Por volta do século XVIII vários astrônomos já haviam observado,
entre as estrelas, a presença de corpos extensos e
difusos, aos quais denominaram "nebulosas". Hoje sabemos que diferentes
tipos de objetos estavam agrupados sob esse termo, a maioria pertencendo
à nossa própria Galáxia: nuvens de gás iluminadas por estrelas
dentro delas, cascas de gás ejectadas por estrelas em estágio final
de evolução estelar, aglomerados de estrelas. Mas algumas nebulosas -
as nebulosas espirais - eram galáxias individuais, como a
nossa Via Láctea.
M86=S0 M91=SBb M92=Irr
Immanuel Kant (1724-1804),
o grande filósofo alemão, influenciado pelo astrônomo
Thomas Wright (1711-1786), foi o
primeiro a propor, por volta de 1755, que algumas nebulosas
poderiam ser sistemas estelares totalmente comparáveis à nossa
Galáxia.
Citando Kant: "[A] analogia [das nebulosas] com o sistema estelar em que
vivemos... está em perfeita concordância com o conceito de que esses
objetos elípticos são simplesmente universos [ilha], em outras
palavras, Vias Lácteas ...".
Essa idéia ficou conhecia como a "hipótese dos universos-ilha".
No entanto, as especulações cosmológicas de Kant não foram bem aceitas
na época, de forma que a natureza das nebulosas permaneceu assunto
de controvérsia.
Até 1908,
cerca de 15 000 nebulosas haviam sido catalogadas e descritas.
Algumas haviam sido corretamente identificadas
como aglomerados estelares, e outras como nebulosas gasosas. A maioria,
porém, permanecia com natureza inexplicada.
O problema maior era que a distância a elas não era conhecida, portanto
não era possível saber se elas pertenciam à nossa Galáxia ou não.
Shapley
Curtis
Dois dos maiores protagonistas nessa controvérsia foram
Harlow Shapley
(1885-1972), do Mount Wilson Observatory, e
Heber
Doust Curtis (1872-1942), do
Lick Observatory, ambos nos Estados Unidos. Shapley defendia que
as nebulosas espirais eram objetos da nossa Galáxia, e Curtis
defendia a idéia oposta, de que eram objetos extragalácticos.
A discussão culminou num famoso debate em abril de 1920, frente
à Academia Nacional de Ciências. Mas o debate não resolveu
a questão.
Somente em 1923 Edwin Powell Hubble (1889-1953) proporcionou a evidência
definitiva para considerar as "nebulosas espirais" como galáxias
independentes, ao identificar uma
variável Cefeida na "nebulosa" de
Andrômeda (M31).
Montagem
da foto da galáxia Andrômeda, M31,
que tem B=3,4, declinação de +41° e está
a 2,2 milhões de anos-luz de nós, 190'×60', vr=-300 km/s, z=-0.001,
com a imagem da Lua na mesma escala, mas a Lua é 1,5 milhão de vezes mais
brilhante (15,5 magnitudes). A Lua não passa próxima
da posição da galáxia no céu. A galáxia
M 110, sua satélite, está na parte inferior.
©Adam Block e Tim Puckett.
O primeiro registro conhecido da galáxia é do ano 905 d.C.,
pelo astrônomo persa Abd Al-Rahman Al Sufi (903-986).
A partir da relação conhecida entre período e
luminosidade das Cefeidas da nossa Galáxia,
e do brilho aparente das Cefeidas
de Andrômeda, Hubble pode calcular a distância
entre esta e a Via Láctea, obtendo um valor de 2,2
milhões de anos-luz.
Isso situava Andrômeda bem além dos limites da nossa Galáxia, que
tem 100 mil anos-luz de diâmetro. Ficou assim
provado que Andrômeda era um sistema estelar independente.
Uma cefeida na galáxia IC 4182,
(m-M) = 28.36 ± 0.09, d=4.7 Mpc,
observada pelo Telescópio Espacial Hubble
Em 1951, o astrônomo alemão Wilhelm Heinrich Walter Baade (1893-1960), trabalhando com os grandes telescópios de Mount Wilson e o 5 metros do Observatório Palomar, nos Estados Unidos,
pode medir a distância de centenas de galáxias fora do Grupo Local,
mostrando que a Via Láctea e o Grupo Local são objetos normais em um Universo muito maior, sem
qualquer posição de destaque
(Galaxies - Present Day Problems,
Publications of the Observatory of Michigan, Vol. 10, p. 7).
As galáxias diferem bastante entre si, mas a grande maioria
têm formas mais ou menos regulares quando observadas em projeção
contra o céu,
e se enquadram em duas classes gerais: espirais e elípticas.
Algumas galáxias não têm forma definida, e são chamadas
irregulares.
Atualmente se sabe que as galáxias nascem nas regiões de maior condensação
da matéria escura. A distribuição destas condensações é aleatória.
Se há assimetria na distribuição das condensações em uma região do espaço,
a força de maré produzida pela assimetria gera momentum angular na nuvem,
e uma galáxia espiral se forma. Se a distribuição local é simétrica,
não haverá momentum angular líquido, e
uma galáxia elíptica se forma.
Um dos primeiros e mais simples esquemas de classificação de galáxias,
que é usado até hoje, aparece no livro de 1936 de Edwin Hubble,
The Realm of the Nebulae,
baseado no esquema proposto por
John Henry Reynolds (1874-1949) em 1920 (Photometric measures of the nuclei of some typical spiral nebulae, Monthly Notices of the Royal Astronomical Society, 80, 746).
O esquema de Hubble consiste de três sequências principais de
classificação:
elípticas, espirais e espirais barradas. Nesse esquema,
as galáxias
irregulares formam uma quarta classe de objetos.
Esquema de Hubble para a classificação de galáxias.
As galáxias espirais, quando vistas de frente, apresentam uma clara estrutura
espiral. Andrômeda (M 31) e a nossa própria Galáxia são espirais típicas. Elas
possuem um núcleo, um disco, um halo, e braços espirais. As galáxias
espirais apresentam diferenças entre si principalmente quanto ao tamanho do
núcleo e ao grau de desenvolvimento dos braços espirais. Assim, elas
são subdivididas nas categorias Sa, Sb e Sc, de acordo
com o grau de desenvolvimento e enrolamento dos braços espirais
e com o tamanho do núcleo comparado com o do disco
a | núcleo maior, braços pequenos e bem enrolados |
b | núcleo e braços intermediários |
c | núcleo menor, braços grandes e mais abertos |
Por exemplo, uma galáxia Sa é uma espiral com núcleo
grande e braços espirais pequenos, bem enrolados, de difícil resolução.
Fotos de galáxias obtidas por Jim Wray, no McDonald Observatory.
Existem algumas galáxias que têm núcleo, disco e halo,
mas não têm traços de estrutura espiral. Hubble classificou essas
galáxias como S0, e elas são às vezes chamadas lenticulares.
As galáxias espirais e lenticulares juntas formam o conjunto das galáxias
discoidais.
Mais ou menos metade de todas as galáxias discoidais apresentam uma
estrutura em forma de barra atravessando o núcleo. Elas são
chamadas barradas e, na classificação de
Hubble elas são identificadas pelas iniciais SB. As
galáxias barradas também
se subdividem nas categoria SB0, SBa, SBb, e SBc.
Nas espirais barradas, os braços
normalmente partem das extremidades da barra. O fenômeno de
formação da barra ainda não é bem compreendido, mas acredita-se que
a barra
seja a resposta do sistema a um tipo de perturbação gravitacional
periódica (como uma galáxia companheira), ou simplesmente a
consequência de uma assimetria na distribuição de massa no disco da
galáxia. Alguns astrônomos também acreditam que a barra seja
pelo menos em parte responsável pela formação da estrutura espiral,
assim como por outros fenômenos evolutivos em galáxias.
Normalmente se observa, nos braços das galáxias espirais, o material
interestelar. Ali também estão presentes as nebulosas gasosas,
poeira, e estrelas jovens, incluindo as super-gigantes luminosas. Os aglomerados
estelares abertos podem ser vistos nos braços das espirais mais próximas
e os aglomerados globulares no halo. A população estelar típica das
galáxias espirais está formada por estrelas jovens e velhas.
As galáxias espirais têm diâmetros que variam de 20 mil anos-luz
até mais de 100 mil anos-luz. Estima-se que suas massas variam de
10 bilhões a 10 trilhões de vezes a massa do Sol. Nossa Galáxia e
M 31 são ambas espirais grandes e massivas.
M83
NGC1365
Exemplos de galáxias espirais e espirais barradas.
As galáxias elípticas apresentam forma esférica ou elipsoidal,
e não têm estrutura espiral. Têm pouco gás, pouca poeira e
poucas estrelas jovens. Elas se parecem ao núcleo e halo das
galáxias espirais.
As galáxias elípticas são chamadas
de En, onde n=10(a-b)/a, sendo a o semi-eixo maior e b o
semi-eixo menor.
Hubble subdividiu as elípticas em classes de E0 a E7, de acordo
com o seu grau de achatamento. Imagine-se olhando um prato circular
de frente: essa é a aparência de uma galáxia E0. Agora vá
inclinando o prato de forma que ele pareça cada vez mais elíptico
e menos circular: esse achatamento gradativo representa a sequência
de E0 a E7. Note que Hubble baseou sua classificação na aparência
da galáxia, não na sua verdadeira forma. Por exemplo, uma galáxia
E0 tanto pode ser uma elíptica realmente esférica quanto
pode ser uma elíptica mais achatada vista de frente, já
uma E7 tem que ser uma elíptica achatada vista de perfil. Porém
nenhuma elíptica jamais vai aparecer tão achatada quanto uma
espiral vista de perfil.
As galáxias elípticas variam muito de tamanho, desde super-gigantes
até anãs. As maiores elípticas têm diâmetros
de milhões de anos-luz, ao passo que as menores têm somente poucos
milhares de anos-luz em diâmetro. As elípticas gigantes, que
têm massas de até 10 trilhões de massas solares, são
raras, mas as elípticas anãs são o tipo mais
comum de galáxias.
A galáxia elíptica gigante M 87, também chamada de Virgo A, a uma distância de 53 milhões de anos-luz,
com seu jato relativístico no infravermelho com 20"×2", correspodendo a 5 mil anos-luz.
Hubble classificou como galáxias irregulares aquelas que não tem
qualquer simetria circular ou rotacional, apresentando uma estrutura
caótica ou irregular.
Muitas irregulares parecem ter atividade de formação estelar
relativamente intensa, com aparência dominada por estrelas jovens
brilhantes e nuvens de gás ionizado distribuídas irregularmente. Em
contraste, observações na linha de 21 cm, que revela a distribuição do
gás hidrogênio, mostra a existência de um disco de gás similar
ao das galáxias espirais. As galáxias irregulares também lembram
as espirais no seu conteúdo estelar, que inclui estrelas de população
I e II (jovens e velhas).
Os dois exemplos mais conhecidos de galáxias irregulares são a Grande e a
Pequena Nuvens de Magalhães, as galáxias vizinhas mais próximas da
Via Láctea, visíveis a olho nu no Hemisfério Sul. Foram
identificadas pelo navegador português Fernão de Magalhães
(1480-1521), em 1519,
mas incluídas em 964 no
Livro de Estrelas Fixas,
de Abd-al-Rahman Al Sufi. A Grande Nuvem, com diâmetro aparente de 650'×550',
V=0,1,
tem uma barra, embora não tenha braços espirais. Aparentemente ela orbita
a Via Láctea, com velocidade
de 387 km/s.
Nela está presente o complexo 30 Doradus, com o
aglomerado R136, um dos
maiores e mais luminosos agrupamentos de gás e estrelas super-gigantes
conhecido em qualquer galáxia. A Supernova 1987A ocorreu perto de 30 Doradus.
A massa da Grande Nuvem é da ordem de 6 bilhões de massas solares,
e sua distância da ordem de 176 mil anos-luz.
A Pequena Nuvem de Magalhães, com 280'×160', V=2,3, v=302 km/s, está a 210 mil anos-luz.
A Grande Nuvem de Magalhães, uma galáxia irregular.
A mancha vermelha à esquerda é a região de
formação estelar gigante
30 Doradus.
Foto por Wei-Hao Wang.
A Pequena Nuvem é bastante alongada e menos massiva do que a Grande
Nuvem. Aparentemente é o resultado de uma colisão com a Grande
Nuvem acontecida há uns 200 milhões de anos atrás.
Foto das galáxias irregulares
Grande Nuvem de Magalhães e
Pequena Nuvem de Magalhães,
obtida por Wei-Hao Wang.
Propriedade |
Espirais |
Elípticas |
Irregulares |
Massa (M⊙)
|
109 a 1012
|
105 a 1013
|
108 a 1011
|
Diâmetro (kpc)> |
5 - 30 |
1 - 1000 |
1 - 10 |
Luminosidade (L⊙)
|
108 a 1011
|
106 a 1012 |
107 a 2 × 109 |
População estelar |
Velha e jovem |
Velha |
Velha e jovem |
Tipo espectral |
A a K |
G a K |
A a F |
Gás |
Bastante |
Muito pouco |
Bastante |
Poeira |
Bastante |
Muito pouca |
Varia |
Cor |
Azulada no disco |
Amarelada |
Azulada |
|
Amarelada no bojo |
|
|
Estrelas mais velhas |
1010 anos |
1010 anos |
1010 anos |
Estrelas mais jovens |
Recentes |
1010 anos |
Recentes |
Principais características dos diferentes tipos de galáxias
As galáxias elípticas foram formadas de nuvens com baixo momentum
angular, enquanto as espirais de nuvens com alto momentum angular.
Como a rotação inibe a formação estelar pois dificulta a condensação da
nuvem, as estrelas se formam mais lentamente nas galáxias espirais,
permitindo que o gás perdure e a formação estelar se estenda até o
presente.
Assim como a massa de uma estrela é a sua característica física
mais importante, também nas galáxias a massa tem um papel crucial,
não apenas em sua evolução como sistemas individuais,
mas na evolução do próprio Universo. Por exemplo, da quantidade
de massa das galáxias depende a densidade de matéria visível do Universo.
A melhor maneira de medir a massa é
a partir das velocidades das estrelas devido à atração gravitacional
entre elas. Em galáxias elípticas, as velocidades medidas são
velocidades médias, pois os movimentos das estrelas nesses sistemas
têm componentes de mesma magnitude nas três direções, e todas
seguem órbitas bastante elípticas.
As massas das galáxias elípticas podem ser determinadas a partir
do Teorema do Virial,
segundo o qual num sistema estacionário
(cujas propriedades não variam no tempo), a soma da energia potencial
gravitacional das partículas e o dobro de sua energia
cinética, é nula, ou seja:
onde
é a energia potencial gravitacional e
é a energia cinética.
Podemos considerar uma galáxia como um sistema estacionário
(pois ela não está nem se contraindo nem se expandindo), cujas
partículas
são as estrelas.
A energia cinética das estrelas na galáxia pode ser escrita como:
onde M
é a massa total da galáxia e v
é a velocidade média das
estrelas, medida pelo alargamento das linhas espectrais
1.
A energia potencial gravitacional é
onde R
é um raio médio da galáxia que pode ser estimado a partir
da distribuição de luz.
Combinando as três equações acima
achamos que
Esse mesmo método pode ser usado também para calcular as massas de
aglomerados de galáxias, assumindo que eles são estacionários.
Nesse caso, consideraremos cada galáxia como uma partícula
do sistema. A energia cinética pode ser calculada pelos deslocamentos
das linhas espectrais, e a energia potencial gravitacional pela
separação
média das galáxias do aglomerado.
As galáxias espirais têm grande parte das estrelas
confinadas ao plano do
disco, com órbitas quase circulares, e velocidades que dependem
da distância ao centro.
Curva de rotação para a galáxia espiral NGC3198.
Em galáxias espirais, nas quais o movimento circular das estrelas
no disco é dominante sobre o movimento desordenado das estrelas do bojo,
a massa pode ser determinada através da
curva de rotação, v(R), que é um gráfico da velocidade
de rotação em função da distância galactocêntrica.
As velocidades de rotação em cada ponto são obtidas medindo
o
deslocamento Doppler das linhas espectrais.
Assumindo que a maior parte da massa da galáxia está no bojo
interno, e que portanto o movimento rotacional das estrelas no disco
é determinado pela massa do bojo, podemos determinar essa massa
através da igualdade da força gravitacional
com a força centrífuga,
da mesma maneira como determinamos
a massa da nossa Galáxia.
Chamando M(R) a massa interna ao raio R,
temos que
Nas partes externas de muitas espirais, a velocidade v(R)
não depende mais de R, ou
seja, v(r)
permanece constante, de forma que quanto maior o raio
R, maior
a massa M(R)
interna a ele. Como as partes externas das galáxias
são muito fracas, a partir de um certo valor de R
a luminosidade
não aumenta mais, mas de acordo com a curva de rotação a massa
continua crescendo. Isso significa que uma grande parte da massa das
galáxias deve ser não luminosa, e é conhecido como o
problema da massa escura.
Qual a causa de existirem diferentes tipos de galáxia? Quando os primeiros
estudos sobre galáxias iniciaram, o fato de as galáxia elípticas terem
a maioria das estrelas mais velhas do que as galáxias espirais levou os astrônomos
a pensarem que as diferenças se deviam à evolução, ou seja, as
galáxias quando jovens seriam espirais e mais tarde evoluiriam
a elípticas.
Entretanto, se determinarmos as idades das estrelas mais velhas em sistemas
espirais e em sistemas elípticos, encontramos que em todos os tipos de galáxias,
as estrelas mais velhas são igualmente velhas, em torno de 11 bilhões de anos.
Portanto, todas as galáxias que vemos começaram a se formar mais ou
menos na mesma época na história do Universo, e têm a
mesma idade. A diferença é que nas espirais e nas irregulares
sobrou gás suficiente para
continuar o processo de formação estelar até a época
presente.
Imagem de longa exposição do telescópio
Espacial Hubble, mostrando que todos os tipos de galáxias
já eram encontradas no passado remoto.
Uma diferença importante entre elípticas e espirais é a velocidade
com que ocorre a formação estelar. Nas elípticas a
formação estelar aconteceu de forma mais rápida no início de sua
evolução, talvez porque tenham se originado de nuvens protogalácticas
mais densas do que as espirais.
Da mesma forma, nas regiões centrais das espirais, onde a densidade
era maior, a formação estelar foi rápida, mas
nos braços se procedeu mais lentamente, de forma que o
gás não foi consumido todo de uma vez, e a formação estelar pode
continuar.
Outro fator importante é a quantidade de momentum
angular (quantidade de rotação) da nuvem de gás primordial: quanto mais momentum
angular a nuvem tinha inicialmente, mais achatada será a forma
final. Levando isso em conta, as elípticas teriam se formado
de nuvens que tinham pouca rotação quando começaram a se
contrair, ao passo que as espirais teriam se formado do
colapso de nuvens com mais rotação.
Qual a causa de existirem diferentes tipos de galáxia?
As estrelas mais velhas das galáxias espirais são tão velhas quanto as estrelas mais velhas das galáxias elípticas e, portanto, os dois tipos devem ter sido formados à mesma época, quando o Universo tinha cerca de 1 bilhão de anos.
Por alguma razão - possivelmente a quantidade de momemtum angular induzida na nuvem pela distribuição aleatória
das condensações na radiação de fundo do Universo, refletida na distribuição da matéria escura - as galáxias elípticas formaram todas as suas estrelas em um breve surto, quando elas eram muito jovens, consumindo a maior parte de seu gás, enquanto que nas galáxias espirais a formação estelar ocorreu de forma mais lenta desde o início, preservando parte do gás e continuando a geração de novas estrelas por bilhões de anos.
Galáxias em formação no Universo jovem. O objeto marcado com o número 2 está ampliado no canto superior esquerdo da figura, mostrando tratar-se de duas pequenas galáxias se juntando para formar uma galáxia maior. O deslocamento para o vermelho (
redshift) desse objeto é
z=Δλ/λ=4,88, indicando que sua idade é menos da metade da idade atual do Universo.
[Crédito: NASA, ESA e N. Pirzkal STScI/ESA) et al.]
Na segunda metade do século passado surgiram as duas teorias principais sobre formação e evolução de galáxias: o modelo monolítico propõe que as galáxias se formaram e evoluíram isoladamente pelo colapso de grandes nuvens de gás; o modelo hierárquico propõe que as galáxias se formaram e evoluiram através de encontros sucessivos de nuvens menores.
Ambas as teorias assumem que as nuvens de gás que deram origem às galaxias se formaram pela condensação de matéria em certas regiões do espaço devido às flutuações de densidade existentes no Universo primordial.
No modelo monolítico, a forma das galáxias
seria determinada pela rapidez com que aconteceu a
formação estelar (taxa de formação estelar) na nuvem em contração, e pela quantidade de rotação (momentum angular) da nuvem. Em nuvens de baixa rotação, a taxa de formação estelar era alta, praticamente todo o gás foi consumido rapidamente e a galáxia resultante é uma elíptica, de forma ovalada e com pouco gás para dar origem a novas estrelas. Em nuvens com alta rotação, a taxa de formação estelar é baixa, parte do gás se deposita em um disco, como consequencia da rotação da nuvem. A galáxia resultante então é uma espiral, com gás suficiente para manter formação estelar até a época atual.
No modelo hierárquico, as
pequenas nuvens de gás em contração dariam origem preferencialmente a sistemas puramente discoidais, que evoluiriam a galáxias espirais, se sofressem poucas interações entre si, ou a elípticas, no caso de os encontros e fusões serem muito frequentes. Neste modelo, o
o fator determinante para a evolução da galáxia é o meio em que ela se encontra.
Nos últimos 20 anos, o uso de telescópios modernos, que permitem estudar galáxias a grandes distâncias, têm fornecido vários vínculos observacionais para o estudo da evolução das galáxias.
Observando galáxias remotas, os astrônomos constataram que que no passado
havia um grande número de galáxias pequenas, irregulares e com uma taxa muito alta de formação estelar, que não existem no Universo atual, sugerindo que muitas se fundiram posteriormente dando origem a galáxias maiores,
como a galáxia indicada pelo número 2 na figura acima.
Outra observação importante é a de que galáxias espirais são raras em aglomerados densos de galáxias, onde as galáxias elípticas predominam.
Essas observações em geral favorecem o modelo hierárquico, pois evidenciam que as estruturas menores se formaram antes das maiores, e que o meio tem influência sobre a evolução das galáxias, pois interações e colisões podem alterar suas morfologias.
No entanto, existem contradições, como as indicações de que todas as estrelas de elipticas em uma dada distância (redshift) têm idades similares, o que seriam melhor explicado pelo colapso monolítico, e não por mergers sucessivos.
Portanto, no momento não existe uma
teoria que dê conta de todos os aspectos observacionais para explicar como as galáxias se formaram e evoluíram até o presente, muito menos uma teoria que possa prever sua evolução futura.
Provavelmente acontece tanto a formação monolítica, em galáxias isoladas, quanto a hierárquica, em aglomerados de galáxias.
Olhando-se fotografias do céu, nota-se facilmente que as galáxias
tendem a existir em grupos.
Foto do Aglomerado de Hydra e desenho do Grupo Local
Jan Hendrik Oort (1900-1992) demonstrou que as galáxias
não estão distribuídas aleatoriamente no espaço,
mas concentram-se em grupos, como o Grupo Local,
que contém cerca de
80 galáxias, e grande cúmulos, como o
grande cúmulo de Virgem, que contém 2500 galáxias.
Oort demonstrou também que as 2500 galáxias
do cúmulo de Virgem, movendo-se a 750 km/s,
são insuficientes por um fator de 100 para manter
o cúmulo
gravitacionalmente estável, indicando novamente que
a matéria escura deve ser dominante.
Recentemente a detecção pela emissão
de raio-X dos gás quente no meio entre as galáxias
dos cúmulos indica que um terço da matéria
originalmente chamada de escura é na verdade gás
quente. Mas pelo menos dois terços da matéria
escura não pode ser bariônica, ou a
quantidade de hélio e deutério do Universo
teria que ser diferente da observada, como explicitado
no capítulo de Cosmologia.
Imagem de lentes gravitacionais no cúmulo
Abell 2218, fotografado pelo Telescópio Espacial Hubble.
O Grupo Local
O grupo de galáxias ao qual a Via Láctea pertence chama-se
Grupo Local.
É um aglomerado pequeno, com
cerca de 80 membros,
que ocupa um volume de 3 milhões de anos-luz na sua
dimensão maior. A Via Láctea e Andrômeda (M31) são de longe os dois
membros mais massivos, estando um em cada borda do aglomerado.
A terceira galáxia mais luminosa do grupo é outra
espiral, M33, que tem 20% da luminosidade da Via Láctea e
13% da luminosidade de Andrômeda.
Entre os demais membros
existem duas elípticas, M32, satélite de M31, e M110, e várias irregulares e
galáxias anãs.
As Nuvens de Magalhães (Grande Nuvem de Magalhães e Pequena Nuvem de
Magalhães), galáxias irregulares satélites
da nossa Galáxia , também fazem parte
desse grupo.
A Grande Nuvem de Magalhães, localizada a 150 mil anos-luz (46 kpc) da Via
Láctea, era
até 1994 considerada a galáxia mais próxima2.
Desde 2003 foram descobertas
várias galáxias anãs na região do Grupo Local, entre as quais
a Anã do Cão Maior, uma anã
localizada a apenas 25 mil anos-luz de distãncia,
na direção do centro galáctico.
Essa é atualmente a galáxia mais próxima, e só não foi detectada
antes devido a estar numa
região de grande extinção e ter brilho superficial muito baixo.
No total, o grupo local contém pelo menos 3 galáxias espirais, 1 elíptica,
15 galáxias irregulares de diferentes tamanhos, e 2 anãs elípticas,
e 59 anãs esferoidais.
A maioria das galáxias se encontram orbitando a Via Láctea ou Andrômeda, dando
uma aparência binária ao Grupo Local.
Outros aglomerados de galáxias
Fotografia de parte do cúmulo de Virgem.
O cúmulo contém mais de 2500 galáxias e cobre mais
de 5° no céu. A galáxia elíptica brilhante
M84 é a que está logo acima do centro e M86 é a
elíptica brilhante à direita.
Outros aglomerados de galáxias variam de grupos pequenos a aglomerados
compactos. O aglomerado de Fornax, relativamente próximo, apresenta
um conjunto variado de tipos de galáxias, embora tenha poucos membros.
O grande aglomerado de
Coma cobre 20 milhões de anos-luz no espaço (2 graus de diâmetro)
e contém milhares de membros. O aglomerado de
Virgem tem no
centro as galáxias elípticas gigantes M84 e M86,
situadas a uma distância de 34 milhões de anos-luz. Ele
também cobre 20 milhões de anos-luz no espaço e
é um dos
mais espetaculares do céu. Suas quatro galáxias mais brilhantes são
galáxias elípticas gigantes, embora a maior parte das galáxias
membros visíveis sejam espirais.
Aglomerado de Coma: quase todo objeto visto nesta foto é uma
galáxia do aglomerado.
O aglomerado de Virgem é tão massivo
e tão próximo que influencia gravitacionalmente o Grupo Local,
fazendo com que nos movamos na sua direção.
A galáxia elíptica gigante M87, também do aglomerado,
contém um buraco-negro massivo em seu centro,
com massa de 1,3 bilhões de massas solares.
A galáxia elíptica gigante M87,
do aglomerado de Virgem,
a 53 milhões de anos-luz da Terra, fotografada pelo Hubble
Space Telescope. A galáxia está muito distante mesmo
para o telescópio espacial detectar estrelas individuais.
As formas puntuais são cúmulos (aglomerados) estelares. O jato
de elétrons relativísticos é acelerado
pelo buraco negro massivo central.
A denominação M das galáxias vem de Charles Messier (1730-1817),
um buscador de cometas, que em 1781 registrou a posição
de 103 objetos extensos (nebulosas) para não confundí-los
com cometas. A imagem da direita mostra o buraco negro central em luz polarizada, obtida
pelo Event Horizon Telescope.
Imagem do centro do aglomerado de galáxias do
Fornax, a 15 Mpc de distância e RA=3h 36m, DEC=-35°37m,
obtida pela VISTA/ESO, cobrindo 1°×1,5° do céu.
No centro do aglomerado está a galáxia elíptica tipo E1 NGC 1399. Abaixo desta
a E1 NGC 1404 e a esquerda desta a irregular NGC 1427.
Superaglomerados
Depois de descobrir que as galáxias faziam partes de aglomerados
ou cúmulos de galáxias, os astrônomos se perguntaram
se existiam estruturas ainda maiores no Universo.
Em 1953, o astrônomo francês Gérard de Vaucouleurs (1918-1995)
demonstrou que os aglomerados de galáxias também formam superaglomerados.
O superaglomerado mais bem estudado é o Superaglomerado Local, ou Superaglomerado de Virgem,
porque fazemos parte dele. Ele tem um diâmetro de aproximadamente
100 milhões de anos-luz e aproximadamente
1015
massas solares, contendo o Grupo Local
de galáxias, e o Aglomerado de Virgem.
Estrutura em Grande Escala
Entre estes superaglomerados observam-se grandes regiões
sem galáxias, mas onde foram detectadas nuvens de
hidrogênio neutro. Margaret J. Geller (1947-)
e John Peter Huchra (1948-2010),
do Center for Astrophysics da Universidade de Harvard,
e os brasileiros
Luiz Alberto Nicolaci da Costa (1950-)
e Paulo Sergio de Souza
Pellegrini (1949-), do Observatório Nacional, estudaram
a distribuição de galáxias em grande escala,
mostrando que as galáxias não estão distribuídas
uniformemente, mas formam filamentos no espaço.
Um exemplo destes filamentos é a Grande Parede (Great Wall),
um concentração de galáxias
que se estende por cerca de 500 milhões de anos-luz de
comprimento, 200 milhões de anos-luz de altura, mas
somente 15 milhões de anos-luz de espessura. Esta
estrutura está a uma distância média de 250 milhões
de anos-luz da nossa Galáxia, e tem uma massa da ordem
de 2×1016 M⊙.
Entre estes filamentos estão regiões, de diâmetros
de 150 milhões de anos-luz, quase sem galáxias. A estrutura
lembra um esponja. Atualmente se sabe por simulações cosmológicas que cerca de 50% da massa do Universo está nos filamentos, e que o acréscimo de massa
na galáxias e nos aglomerados de galáxias ocorre principalmente pelos filamentos (Marius Cautun, Rien van de Weygaert, Bernard J. T. Jones; Carlos S. Frenk, 2014, Monthly Notices of the Royal Astronomical Society, 441, 2923).
O Sloan Digital Sky Survey continua este mapeamento.
Distribuição de galáxias
no espaço, conforme observações de Margaret Geller e John Huchra.
Cada ponto nesta figura representa uma das 9325 galáxias,
na direção do pólos sul e norte da nossa galáxia.
Nossa galáxia está no centro da figura, onde as duas
partes se unem; as regiões não mapeadas são
obscurecidas pelo disco da nossa galáxia.
A Grande Parede é a banda de galáxias
que se estende de lado a lado quase no meio da parte superior
da figura.
Distribuição espacial de 100 mil galáxias próximas determidado pela Busca de Galáxias 6df, na Austrália.
Cada galáxia é representada por um ponto. Nossa Galáxia está no centro da distribuição e a faixa onde não
foram observadas galáxias indica o disco de nossa Galáxia, que obscurece a busca
(Chris Fluke,
Centre for Astrophysics and Supercomputing,
Swinburne University of Technology).
Galáxias em aglomerados estão relativamente próximas umas das
outras, isto é,
as separações entre elas não são grandes
comparadas com seus tamanhos
(o espaçamento entre as galáxias é da ordem
de apenas cem vezes o seu tamanho,
enquanto a
distância média entre
as estrelas é da ordem de 1 parsec = 22 milhões de diâmetros solares.
Isso significa que provavelmente essas
galáxias estão em frequentes interações umas com as outras.
Imagem do Telescópio Espacial Hubble da galáxia do girino (
tadpole).
Nos catálogos existentes de galáxias peculiares há muitos exemplos de
pares de galáxias
com aparências estranhas que parecem
estar interagindo
uma com a outra. Podemos entender muitos desses casos
em termos de efeitos
de maré gravitacional, que tendem a esticar os objetos na direção de aproximação.
Os efeitos de marés entre pares de galáxias que
passam perto uma da outra foram estudados pelos irmãos estonianos
Alar (1937-) e Juri (1937-) Toomre (1972, Galactic Bridges and Tails, Astrophysical
Journal, 178, 623;
1973,
Violent tides between galaxies, Scientific American, 229, 38).
Eles assinalaram três propriedades fundamentais
nas interações por maré:
- a força de maré é proporcional
ao inverso do cubo da separação entre as galáxias;
- as forças de
maré sobre um objeto tende a alongá-lo;
assim, os bojos de maré
se formam no lado mais próximo e no lado mais distante de cada
galáxia em relação à outra;
- as galáxias perturbadas geralmente
giravam antes do encontro de maré e a distribuição posterior de seu material
deve portanto refletir a conservação de seu momentum angular.
Como um primeiro resultado, é de se esperar que uma interacção de maré
entre duas galáxias puxe matéria de uma em direção à outra. Essas
"pontes" de matéria realmente se formam entre as galáxias interagentes,
mas também se formam caudas de matéria que saem de cada galáxia na
direção oposta à outra. Devido à rotação das galáxias, as caudas
e pontes podem assumir formas esquisitas, especialmente se levarmos em conta
o fato de que os movimentos orbitais das galáxias estarão
em um plano que forma um ângulo qualquer com a nossa linha de visada.
Os irmãos Toomre têm conseguido calcular modelos de galáxias
interagentes que simulam a aparência de diversos pares de galáxias
com formas estranhas, vistas realmente no céu.
NGC 4038/9: um exemplo clássico de
galáxias em colisão.
Modelo calculado por Alar Toomre para uma colisão
frontal entre duas galáxias, formando uma galáxia com anel,
e uma foto obtida com Telescópio Espacial Hubble da galáxia da roda.
Imagem em 21 cm de M 81, a mais brilhante, M 82 e NGC 3077, e um modelo de interação de sua formação,
obtidos por Min Yun, do National Radio Astronomy Observatory.
Se as galáxias colidem com velocidade relativamente baixa, elas podem
evitar a disrupção por maré. Os cálculos mostram que algumas partes das
galáxias que colidem podem ser ejectadas, enquanto as massas principais
se convertem em sistemas binários (ou múltiplos) com pequenas órbitas
ao redor uma da outra. O sistema binário recentemente formado encontra-se
envolto em um envelope de estrelas e possivelmente matéria interestelar, e
eventualmente pode se fundir formando uma única galáxia. Esse processo
é especialmente provável nas colisões entre os membros mais
massivos de um aglomerado de galáxias, que tendem a ter velocidades
relativamente mais baixas. A fusão pode converter galáxias
espirais em elípticas.
O termo fusão de galáxias é usado em referência
à interacção entre galáxias
de tamanhos semelhantes.
Quando uma galáxia muito grande interage com
outra muito menor, as forças de maré da galáxia
maior podem ser
tão fortes a ponto de destruir a estrutura da galáxia menor
cujos pedaços serão então incorporados pela
maior. Astrônomos chamam este processo
de canibalismo galáctico.
Observações recentes mostram que galáxias elípticas
gigantes, conhecidas
como galáxias cD, têm
propriedades peculiares, tais como: halos muito extensos (até 3 milhões
de anos luz em diâmetro), núcleos múltiplos, e localização em centros
de aglomerados. Essas propriedades sugerem que essas galáxias
se formaram
por canibalismo galáctico.
Muitas vezes, o encontro entre as galáxias não é forte o suficiente
para resultar em fusão. Numa interacção mais fraca, ambas as galáxias
sobrevivem, mas o efeito de maré pode fazer surgirem caudas de matéria,
em um ou
ambos lados das duas galáxias.
Muitas galáxias com aparências estranhas, que não se enquadram
em nenhuma das categorias de Hubble, mostram evidências de interações
recentes. Simulações por computador mostram que sua forma pode ser
reproduzida por interacção de maré, em colisões.
Um resultado recente de simulações em computador é a possibilidade
de que colisões possam transformar galáxias espirais em elípticas:
a interacção pode retirar gás,
estrelas e poeira das duas galáxias,
transformando-as em uma elíptica. A colisão pode também direcionar
grande quantidade de gás ao centro da elíptica resultante,
propiciando a criação de um buraco negro.
Imagem no ótico do quasar
3C 279,
obtida com o
Canada-France-Hawaii Telescope
de 3,6 m de diâmetro.
O quasar
tem magnitude aparente V=17,75 e magnitude absoluta estimada
de MV=-24,6 (uma estrela O5V tem MV=-5).
O nome vem do fato de ser o objeto
número 279 do terceiro catálogo
de rádio fontes de Cambridge. Pelo módulo de distância,
r=2,951 Gpc.
Os quasares, cujo nome vem de Quasi Stellar Radio Sources, foram
descobertos em 1960,
como fortes fontes de rádio, com aparência ótica aproximadamente
estelar, azuladas.
3C 48 foi a primeira fonte do Third Cambridge Catalogue of
Radio Sources identificada óticamente por
Allan Rex Sandage (1926-2010) e Thomas Matthews in 1960,
através de interferometria
(1963, Optical Identification of 3c 48, 3c 196, and 3c 286 with
Stellar Objects, Astrophysical Journal, 138, 30).
Muito provavelmente
são galáxias com buracos negros
fortemente ativos no centro,
como proposto em 1964 por
Edwin Ernest Salpeter (1925-2008)
e Yakov Borisovich Zel'dovich (1914-1989).
São objetos
extremamente compactos e luminosos, emitindo
mais do que centenas de galáxias juntas,
isto é, até um trilhão de vezes mais do que o Sol.
São fortes fontes
de rádio, variáveis, e seus espectros apresentam linhas
largas com
efeito Doppler indicando que eles estão
se afastando a velocidades muito altas, de até alguns
décimos da velocidade da luz. O primeiro a ter seu espectro identificado
foi 3C 273,
pelo astronomo holandêz Maarten Schmidt (1929-2022), em 1963
(3C 273: a star-like object with large red-shift, Nature, 197, 1040).
Maarten foi orientando de Oort, em Leiden, em 1956.
Este quasar tem magnitude aparente
V=12,85, mas magnitude absoluta estimada de MV=-26,9.
Pelo módulo de distância, r=891 Mpc.
O espectro do quasar 3C 273
no ótico e infravermelho
próximo é dominado pelas linhas do hidrogênio
em emissão e deslocadas para o vermelho (redshifted)
por efeito Doppler. Por exemplo, a linha Hβ
está deslocada de 4861Å para 5630Å.
Modelo de um quasar, com um buraco negro no centro, um disco
de acresção em volta deste, e jatos polares.
No modelo mais aceito, o buraco negro central acreta gás e estrelas
da sua vizinhança, emitindo intensa radiação
enquanto a matéria se acelera, espiralando no disco
de acresção, e parte da matéria
é ejetada por conservação
de momento angular.
Na aceleração da matéria, a energia liberada é da ordem de
0,1 mc2, comparada com
0,007 mc2 na reação nuclear mais energética conhecida,
a transformação de 4 átomos de hidrogênio em um átomo de hélio.
Quando o buraco negro consumir toda matéria circundante,
ele cessará de emitir.
No disco de acreção, as regiões internas giram mais rapidamente do que as regiões externas (terceira lei de Kepler), causando a fricção entre as partículas do gás. A fricção esquenta o gás e faz as
partículas perderem energia e espiralarem em direção ao buraco negro.
À medida que espirala, a matéria é acelerada a velocidades supersônicas
e aquecida a milhões de graus, emitindo enormes
quantidades de radiação. O espiralamento causa o acúmulo de matéria na borda interna do disco, aumentando a pressão dos
gases nesse local.
Como meio de se livrar do excesso de pressão, o disco libera parte do gás, que é ejetado na direção
onde a resistência a seu escape é mais baixa, ou seja, perpendicularmente ao disco. O campo magnético do gás (que por ser
muito quente está ionizado) ajuda a colimar a matéria liberada,
formando os jatos estreitos que são observados em grande
parte das galáxias ativas.
Imagens obtidas por John Norris Bahcall (1934-2005) e Mike Disney com o
Telescópio Espacial Hubble, da NASA, mostrando que os quasares ocorrem
tanto em galáxias normais quanto em galáxias perturbadas.
Por exemplo, PG 0052+251 (canto esquerdo superior),
a 1,4 bilhões de anos-luz da Terra,
reside em uma galáxia espiral normal;
PHL 909, a 1,5 bilhões de anos-luz
(canto inferior esquerdo),
em uma galáxia elíptica;
IRAS04505-2958, PG 1212+008, Q0316-346
e IRAS13218+0552, em vários tipos de galáxias em interação.
O modelo mais aceito é que os quasares são
buracos negros com massas de 1 milhão a 1 bilhão
de vezes a massa do Sol localizados no núcleo de galáxias
ativas.
No artigo Formation of massive black holes via collisions and accretion,
Dominik R. G. Schleicher et al., 2019,
Proceedings of Binational AAA-SOCHIAS Meeting
demonstram que a proposta de colapso direto de uma nuvem para formar um buraco negro supermassivo não funciona, pois a nuvem se fragmenta. Portanto os buracos negros supermassivos
encontrados nos quasares e núcleos de galáxias ativas vêm de colapso de estrelas de alta massa, com subsequente coalescência e acresção.
Isto está de acordo com as coalescências de pares buracos negros estelares medidas em ondas gravitacionais pelo LIGO-Virgo-KAGRA
(The LIGO Scientific Collaboration and The Virgo Collaboration, GWTC-1: A Gravitational-Wave Transient Catalog of Compact Binary Mergers Observed by
LIGO and Virgo during the First and Second Observing Runs, Physical Review X 9, 031040, 2019), e recentes detecções, totalizando 90 detecções..
Um dos quasares mais distantes
tem deslocamento para o vermelho (redshift)
z=5,0 e foi descoberto pelo Sloan Digital Sky Survey em 1998. Abaixo estão sua foto e seu espectro.
Daniel Stern (JPL),
Hyron Spinrad (Berkeley), Peter Eisenhardt (JPL),
Andrew Bunker (Cambridge), Steve Dawson (Berkeley), Adam Stanford (Davis, IGPP)
e Richard Elson (Florida) descobriram o quasar RD300 com z=5,5, utilizando
o telescópio de 4 m do KPNO, o 5 m do Palomar e os 10 m dos Kecks.
Para os quasares precisamos usar a fórmula relativística do efeito
Doppler para medir a velocidade v através do deslocamento do comprimento de onda observado para o vermelho z:
onde Δλ=λobservado-λrepouso,
θ
é o ângulo entre o vetor velocidade e a linha de visada e c a velocidade da luz no vácuo.
Região do espectro do objeto que
é observado no ótico aqui na Terra.
Como os deslocamentos para o vermelho (redshifts) dos quasares
são em geral grandes,
,
precisamos utilizar a fórmula do deslocamente Doppler relativístico
para calcular sua velocidade. Por exemplo, um quasar que tem deslocamento
Doppler
indicaria uma velocidade de 5 vezes
a velocidade da luz, se utilizarmos a fórmula do deslocamento Doppler
não relativístico,
.
Mas o deslocamento Doppler relativístico é dado por:
de modo que a velocidade é dada por:
Mas o record desde 2007 era do CFHQS J2329-0301,
deslocamento para o vermelho de z=6,43, descoberto
por Chris Willott, da Universidade de Ottawa, no Canadá e
colaboradores, com o telescópio
Canada-France-Hawaii e confirmado com o
Gemini.
Emmanuel Momjian, Christopher L. Carilli e Ian D. McGreer,
publicaram o artigo de 2008,
Very Large Array and Very Long Baseline Array Observations of the Highest Redshift Radio-Loud QSO J1427+3312, Astronomical Journal, 136, 344, com z=6,12.
Em 2011, o quasar mais distante, ULAS J112001.48+064124.3, era o descoberto por Daniel J. Mortlock,
Stephen J. Warren e colaboradores com dados do Very Large Telescope do European
Southern Observatory (ESO), publicado no artigo
A luminous quasar at a redshift of z=7.085,
na Nature, 474, 616.
O recorde foi quebrado pela galáxia UDFj-39546284, uma galáxia compacta
de estrelas azuis, a uma distância de 13,2 bilhões de anos-luz,
formada 480 milhões de anos depois do Big Bang, detectada pelo
Telescópio Espacial Hubble, com z≃10,
no Campo Ultra Profundo do Telescópio Espacial Hubble
(HST Ultra Deep Field), mas não confirmada espectroscopicamente.
A galáxia
UDFy-38135539, com z=8,6, foi confirmada espectroscopicamente por
Matt Lehnert e colaboradores.
Em 2012, foi descoberta uma galáxia com redshift z=9,6, com o Telescópio Espacial Infravermelho Spitzer e o Telescópio Espacial Hubble. A luz saiu desta galáxia
13,2 bilhões de anos atrás.
Em 2016 a galáxia GN-z11, mostrada na imagem à direita, descoberta com o Telescópio Espacial Hubble no campo GOODS-N
(Great Observatories Origins Deep Survey), com z=11,1, tornou-se a mais distante observada. Ela só foi detectada no infravermelho, em 1,6 μm e 4,5 μm e pela amplificação
por lente gravitacional. O Universo tinha 407 milhões de anos
quando sua luz foi emitida. Considerando a expansão acelerada no Universo, esta galáxia deve estar a 32,1 bilhões de anos-luz de distância.
O objeto mais distante observado, HD1, com z=13,3, indicando que foi formado 13,5 bilhões de anos atrás, foi descoberto por
Fabio Pacucci, Pratika Dayal, Yuichi Harikane, Akio K. Inoue, e Abraham Loeb, do Harvard & Smithsonian Center for Astrophysics, e publicado no Monthly Notices of the Royal Astronomical Society: Letters, em
7 de abril de 2022. A grande quantidade de luz ultravioleta que emite vem ou de uma região com altíssima taxa de formação
de estrelas, mais de 100 estrelas por ano, ou de um buraco negro supermassivo ativo, ou de uma combinação dos dois. As observações foram feitas com múltiplos telescópios, incluindo o Telescópio Espacial Spitzer Space, o telescópio Subaru no Hawaii, e o Atacama Large Millimeter/submillimeter Array (ALMA), no Chile. Esta detecção ainda precisa de confirmação espectroscópica.
Mais de 200 000 quasares foram descobertos com o
Sloan Digital Sky Survey,
mostrando a
variação do espectro com z.
Superposição da imagem ótica (em azul)
com a imagem em rádio (em vermelho) da rádio-galáxia
3C 219, que está
a 500 Mpc. Enquanto a galáxia tem 100 mil anos-luz de diâmetro,
os jatos cobrem 1 milhão de anos-luz.
À direita, o jato em rádio em torno da galáxia
espiral 0313-192 (NASA/NRAO).
Radiogaláxias são galáxias que têm uma emissão
em rádio muito intensa, em
torno de 1033 a 1038 watts,
lembrando que a luminosidade do Sol é de 3,83 × 1026 watts.
Observadas no ótico, geralmente têm a aparência
de uma galáxia
elíptica grande, mas, observadas em rádio, apresentam
uma estrutura dupla, com dois lóbulos emissores em rádio,
localizados um em cada lado da galáxia elíptica, e a distâncias
que chegam a 6 Mpc de seu centro. Outra característica
das rádiogaláxias
é a presença de um jato de matéria saindo da
fonte central, localizada no núcleo da galáxia.
A explicação
mais plausível para os jatos é a mesma dos quasares:
partículas carregadas se movendo em um campo magnético.
Como a trajetória seguida pelas partículas é helicoidal,
seu movimento é acelerado e elas irradiam energia.
Uma das radiogaláxias mais brilhantes é Centauro A, localizada
na constelação do Centauro, no Hemisfério Sul celeste.
Imagem da galáxia peculiar Centauro A,
mostrando um grande anel de
massa em torno da galáxia.
Galáxias Seyfert
Foto da galáxia Seyfert Circinus,
com dois anéis, um de diâmetro de 1300 anos-luz e outro de 260
anos-luz, obtida com o Telescópio Espacial Hubble.
As galáxias Seyfert, descritas por Carl Keenan
Seyfert (1911 - 1960) em 1943
("Nuclear Emission in Spiral Nebulae", The Astrophysical Journal, 97, 28),
são galáxias espirais com núcleos pontuais muito luminosos,
em torno de 1036
a 1038 Watts,
contribuindo
com aproximadamente metade da luminosidade
total da galáxia no ótico. O espectro nuclear apresenta linhas
de emissão alargadas, de elementos pesados altamente ionizados, e um
contínuo não-térmico muito intenso no ultravioleta,
cuja estrutura é explicada como devida
a movimentos internos muito rápidos no núcleo.
Geralmente, a emissão dessas galáxias sofre variabilidade em períodos
relativamente curtos, o que leva a concluir que a fonte emissora
deve ser compacta, como um buraco negro.
Estima-se que aproximadamente 1% de todas as galáxias espirais são
Seyfert.
Objetos BL Lacertae (BL Lac)
Os objetos BL Lacertae, também chamados blazares,
constituem uma outra classe de
objetos exóticos, que apresentam um núcleo muito
brilhante e compacto. Têm como principais características
a extraordinária variabilidade em curtos períodos de tempo,orientadas de forma que a linha de visada
fica na direção do jato.
Atualmente a maioria dos astrônomos aceita que as diversas formas de galáxias
com núcleo ativo, como galáxias Seyfert, quasares e blazares, tenham sua fonte
de energia originada no mesmo processo básico: gás sendo acelerado por um buraco
negro central, liberando energia potencial na forma de radiação.
Comparação entre diferentes tipos de galáxias ativas
Propriedade |
Radiogaláxias |
Galáxias Seyfert |
Objetos BL Lac |
Quasares |
Espectro contínuo |
não-estelar |
não-estelar |
não-estelar |
não-estelar |
Linhas de emissão |
largas e estreitas |
largas e estreitas |
nenhuma ou fracas |
largas e estreitas |
Forma no ótico |
elíptica |
espiral |
incerta |
estelar |
Forma em rádio |
jatos e lóbulos |
emissão fraca |
emissão fraca |
jatos e lóbulos |
O catálogo de galáxias ativas
dos franceses Marie-Paule Véron-Cetty e Philippe Véron,
Quasars and Active Galactic Nuclei (12th Ed.),
publicado em 2006,
contém 85 221 quasares (definidos como objetos mais brilhantes que
magnitude absoluta B=-23), 21 737 AGNs (Active Galactic Nuclei,
definidos como objetos
mais fracos que magnitude absoluta B=-23) e
1122 blazares.
Em 2004
Scott M. Croom et al.
(Monthly Notices of the Royal Astronomical Society, 349, 1397)
publicou o catálogo de espectros de 40 220 quasares
observados no hemisfério sul pelo 2dF Galaxy Redshift Survey.
Em setembro de 2022, o catálogo MILLIQUAS lista 833 732 quasares e galáxias de núcleos ativos (AGN).
957 galáxias encontradas por observações em HI 21 cm na direção do plano da Via Láctea.
As maiores dúvidas sobre as galáxias concentram-se em
como elas se formaram, qual é a composição de
sua
massa escura - que pode corresponder a 85-90% de
sua massa total, e porque algumas galáxias parecem ter
um buraco negro central que libera uma quantidade
colossal de energia quando matéria é acretada.
1Alargamento espectral acontece porque, com estão em movimento
aleatório, algumas produzirão um deslocamento das linhas espectrais
para o azul e outras para o vermelho. Esses dois deslocamentos, juntos,
resultam em um alargamento das linhas.
2Considerando apenas
as galáxias grandes e luminosas como a Via Láctea, Andrômeda é a mais próxima,
mas incluindo todos os tipos de galáxias, as Nuvens de Magalhães são mais próximas.
Variação da forma das galáxias com z=Δλ/λ.
Medidas da radiação de HI (21 cm)
[
Judd D. Bowman, Alan E. E. Rogers, Raul A. Monsalve, Thomas J. Mozdzen & Nivedita Mahesh, 2018,
An absorption profile centred at 78 megahertz in the sky-averaged spectrum]
indicam que a reionização, causada pelas primeiras estrelas, ocorreu
antes de 180 milhões de anos
depois do Big Bang, mas estas medidas são contestadas pelas medidas da Radiação do Fundo do Universo pelo
satélite Planck, que indicam que ela ocorreu aos 380 milhões de anos.
As primeiras estrelas nascem depois que a quantidade de matéria supere a antimatéria,
que os primeiros núcleos atômicos se formem, depois que os primeiros átomos neutros se formem e depois que a força gravitacional causem o colapso
destes átomos neutros. Como a gravidade também viaja à velocidade da luz, como demonstrado pela detecção das ondas gravitacionais,
as escalas maiores, de galáxias, só colapsam depois das escalas menores, de estrelas.
Os dois maiores buracos negros medidos até agora são o de 40 bilhões de massas solares no centro da galáxia gigante elíptica
Holmberg 15A, a cerca de 700 milhões de anos-luz, no aglomerado de galáxias Abell 85, e o recordista, com 66 bilhões
de massas solares, no quasar TON 618.
Cosmologia
Astronomia e Astrofísica
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Modificada em 5 abr 2023