Glóbulos de Bok absorvendo luz no centro da
nebulosa de emissão e região de formação
estelar NGC 281. Imagem obtida com a
Advanced Camera for Surveys do Telescópio Espacial Hubble
em outubro de 2005. A nebulosa está localizada a 9500 anos-luz de
nós, na direção da constelação da
Cassiopéia.
As nuvens moleculares são condensações no gás atômico largamente distribuído pela galáxia. Estas condensações só sobrevivem por cerca de 107 anos, e estão constantemente sendo formadas e destruídas. As propriedades médias da região central das nuvens moleculares são:
e portanto a formação estelar tem que se dar com a
formação de um disco de acresção; a viscosidade
no disco permite
a acresção de massa ao centro, enquanto parte da massa é
acelerada para as partes externas, pela conservação
do momentum angular; ao mesmo tempo,
o disco é truncado no centro pelo
campo magnético, e matéria ionizada
tem que ser expelida por ejeção magneto-centrífuga,
possivelmente na forma de jatos bipolares,
por conservação do campo magnético,
como na imagem ao lado do objeto Herbig-Haro 30
[George Howard Herbig (1920-2013)
(1950, Astrophysical
Journal, 111, 11)
e Guillermo Haro (1913-1988) (1952, Astrophysical Journal, 115, 572)],
obtida com o Telescópio Espacial Hubble.
As nebulosas Herbig-Haro correspondem aos jatos colimados,
e suas (proto) estrelas têm discos circum-estelares e
são mais jovens que 100 milhões de anos.
Richard B. Larson (2002, Monthly Notices of the Royal Astronomical Society, 332, 155) demonstra que as interações por força de maré entre os fragmentos que se formam são possivelmente a maneira mais eficiente de possibilitar a transferência do excesso de momentum angular e permitir o colapso. A fração de binárias aumenta com a massa das estrelas (Hans Zinnecker & Harold W. Yorke, 2007, Annual Review of Astronomy & Astrophysics, 45, 481), alcançando 70% para estrelas tipo O (Hugues Sana et al. 2012, Binary interaction dominates the evolution of massive stars, Science 337, 444).
Como primeiro passo no cálculo, vamos derivar o critério de Jeans, calculado em 1902 por Sir James Hopwood Jeans (1877-1946), calculando o colapso gravitacional ignorando tanto o campo magnético quanto a rotação (Philosophical Transactions of the Royal Society, Série A, 199,1).
Consideremos um gás homogêneo e infinito em repouso,
com densidade e temperatura constante em todos os pontos.
Primeiro, precisamos reconhecer que esta afirmação
é inconsistente, pois por razões de simetria, o
potencial gravitacional
também deve ser constante,
mas a equação de Poisson [Siméon Denis Poisson (1781-1840)]:
O gás deve obedecer, além da equação de Poisson (1.106), à equação hidrodinâmica do movimento de Euler [Leonhard Euler (1707-1783)]:
Perturbamos agora o equilíbrio
![]() |
(1.114) |
| (1.115) | |
![]() |
(1.116) |
Lembramos que se A é a matrix
No limite
, a relação de dispersão
(1.117) resulta em
, que corresponde a ondas de som isotérmicas.
Neste caso, a gravidade não é importante, e qualquer compressão
é restaurada pelo aumento de pressão, com a perturbação
viajando pelo meio com a velocidade do som. Este caso novamente não leva à
formação estelar.
O caso que leva ao colapso da nuvem é quando
, o autovalor
é da
forma
, onde
é real, já que definimos soluções proporcionais a exp[i(kx+wt)]. Portanto
existem perturbações proporcionais a
que crescem exponencialmente com o tempo, de modo
que não há equilíbrio, e a nuvem colapsa.
Definimos portanto um
número de onda característico
A condição de instabilidade
é chamada de critério de Jeans.
Para escalas maiores do que o comprimento de Jeans, a gravidade
sobrepassa a pressão, e a nuvem colapsa.
Para uma equação de gás ideal (1.109),
, e o comprimento de Jeans (1.118) se torna
Uma derivação muito mais simplística, com o mesmo resultado, é considerar que quando o tempo de queda livre é menor do que o tempo de cruzamento do som, a gravidade é maior do que a pressão do gás e há colapso.
Simon Glover (2013, The First Galaxies, Astrophysics and Space Science Library, 396, 103) deriva que o gás começa a esfriar nas sobredensidades bariônicas que se desenvolvem nos halos de matéria escura no Universo em expansão acima da massa crítica
e ocorre fragmentação
é da ordem de Primeiro a formação de hidrogênio molecular - e depois a emissão de radiação infravermelha oriunda da colisão do hidrogênio molecular com átomos de hidrogênio - faz com que a temperatura nas partes mais densas caia para 200 a 300K. Este é o momento da separação da matéria escura e da matéria comum. Como as partículas de matéria escura não emitem radiação, elas não se condensam e permanecem espalhadas na nuvem primordial. Nas estrelas de população I e II, os grãos de poeira e moléculas com elementos pesados resfriam as nuvens com eficiência, até temperaturas de cerca de 10K. Mas nas estrelas de população III este resfriamento por moléculas pesadas e poeira não ocorre. Como a massa de Jeans (1.122) é proporcional à temperatura elevada a 3/2 e inversamente proporcional à raiz quadrada da sua pressão, as primeiras nuvens formadoras de estrelas tiveram massa de Jeans quase 1000 vezes maior do que as atuais.
Acredita-se que as estrelas se formem por fragmentação
da nuvem colapsante, com os fragmentos tornando-se instáveis
após o início do colapso da nuvem, e colapsando mais
rápido do que a nuvem como um todo.
Mas será que a fragmentação continua até corpos
como planetas?
Se a nuvem colapsar isotermicamente,
. Entretanto, se
o colapso for adiabático, isto é, sem perda de energia,
Portanto, se colapso adiabático (nuvem opaca):
e não ocorre fragmentação
O astrônomo inglês Sir Martin John Rees (1942-) publicou em 1976, no Monthly Notices of the Royal Astronomical Society, 176, 483, uma demonstração de que a fragmentação de nuvens moleculares ocorre até uma massa mínima da ordem de 0,03 MSol, estudando o colapso aproximadamente, sem levar em conta os detalhes de como a energia é irradiada durante o colapso. Veremos a seguir uma derivação simplística.
A menor anã marrom não binária encontrada nas Pleiades tem massa de 0,05 MSol, de acordo com Martin R. Cossburn, Simon T. Hodgkin, Richard F. Jameson e David J. Pinfield no artigo Discovery of the lowest mass brown dwarf in the Pleiades, publicado em 1997 no Monthly Notices of the Royal Astronomical Society, 288, p. 23. Gilles Chabrier (2002), no artigo The Galactic Disk Mass Budget. II. Brown Dwarf Mass Function and Density, publicado em 2002 no Astrophysical Journal, 567, p. 304, estima que a densidade de massa das anãs marrons corresponde a aproximadamente 10% da densidade de massa das estrelas na nossa Galáxia.
As estrelas com massa inicial abaixo de 0,08 MSol tornam-se degeneradas
antes do início da ignição do hidrogênio e, portanto, nunca queimam o hidrogênio.
Para as estrelas com massa maior do que 13 MJúpiter, os elementos
frágeis D e Li são destruídos. Abaixo de 13 MJúpiter nenhuma reação
nuclear ocorre. Lembre-se que MJúpiter
(1/1000)MSol.
O tempo característico de queda livre do fragmento
é
e a energia total a ser irradiada é
da ordem da energia gravitacional
(ver Reserva de Energia de uma Estrela), onde
e
são a
massa e o raio do fragmento.
A quantidade de energia por unidade de tempo a ser irradiada para manter o
fragmento com a mesma temperatura é da ordem de
Para
K e
, obtemos
,
ou seja, a fragmentação termina para fragmentos um
pouco menores que a massa solar.
As observações indicam que a
Função Inicial de Massa (IMF) dada pela
relação de Salpeter
[Edwin Ernest Salpeter (1925-2008)]
O esfriamento das nuvens interestelares atuais se dá principalmente
através da excitação colisional dos metais para níveis
proibidos, isto é, que se desexcitam principalmente por
emissão de fótons. Estes fótons têm níveis
de energia que não podem ser absorvidos normalmente,
e a energia é perdida da nuvem. Nas regiões HII as linhas
de O2+ dominam,
no gás neutro as linhas de
C+
e
Fe+,
e no gás molecular as linhas de
H2.
A formação de moléculas torna o gás mais denso porque o número
de partículas é reduzido.
Mas a formação de
H2
se dá principalmente por
catalização de grãos de poeira, produzidos pelas
estrelas de População I e II e retornados ao meio interestelar
por ventos e explosões.
Quanto mais metálico o gás, mais rápido ele esfria.
Sem metais (Pop. III) a fragmentação não ocorre porque o esfriamento é pequeno,
e a contração adiabática
(Richard B. Larson).
Raffaella Schneider, Kazuyuki Omukai, Simone Bianchi & Rosa Valiante
publicaram no Monthly Notices of the Royal Astronomical
Society, de 28 out 2011 uma estimativa de que
a fragmentação abaixo de 10 massas solares só ocorre
quando a quantidade de grãos de poeira excede 2,6-6,3×10-9
da quantidade de gás.
Nas grandes nuvens primordiais, halos de matéria escura, com temperatura virial da ordem de 8 000 K, o esfriamento inicial se deu por emissão Lyman-α
de hidrogênio atômico, enquanto nas nuvens menores, por H.
As simulações de colapso de
Thomas H. Greif, Volker Springel, Simon D. M. White, Simon C.O. Glover, Paul C. Clark, Rowan J. Smith, Ralf S. Klessen & Volker Bromm, publicadas em
2011 no Astrophysical Journal, 737, 75, entretanto, propõem que a
fragmentação é recursiva e pode chegar até uma massa solar mesmo na Pop. III.
Richard B.
Larson publicou em 1969, no Monthly
Notices of the Royal Astronomical Society, 145, 271, cálculos
do colapso de uma nuvem originalmente homogênea com uma massa
solar.
As observações indicam que existe uma grande variedade
de condições iniciais na formação de estrelas, já que
existe uma grande dispersão nas velocidades de rotação das
estrelas pré-sequência principal
(Anita
Krishnamurthi,
Marc H. Pinsonneault, S. Barnes & S. Sofia, 1997, Astrophysical Journal,
480, 303).
*diâmetro do Sol=1,4 ×106 km, sistema solar=1,5 ×1010 km.

Imagem da estrela jovem, tipo T Tauri, HL Tau, e da nuvem molecular
Ophiuchi.
As estrelas T Tauri foram descobertas em 1945, têm mais lítio que o Sol
no espectro, indicando que o núcleo ainda não atingiu
1 milhão K, têm linhas cromosféricas, são variáveis irregulares,
e mais da metade têm disco, observados pelo excesso de infra-vermelho
e emissão milimétrica.
Ophiuchi,
altamente obscurecida, é
provavelmente a nuvem molecular e região de formação estelar
mais próxima (500 anos-luz). No ótico tem um raio de cerca de 5 pc e contêm
várias regiões HII.
Outra nuvem molecular é Sagittarius B-2
(Imagem composta
IR e submilimétrico
do centro da Galáxia e Sag B-2, do ESO/NASA)
localizada cerca de 200 pc do centro de nossa Galáxia e com uma
massa estimada em 3-10 milhões de massas solares,
uma das maiores nuvens moleculares da Via Láctea. Como a
extinção visual é de cerca de 25 magnitudes, esta
região só pode ser observada no rádio e infra-vermelho.
A molécula de CO é particularmente importante no estudo das
nuvens moleculares porque pode ser observada em 6 cm e
acredita-se que a razão CO/H2=10-4
seja a mesma em todas nuvens moleculares. Por dificuldades
instrumentais, a molécula
H2 só foi observada próximo do Sol, no
ultravioleta e no infra-vermelho, enquanto a molécula de
CO foi mapeada por toda a Via Láctea e mesmo em
galáxias próximas.
Diagrama Hertzsprung-Russel com o caminho evolucionário
para proto-estrelas de 1 e 60 massa solares. Os caminhos
começam no canto inferior direito, onde a radiação
emitida pelas nuvens é no infravermelho e, finalmente,
aproximam-se da seqüência principal de idade zero (ZAMS),
quando a proto-estrela finalmente atinge o equilíbrio
térmico e hidrostático. A proto-estrela de 60 MSol
ejeta parte do envelope, chegando à seqüência principal
com 17 MSol.
Os números indicam a idade da proto-estrela, em anos.
A linha tracejada indica o limite de
Hayashi (Immo Appenzeller e Walther M. Tscharnuter, 1974,
Astronomy & Astrophysics, 30, 423).
Günther Wuchterl & Werner M. Tscharnuter, publicaram no
Astronomy
& Astrophysics, 398, 1081, de 2003,
seus cálculos autoconsistentes de colapso protoestelar e pré-seqüência
principal, mostrando que seus modelos de estrelas de 2MSol
estão próximos dos cálculos anteriores, quando os efeitos
dinâmicos de acresção de massa tornam-se desprezíveis, mas que os modelos de
1MSol nunca tornam-se completamente convectivos e
são aproximadamente 1 milhão de anos mais velhos que os modelos
calculados assumindo equilíbrio hidrostático desde o início.
K.
,
e o subsequente aumento na densidade produz aumento adiabático
na temperatura.
,
temperatura central
K e massa de somente 0,01 MSol.
), se dissocia e como parte
da energia de contração é utilizada na dissociação,
o equilíbrio hidrostático não é mais mantido, e
a proto-estrela colapsa novamente.
e
K. Para um observador externo,
a nuvem continua como um objeto infra-vermelho enquanto
o envelope for opaco à radiação visível.

Diagramas HR com os
caminhos evolucionários para um modelo de duas massa solar (esquerda)
descendo a trajetória de Hayashi,
e um de 30 massas solares após a chegada a base da trajetória
de Hayashi.
durante esta descida, pois requer só 105K, reduzindo
a velocidade com que a estrela desce a trajetória. A maior
parte do 3He é primordial (do Big-Bang),
já que a abundância de 2D é muito pequena.
A acresção se dá através de um disco.
Evolução de uma pré-estrela do tipo solar
Estágio
Tempo aproximado até o próximo estágio (anos)
Tcentral (K)
Tsuperficial (K)
Densidade central (partículas/m3)
Diâmetro* (km)
Tipo de objeto
1
2 x 106
10
10
109
1014
Nuvem interestelar
2
3 x 104
100
10
1012
1012
Nuvem
3
105
10,000
100
1018
1010
Nuvem/Proto-estrela
4
106
1,000,000
3000
1024
108
Proto-estrela
5
107
5 000 000
4000
1028
107
Proto-estrela
6
3 × 107
10,000,000
4500
1031
2 ×106
Estrela
7
1010
15 000 000
6000
1032
1,5 × 106
Estrela na seqüência principal
Massa Tempo até ZAMS (MSol (anos) 30 10 mil 1 30 milhões 0,2 1 bilhão
Modelos de Pré-Sequência Principal de Pisa