Estudando o movimento dos corpos, Galileo Galilei (1564-1642) descobriu através de experimentos que "um corpo que se move, continuará em movimento a menos que uma força seja aplicada e que o force a parar." Galileo argumentou que o movimento é tão natural quanto o repouso, isto é, um corpo que está em repouso permanece em repouso a menos que seja submetido a uma força que o faça mover-se. Se um objeto já está se movimentando, ele continuará em movimento a menos que seja submetido a uma força que o faça parar.
Galileo descobriu os satélites de Júpiter e comunicou seus dados a Johannes Kepler (1571-1630), que os observou pessoalmente. Os satélites obedecem às Três Leis de Kepler, porém com um valor da constante k diferente na 3a Lei (P2=k a3).
Sessenta anos depois, o inglês Isaac Newton (1643-1727) foi quem deu uma explicação completa ao movimento e à forma como as forças atuam. A descrição está contida nas suas 3 leis:
Primeira Lei: Inércia, é baseada na enunciada por Galileo, embora Galileo não tenha realmente chegado ao conceito de inércia. Na ausência de forças externas, um objeto em repouso permanece em repouso, e um objeto em movimento permanece em movimento, ficando em movimento retilíneo e com velocidade constante. Esta propriedade do corpo que resiste à mudança, chama-se inércia. A medida da inércia de um corpo é seu momentum. Newton definiu o momentum de um objeto como sendo proporcional à sua velocidade. A constante de proporcionalidade, que é a sua propriedade que resiste à mudança, é a sua massa:
Newton pôde explicar o movimento dos planetas em torno do Sol, assumindo a hipótese de uma força dirigida ao Sol, que produz uma aceleração que força a velocidade do planeta a mudar de direção continuamente. Como foi que Newton descobriu a Lei da Gravitação Universal? Considerando o movimento da Lua em torno da Terra e as leis de Kepler.
Aceleração em órbitas circulares: o holandês Christiaan Huygens (1629-1695), em 1673 e, independentemente, Newton, em 1665 (mas publicado apenas em 1687, no Philosophiae naturalis principia mathematica, 27 MB PDF) descreveram a aceleração centrípeta.
Consideremos uma partícula
que se move em um círculo.
No instante t a partícula está
em D, com velocidade na direção DE. Pela 1a. lei de Newton,
se não existe uma força agindo sobre o corpo, ele continuará
em movimento na direção DE.
Após um intervalo de tempo dt, a partícula está em
G, percorreu a distância v.dt, e está com
velocidade , de mesmo módulo v, mas em outra direção.
Consideremos infinitésimos:
Δt = dt e
Δv = dv.
Seja
θ o ângulo entre o ponto D e o ponto G.
Mas θ
também é o ângulo entre e , já que
v1
é perpendicular a OD
e v2
é perpendicular a OG. Portanto,
e, portanto, a aceleração a=dv/dt:
Se a partícula tem massa m, a força central necessária para produzir a aceleração é:
Obviamente a Terra exerce uma atração sobre os objetos que estão sobre sua superfície. Newton se deu conta de que esta força se estendia até a Lua e produzia a aceleração centrípeta necessária para manter a Lua em órbita. O mesmo acontece com o Sol e os planetas. Então Newton formulou a hipótese da existência de uma força de atração universal entre os corpos em qualquer parte do Universo.
A força centrípeta que o Sol exerce sobre um planeta de massa m, que se move com velocidade v à uma distância r do Sol, é dada por:
Seja m a massa do planeta e M a massa do Sol.
Substituindo-se esta velocidade na expressão
da força centrípeta exercida pelo Sol
(Fc) no planeta,
a força pode então ser escrita como:
e, de acordo com a 3a. lei de Newton, o planeta exerce uma força igual
e contrária sobre o Sol. A força centrípeta
exercida pelo planeta sobre o Sol, de massa M é dada por:
Newton deduziu então que:
Newton então concluiu que para que a atração universal seja correta, deve existir uma força atrativa entre pares de objetos em qualquer região do universo, e esta força deve ser proporcional a suas massas e inversamente proporcional ao quadrado de suas distâncias. A constante de proporcionalidade G depende das unidades das massas e da distância.
e similarmente para m2.
Para que os corpos permaneçam em órbitas, as forças precisam ser idênticas:
e
Eliminando-se na primeira e na segunda e somando-se, obtemos:
Mas, se considerarmos sistemas onde os corpos principais são diferentes,
então as razões
serão diferentes. Por exemplo,
todos os satélites de Júpiter têm praticamente a mesma razão
,
que portanto podemos considerar
constante entre elas, mas essa constante é diferente da razão
comum aos planetas do Sistema Solar.
A terceira lei de Kepler na forma derivada por Newton pode se escrita como:
No sistema internacional de unidades, G = (6,67428 ± 0,00067) × 10-11 N m2/kg2, e foi medida em laboratório pelo físico inglês Henry Cavendish (1731-1810) em 1798 [Philosophical Transactions (part II) 88, p.469-526 (21 Junho 1798)], usando uma balança de torsão. Mas, em astronomia, muitas vezes é mais conveniente adotar outras unidades que não as do sistema internacional. Por exemplo, em se tratando de sistemas nos quais o corpo maior é uma estrela, costuma-se determinar suas massas em unidades de massa do Sol, ou massas solares (massa do Sol = ), seus períodos em anos e suas distâncias entre si em unidades astronômicas. Em sistemas em que o corpo maior é um planeta, é conveniente expressar sua massa em unidades de massas da Terra (massa da Terra = ), seu período em meses siderais e suas distâncias relativas em termos da distância entre Terra e Lua. Nestes sistemas particulares, a terceira lei de Kepler pode ser escrita como
Por exemplo, se se observa o período orbital e a distância de um satélite a seu planeta, pode-se calcular a massa combinada do planeta e do satélite, em massas solares ou massas terrestres. Como a massa do satélite é muito pequena comparada com a massa do planeta, a massa calculada é essencialmente a massa do planeta .
Da mesma forma, observando-se o tamanho da órbita de uma estrela dupla, e o seu período orbital, pode-se deduzir as massas das estrelas no sistema binário. De fato, pode-se usar a terceira lei de Kepler na forma revisada por Newton para estimar a massa de nossa Galáxia e de outras galáxias.
Exemplo 1
Qual é a massa do Sol? Sabemos que a Terra orbita o Sol em 1 ano. Podemos usar a relação
Exemplo 2:
Deimos, o menor dos 2 satélites de Marte, tem período sideral de 1,262 dias e uma distância média ao centro de Marte de 23500 km. Qual a massa de Marte?
Podemos resolver este problema de diversas maneiras. Aqui vamos mostrar algumas delas.
Desprezando a massa de Deimos e da Lua frente às massas de seus respectivos planetas, podemos escrever:
e K = (PL)2/(aL)3
Então:
PL = 27, 32 dias
PD = 1, 262 dias
aL = 384 000 km
aD = 23 500 km
Temos:
PD = (1, 262/27, 32) meses = 4, 62×10-2 meses
aD = (23500/384000) dTL = 6, 1×10-2 dTL
G = 4 (dTL)3/(M meses2) = 1 (M meses2)/(dTL)3
Temos:
Calculando diretamente a massa de Marte em massas solares (M).
e KMa = (PD)2/(aD)3
Então:
P = 365, 25 dias
PD = 1, 262 dias
a = 1, 5×108 km = 1 UA
aD = 2, 35×104 km
Temos:
PD = (1, 262/365, 25) anos = 3, 46×10-3 anos
aD = (2, 35×104/1, 5×108) UA = 1, 57×10-4 UA
G = 4 UA3/(M ano2) 4/G = 1 (M ano2)/UA3
Temos:
Escrevendo todos os dados em unidades do sistema internacional:
PD = 1, 262 dias = 1, 09×105 s
aD = 23 500 km = 2, 35×105 m
G = 6, 67×10-11 m3/(kg s2)
Temos:
Exemplo 3: Duas estrelas idênticas ao Sol giram uma em torno da outra a uma distância de 0,1 UA. Qual o período de revolução das estrelas?
Christiaan Huygens (1629-1695), na foto ao lado, que também construía seus telescópios, descobriu em 1655 o satélite Titan de Saturno, e que as "extensões laterais" de Saturno descobertas por Galileo em 1610 eram na verdade anéis ( De Saturni Luna Observatio Nova, 1656 e Sistema Saturnia, 1659). Em 1656 inventou o relógio de pêndulo, e o patenteou no ano seguinte. Em 1673 publicou o Oscillatorium Horologium, no qual explicou o movimento do pêndulo e descreveu a força centrípeta.
Em sua próprias palavras, Newton, como citado no prefácio do catálogo dos Portsmouth Papers, descreve como utilizou as Leis de Kepler para derivar a gravitação universal. "In the year 1665, I began to think of gravity extending to the orb of the Moon, and having found out how to estimate the force with which [a] globe revolving within a sphere presses the surface of the sphere, from Kepler's Rule of the periodical times being in a sesquialterate proportion of their distances from the centers of their orbs I deduced that the forces which keep the Planets in their orbs must [be] reciprocally as the squares of their distances from the centers about which they revolve: and thereby compared the force requisite to keep the Moon in her orb with the force of gravity at the surface of the earth, and found them answer pretty nearly."
Em 1668 Newton construiu um telescópio refletor, usado atualmente em todos os observatórios profissionais, com um espelho curvo ao invés de uma lente, usadas nos telescópios refratores de Galileo e Kepler. O telescópio de Galileo, construído em 1609 era composto de uma lente convexa e uma lenta côncava. Kepler, no livro Diopitrice, publicado em 1611, explicou que seria melhor construir um telescópio com duas lentes convexas, como se usa atualmente. A explicação de Newton da decomposição da luz branca, mostrando que a luz branca é a combinação de luz de cores diferentes, cada uma com seu indice de refração, é a base da espectroscopia.
Leis de Kepler Generalizadas
Astronomia e Astrofísica
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