescópio Schmidt usado por Fritz Zwick em 1930
para de determinar a massa dos aglomerados de galáxias foi
o segundo projetado pelo ótico e astrônomo amador
Bernhardt Voldemar Schmidt (1879-1935),
para observar grandes campos do céu.
A teoria eletrofraca se separa em eletromagnética
e fraca para energias mais baixas que 100 GeV, o que ocorre
10-12 segundos depois do Big Bang, mas já foi
testado em laboratórios na Terra. As maiores energias
atingíveis nos grandes aceleradores atuais são
da ordem de 10 000 GeV. A força fraca age a distâncias
subnucleares, menores que 10-15 cm.
A repulsão elétrica entre dois prótons
é 1036 vezes maior do que a atração
gravitacional entre eles.
Da mesma maneira que cargas elétricas
cancelam campos elétricos, monopolos magnéticos
cancelariam campos magnéticos. A existência
de um campo magnético na nossa Galáxia requer
que o número de monopolos, se existirem, seja pequeno.
O matemático inglês Charles Lutwidge Dodgson (1832-1898)
escreveu
o livro Alice no País das Maravilhas em 1865,
com o nome artístico de Lewis Carroll,
chamando de "toca de coelho" a passagem para o outro Universo.
Aristóteles de Estagira (384-322 a.C.)
propôs que a matéria na Terra era composta por quatro elementos
básicos: terra, ar, fogo e água. Propôs também que a matéria
celeste era composta por um tipo de matéria especial, a quinta-essência,
ou quintessência.
Nos últimos anos se tem usado o termo quintessência para descrever
a matéria (energia) dominante no Universo, seja ela matéria escura
ou energia do vácuo (constante cosmológica).
Chen Ning Yang (1922-) e Tsung-Dao Lee (1926-2024) receberam o prêmio
Nobel em 1957 por suas investigações da paridade.
Teoria do Estado Estacionário
Fred Hoyle (1915-2001), Geoffrey Burbidge (1925-2010) e Jayant Vishnu Narlikar (1938-)
propuseram em 1993 a Teoria do Estado Quasi Estacionário,
em um Universo eterno e infinito,
alternando expansões que duram cerca de 40 bilhões de anos,
com contrações. A massa é eternamente criada em buracos brancos
com massa de Planck [ch/G]1/2 = 1019
bárions. A mini-criação causa uma expansão do Universo, que reduz o valor
médio do campo de criação, reservatório de energia negativa.
Após a expansão, o valor do campo se reduz, tornando-se difícil uma
nova mini-criação. A gravidade então supera a expansão e o Universo se contrai,
aumentando o campo até que nova criação ocorra.
Tempo
O Teorema de Singularidade, demonstrando que não existe definição de tempo antes do Big-Bang ou dentro
de um buraco negro, foi provado por
Stephen William Hawking (1942-2018) e Roger Penrose (1931-),
no artigo
The Singularities of Gravitational Collapse and Cosmology,
publicado no
Proceedings of the Royal Society of London. Series A, Mathematical and Physical Sciences, Volume 314, Issue 1519, pp. 529-548
em 1970.
Para estimar a massa bariônica em matéria não luminosa,
usam-se as microlentes gravitacionais, já que os remanescentes velhos de
estrelas emitem pouca radiação, a não ser que estejam acretando material
de uma estrela companheira.
A gravidade de uma estrela compacta, como uma anã branca,
uma estrela de nêutrons ou um buraco negro, de massa M pode aumentar o
brilho de uma estrela que esteja atrás dela, agindo como uma lente,
durante
onde DS é a distância à estrela amplificada e
Dl a distância à lente.
Monitorando o brilho das estrelas em uma região densa do céu
mostrará
mudança no brilho das estrelas se uma estrela compacta passar na sua frente.
Dependendo da massa da estrela compacta e de sua distância, este aumento
do brilho pode durar dias, semanas ou meses.
Esta é a base dos programas de observações de microlentes gravitacionais.
O projeto MACHO (MAssive Compact Halo Objects) observou 10 milhões de estrelas
na direção das Nuvens de Magalhães por
7 anos, registrando cerca de 400 eventos.
As observações dos vários grupos, como MACHO, OGLE (Optical Gravitational
Lensing Experiment), EROS
(Experience de Recherche d'Objets Sombres),
indicam que somente cerca de
2 a 5% da massa escura total está na forma de estrelas
compactas, mas a detecção de 28 eventos com duração maior que 140 dias
no MACHO indica
a existência de mais buracos negros do que a função de massa normal prediz,
sendo consistente com a hipótese de que as estrelas de População III foram
mais massivas.
O Efeito Sunyaev-Zel'dovich
é a distorção causada na radiação de microondas do fundo do
Universo pelo efeito Compton inverso, em que elétrons
de alta energia transferem parte de sua energia para os fótons
de baixa energia da radiação de fundo [Rashid Sunyaev (1943-) e Yakov
Borisovich Zel'dovich (1914-1987)].
Deste modo, a radiação do fundo do Universo que
passa por um aglomerado de galáxias tem um pequeno
excesso de fótons mais energéticos, espalhados pelo
plasma quente do aglomerado.
A densidade de energia contida nos Raios Cósmicos, partículas de alta energia,
é da mesma ordem que a densidade de energia da Radiação
de Fundo do Universo. Para energias menores que 1015eV, sua taxa
é de aproximadamente uma partícula por metro quadrado por segundo.
Já para energias maiores que 1015eV, sua taxa é
de aproximadamente uma partícula por metro quadrado por ano.
Para energias maiores que 1018eV, sua taxa é
de aproximadamente uma partícula por kilometro qudrado por ano.
A Radiação do Fundo do Universo corresponde a cerca de 93%
de toda a emissão eletromagnética, mas é
milhões de vezes menor do que a densidade crítica.
Chris Clarkson, Obinna Umeh, Roy Maartens e Ruth Durrer, no artigo
What is the distance to the CMB?
How relativistic corrections remove the tension with local H0 measurements,
publicado no arXiv:1405.7860v1,
mostra que a correção de segunda ordem na mudança da relação
entre a distância derivada do tamanho angular e o redshift
causada pelas flutuações de densidade,
medidas pelas lentes gravitacionais sucessivas, é
sufientemente grande para corrigir o parâmetro de fechamento do Universo
na ordem de alguns porcentos, enquanto a precisão das medidas é
da ordem de alguns milésimos.
Stephen William Hawking (1942-2018) deduziu em 1974 a existência da Radiação de Hawking, com a aplicação da teoria quântica de campos a buracos negros, levando a uma instabilidade que faz os buracos negros evaporarem com uma temperatura relacionada aos parâmetros geométricos do buraco negro (inversamente proporcional à massa). A comprovação é praticamente impossível, já que a temperatura equivalente para um buraco negro de 1 massa solar é 50 nanokelvin.
Matéria bariônica inclui a matéria composta de prótons e nêutrons, cada um composto de 3 quarks. A tabela periódica é composta
por prótons e nêutrons. A matéria escura é não bariônica.
Calculadora Cosmológica
Mais detalhes:
- Martin Rees, Before the Beginning, Our Universe and Others,
Simon & Schuster, London 1997.
- Marcelo Gleiser, A Dança do Universo, Dos Mitos
da Criação ao Big Bang, Companhia das Letras,
São Paulo 1999.
- Jim Al-Khalili, Black Holes Wormholes & Time Machines,
Institute of Physics Publishing, London 1999.
- Alan H. Guth, The Inflationary Universe,
Perseus, Reading 1997.
- Leon Max Lederman, The God Particle, Houghton Mifflin, Boston 1993.
- Joseph Silk, The Big Bang, Freeman, NY 1989.
- Jayant Vishnu Narlikar (1938-),
The lighter side of gravity, 2nd ed, Cambridge 1996.
Dark Energy no Hubble Space Telescope Science Institute
Astronomia e Astrofísica
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Modificada em 7 dez 2024